Mais de um ano após rompimento de barragem no Maranhão, famílias seguem em condições precárias

Laudo aponta contaminação do solo e das águas de Aurizona em até mil vezes acima do permitido

Mariana Castro, Brasil de Fato

Em março de 2021, cerca de 4 mil moradores do distrito de Aurizona, no município de Godofredo Viana, no Maranhão, tiveram o abastecimento de água interrompimento em razão do rompimento de uma barragem do grupo canadense Equinox Gold, um dos maiores exploradores de ouro do mundo. Mais de um ano após o desastre, as famílias denunciam a precariedade de acesso à água potável, entregue em galões e carros pipa pela empresa, além de danos financeiros e ao meio ambiente.

Na época do rompimento, o grande volume de detritos atingiu o rio Tromaí e as lagoas Juiz de Fora e Cachimbo, que serviam para o abastecimento de água potável, recreação e pesca da população local, além de ter provocado a degradação de uma extensão de aproximadamente 30 mil metros quadrados de vegetação nativa e o rompimento de estradas na região.

Moradora de Aurizona e uma das atingidas pelo rompimento da barragem, Daiane Lima explica que, além do acesso a água potável, a contaminação do solo e das águas prejudica o sustento das famílias ribeirinhas que viviam da pesca.

“A nossa lagoa de Juiz de Fora, que era nossa estação de água, não servia só como fonte de água, mas também como fonte de alimento, porque muitas mães de família pescavam ali. Quando aconteceu esse rompimento, ele saiu devastando outras lagoas, a maré. Não só prejudicou na parte de água, mas também as canoas de pais de família que foram levadas, barcos, motores, redes. Pais de família ficaram sem seus meios de trabalho por conta desse rompimento”, explica.

Somente após intensas manifestações, em junho de 2021 a justiça determinou a comprovação do fornecimento de água potável por parte da empresa Equinox Gold até o restabelecimento total nas torneiras.  

“Eles distribuem água nas casas, água mineral, e passaram a colocar água em algumas caixas, na porta da rua, com um carro pipa. Para mim isso é humilhante, porque antes a gente abria a nossa torneira em qualquer horário do dia e tinha água em abundância, mas a gente ficou nesse decorrer de um ano nessa luta, dependendo de um carro pipa colocar água nas nossas casas, para a gente estar se humilhando, carregando na cabeça. E saber que a empresa Equinox Gold é uma empresa multimilionária e ter permitido isso acontecer com a gente, porque foi irresponsabilidade deles”, afirma Daiane.

Laudos técnicos apresentados pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em março de 2022 apontam contaminação com metais com potencial tóxico nas águas de Aurizona com estimativa de 100 a mil vezes acima do permitido, podendo causar problemas imediatos à saúde, como infecções cutâneas, coceiras e algumas outras doenças de pele, além de problemas neurológicos e respiratórios com a exposição crônica.

Dalila Calisto, coordenadora do MAB no estado do Maranhão, explica que o movimento segue acompanhando o caso e denuncia que, ao longo do ano, a empresa tem reduzido as garantias firmadas em acordo judicial às famílias, especialmente em relação ao fornecimento de água.

“A partir da luta, da reivindicação das famílias, é que a empresa Equinox Gold começou a garantir o acesso à distribuição de água, com galões de água mineral e até hoje esse abastecimento vem sendo feito, só que de forma precária. O problema persiste há mais de um ano, mas a empresa ao invés de ampliar e resolver essa questão, vem diminuindo a distribuição de água potável para a comunidade”.

Em nota, a Equinox Gold informa que cumpriu integralmente todos os compromissos estabelecidos para a assistência à população, como a recuperação de danos observados na estrutura local, especialmente estradas, assim como no completo provimento de água, com a construção de uma nova estação de tratamento.

Edição: Felipe Mendes

Imagem: Uma das barragens da Mineradora Equinox Gold se rompeu na comunidade de Aurizona, em Godofredo Viana, no dia 25 de março de 2021. Os rejeitos contaminaram o Rio Tromaí e deixaram 1500 pessoas sem acesso à água potável

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