Comissão Pastoral da Terra lança publicação de conflitos no Cerrado

Dados sobre conflitos no campo, massacres ao longo da história, e memória aos que dedicaram a vida em defesa do Cerrado compõem o livro que será lançado na terça-feira (28)

CPT

Após o lançamento da publicação anual sobre conflitos no campo da Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Articulação das CPT’s do Cerrado lançará, no próximo dia 28 de junho, às 19h30 (horário de Brasília), um livro sobre os conflitos e violências contra os povos e comunidades ao longo da história, relativos ao Cerrado. A publicação Conflitos, Massacres e Memória dos Lutadores e Lutadoras do Cerrado apresenta ao público análises e interpretações sobre os dados de conflitos no campo na região em períodos entre 1985 a 2021, registrados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduino (CEDOC-CPT) e elaborados, parte pelo Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense (LEMTO-UFF), e parte pelo Instituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos Sociais (IPDMS), da Universidade de Brasília (UnB). Apresenta, ainda, análises e memória a partir dos resgates da Comissão Nacional da Verdade e da Comissão Camponesa da Verdade, criada para esclarecer violações de direitos humanos no período de 1946 a 1988.

O lançamento ocorrerá na oportunidade do Encontro da Articulação das CPT’s do Cerrado, que acontece presencialmente em Hidrolândia/GO, de 27 a 29 de junho. O livro estará disponível nos formatos online e impresso, este último para venda a preço de custo, a partir do ato do lançamento, que também terá transmissão online pelo canal da CPT no Youtube e na página do Facebook.

Para o lançamento, serão convidados o autor e as autoras Carlos Walter Porto-Gonçalves, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Coordenador do LEMTO-UFF; Julia Nascimento Ladeira, geógrafa, pesquisadora do Eixo de Conflitos Agrários do LEMTO-UFF e militante do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto); Euzamara de Carvalho, mestra em Direitos Humanos pelo PPGIDH/UFG, assessora da CPT e membra da coordenação da pesquisa massacres no Campo na Nova República-CPT/IPDMS, Valéria Pereira Santos, coordenadora da Articulação das CPT’s do Cerrado; e Isolete Wichinieski, coordenadora nacional da CPT.

Os artigos publicados neste livro tecem análises sobre os conflitos no Cerrado e em suas Zonas de Transição, nesta publicação também chamado de Cerrado Ampliado, em diferentes sub-períodos. Estudos referentes ao período mais recente de 2003-2019 apontam que em 2011 a tendência das ocorrências passou a ser ascendente e, entre 2018 e 2019, primeiro ano do mandato do presidente Jair Bolsonaro, os ataques aos direitos daqueles que se encontram na terra tiveram um salto de 34% de ocorrências. No Cerrado Ampliado, em 2003, 65.722 famílias foram envolvidas em conflitos agrários, o que correspondeu a 55% do total de famílias envolvidas em todo o país. Esse número total também sofreu oscilações ao longo do período, chegando a 64.553 famílias em 2019. 

No “subperíodo 2” analisado (2009-2019), percebe-se o aumento expressivo de ações protagonizadas por mineradoras, que passaram de um total de duas para 116 (5.700% de crescimento). Além disso, as ações de grileiros também cresceram consideravelmente (225%) em relação ao subperíodo 1 (2003-2008). Em relação a 2020-2021, o avanço de fazendeiros, grileiros e empresários nessa região indica a alta conflitividade no chamado polígono Matopiba e a dinâmica de expansão/invasão do modo de produção/reprodução do capital na região. Entre as diferentes porções de Cerrado registradas, a Transição Cerrado–Caatinga é a  que apresentou crescimento nas ocorrências de conflito no período.

Também são analisados os conflitos que resultaram nos massacres registrados no Brasil entre 1985 e 2018, com destaque para o caso emblemático do Massacre de Colmeia, em 1986, na região do Baixo Araguaia, no Tocantins. Os dados aqui apresentados compõem o resultado parcial de uma pesquisa em curso, realizada pelo IPDM, em parceria com a CPT, com base nos dados do CEDOC, mas com recorte específico. 

A publicação traduz, ainda, as memórias de camponeses e camponesas vítimas de violência na luta pela terra e pela Reforma Agrária no Cerrado ao recorrer aos resgates da Comissão Nacional da Verdade e pela Comissão Camponesa da Verdade, criada para esclarecer violações de direitos humanos no período de 1946 a 1988. Resgata as violações de direitos humanos de camponeses do Cerrado principalmente durante o os anos da ditadura civil-militar, como o conflito em Tromba e Formoso (GO), entre 1970 e 1977, e no Bico do Papagaio (TO), em 1986, com a morte de Pe. Josimo Moraes Tavares, então coordenador da CPT regional Araguaia-Tocantins. 

Além da denúncia sobre os conflitos, a publicação faz memória às vidas dedicadas a intensas lutas por justiça e anuncia as existências e resistências de diversos povos embrenhados nos chãos dos Cerrados. São feitas homenagens a lutadoras e lutadores, com relatos de suas contribuições para que esta história não fosse apenas de sangue, dor e abandono.

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Lançamento Conflitos, Massacres e Memória das Lutadoras e Lutadores do Cerrado

Quando: 28 de junho (terça-feira), a partir das 19h30 (horário de Brasília).

Onde: Casa de retiro Oásis Capuchinho – Rua dos Capuchinhos n 12 Zona Rural, Hidrolândia/GO 

O PDF da publicação estará disponível no site da CPT: www.cptnacional.org.br e a transmissão da atividade poderá ser acompanhada pelas páginas da CPT no Facebook (@CPTNacional) e no Youtube (Comissão Pastoral da Terra CPT Nacional). 

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