Repórter do De Olho nos Ruralistas tem carro avariado e blogueiro bolsonarista ironiza

Oswaldo Eustáquio, conhecido pelas participações em atos antidemocráticos contra o STF, já apontou dedo na cara da jornalista Mariana Franco Ramos, após denúncia de homofobia; agora, diante dos danos, faz post em tom de ameaça

Por Alceu Luis Castilho e Bruno Stankevicius Bassi, em De Olho nos Ruralistas

“Oi lindeza, seja bem-vinda a Brasília. Seus amigos estão pela W3”, escreveu o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, em resposta a um post no Twitter da jornalista Mariana Franco Ramos. Repórter do De Olho nos Ruralistas e morando na capital federal há sete meses, ela acabara de relatar, na mesma rede social, que seu carro foi danificado.

“Como os danos foram na parte traseira do veículo, não sei precisar onde e exatamente quando aconteceu”, conta. “Eu passei por alguns lugares, como farmácia, café, mercado, e depois viajei para Hidrolândia, perto de Goiânia, na terça-feira (28)”. No automóvel, há um adesivo com os dizeres “13 Confirma”, o que costuma desagradar bolsonaristas, que já a xingaram algumas vezes.

O comentário de Eustáquio em sequência, porém, ligou o alerta. A repórter não segue, nem é seguida por ele. Também não mantém, há anos, qualquer tipo de contato. Mesmo assim, o blogueiro resolveu interagir. Em resposta a um post do perfil do observatório, informando que não aceitaríamos nada em tom de ameaça contra a profissional, escreveu:

— Estou dando Boas-vindas @deolhonoagro a minha colega do Paraná. A Mari foi minha colega de Sindijor no PR.  Me coloco a disposição! Sou amigo pessoal dos principais produtores de alimentos do Brasil, casado com uma mulher indígena. E sobre assédio, quem gostava de mim era ela.

Mariana registrou um boletim de ocorrência neste sábado (2), na Polícia Civil do Distrito Federal, e comunicou o ocorrido ao Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal (SindijorDF), ao Repórteres sem Fronteiras (RSF) e à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), para que fiquem cientes do caso.

EUSTÁQUIO PUBLICAVA TEXTOS HOMOFÓBICOS EM BLOG

Em 2016, ambos integravam a direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR), quando o jornalista publicou, em seu blog, um texto mentiroso e de teor homofóbico. “O grupo LGBT, liderado por Tony Reis e Jean Wyllys faz passeatas em que gays se masturbam utilizando o crucifixo”, dizia um dos trechos.

Reis presidia a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT) e Wyllys era deputado federal. Mariana defendeu a expulsão de Eustáquio do Sindicato. “Ele não gostou, levantou com o dedo em riste e veio na minha direção, mas foi contido pelos nossos colegas”, relembra.

Até então, Oswaldo Eustáquio se apresentava como um defensor dos direitos humanos e se colocava como representante da categoria em Paranaguá, no litoral. Chegou a participar de algumas atividades sindicais, até ser afastado. Sua esposa, Sandra Terena, é indígena e próxima à ex-ministra dos Direitos Humanos Damares Alves.

JORNALISTA FOI PRESO POR ATOS ANTIDEMOCRÁTICOS

Com a eleição de Jair Bolsonaro e a nomeação de Sandra para um cargo em Brasília, Eustáquio migrou de vez para a extrema-direita. Chegou a ser preso por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspeito de participar da organização de atos contra as instituições democráticas.

Autorizado a cumprir domiciliar após a primeira detenção, acabou preso novamente por descumprir medidas cautelares. Desrespeitou “proposital e reiteradamente” as ordens para não sair da cidade e para não usar as redes sociais. E continua desrespeitando. O perfil que ele utiliza hoje é um reserva, uma vez que o oficial foi banido a pedido da Justiça.

Mais recentemente, Eustáquio foi condenado a indenizar o PSOL em R$ 10 mil e o youtuber Felipe Neto em R$ 9,3 mil pelo crime de difamação. Afirmou, sem provas, que o influencer incentiva “a erotização de crianças e a pedofilia”. O blogueiro recorreu a uma vaquinha feita por outros apoiadores de Bolsonaro para cumprir a sentença.

Foto principal (Acervo Pessoal): carro de repórter do observatório foi avariado em Brasília.

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