Romaria em Minas denuncia impactos do Rodoanel em comunidades quilombolas

Caminhada será realizada em frente ao Cemitério dos Escravos, no domingo (22)

Ana Carolina Vasconcelos, Brasil de Fato

Em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, acontece no próximo domingo (22) a primeira “Romaria dos povos, das águas e do meio ambiente”. Com início às 8h, em frente ao Cemitério dos Escravos, os romeiros irão até a Capela do Rosário, no Quilombo de Pinhões, onde encerram a caminhada às 10h.

Organizada pelos coletivos Salve Santa Luzia e SOS Vargem das Flores, o objetivo da atividade é denunciar os riscos do Rodoanel Metropolitano, projeto de um megaempreendimento retomado há dois anos pelo governador Romeu Zema (Novo).

“As pessoas de todas as cidades impactadas deveriam ficar mais atentas. O Rodoanel, passando por elas, vai trazer muitas mudanças negativas”, diz Elisa Santana, participante do movimento Salve Santa Luzia.

Comunidades tradicionais e quilombolas

Tombado pelo município desde 2008, o Cemitério dos Escravos seria afetado pelo megaprojeto. Caso se concretize, a rodovia teria apenas 200 metros de distância do patrimônio material e imaterial de Santa Luzia.

Além disso, os movimentos populares enfatizam que o projeto irá impactar territórios dos povos quilombolas. Entre eles, os quilombos Manzo Ngunzo Kaiango, em Belo Horizonte; Nossa Senhora do Rosário de Justinópolis, em Ribeirão das Neves; Arturos, em Contagem; Mangueira, em Belo Horizonte e Pimentel, em Pedro Leopoldo.

Um dos organizadores da Romaria, Glaucon Durães da Silva Santos, contou ao Brasil de Fato MG que os romeiros farão uma peregrinação mística e reflexiva sobre os impactos do Rodoanel nas comunidades tradicionais e quilombolas.

“Os impactos vão desde o atravessamento do território das comunidades até a segregação das comunidades em relação a outras regiões dos municípios. O Rodoanel também pode incentivar a especulação imobiliária no entorno das comunidades e forçar uma urbanização”, afirma Glaucon.

Outra crítica ao projeto, levantada pelos romeiros, são as consequências do Rodoanel para o meio ambiente. Segundo eles, nascentes de rios e resquícios da Mata Atlântica serão afetados.

Zema flexibiliza proteção

Apesar do conjunto de impactos apresentados, os movimentos afirmam que o governo de Minas Gerais apresenta uma postura antidemocrática e anticientífica. Glaucon enfatiza que as comunidades participaram de Audiências Públicas sobre o tema, porém, nenhuma proposta foi acatada pela gestão de Zema (Novo).

“O que sinto é que o governo de Minas aplica aquela mesma ideologia de Bolsonaro: nenhum palmo de terra para preto, índio ou para a reforma agrária. Parece que tem ódio das populações tradicionais”, afirma Glaucon.

Uma resolução do governo Zema, publicada no dia 5 de abril, flexibilizou o direito à consulta prévia, livre e informada. Previsto na convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o tratado internacional prevê a adoção de protocolos para a realização de obras de infraestrutura próximas a comunidades tradicionais. 

Audiência debate tema

Solicitada pela deputada estadual Andréia de Jesus (PT), uma Audiência Pública debate o tema do Rodoanel nesta quarta-feira (18). Organizado pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o encontro será às 17h, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Edição: Larissa Costa

Imagem: Os romeiros irão até a Capela do Rosário, no Quilombo de Pinhões – Foto: Cedefes

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