O lançamento do livro será no dia 20 de julho na Universidade Federal do Maranhão, e será transmitido ao vivo nas redes do Cimi e de parceiros
O livro “Nas Águas da Resistência, Recontamos Nossas Histórias” traz memórias que marcam os 10 anos de caminhada da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão. Apresentamos neste livro textos elaborados por tecedores e tecedoras dos territórios que compõem a Teia no Maranhão, bem como, de aliados e aliadas que estiveram juntos nesta construção, trazendo memórias e experiências de momentos distintos: encontros Pré-Teia, Encontrões, intercâmbios, oficinas e por meio de depoimentos realizados para esta escrita.
O lançamento do livro será no dia 20 de julho, às 15h30, no auditório Mário Meireles, na Universidade Federal do Maranhão. Será também transmitido ao vivo nas redes sociais do Cimi e de parceiros. O livro será doado para os povos e comunidades, e será vendido para outras pessoas no valor de R$ 15 no local do lançamento e, após o lançamento, na sede do Cimi Regional Maranhão.
A Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão é uma articulação de povos e comunidades em busca do Bem Viver, norteada pelo companheirismo e pelo trabalho coletivo na luta por terra e território. É um espírito coletivo e plural, um território que compartilha uma proposta de vida pautada no ideal do Bem Viver. Tece seu caminho com autonomia, pensando o que já foi construído e o que se pode construir, e é instrumento de enfrentamento ao capital, de luta contra o agronegócio, a grilagem de terras, a destruição da natureza, a mineração, a contaminação das águas e das terras.
A articulação da Teia reúne povos originários, quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, sertanejos, camponeses, pescadores artesanais, o Moquibom (Movimento Quilombola do Maranhão), o MIQCB (Movimento interestadual de quebradeiras de coco babaçu), o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), a CPT (Comissão Pastoral da Terra), o NERA (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Questões Agrárias – UFMA), o CPP (Conselho Pastoral de Pesca) e agrega em cada Encontrão da Teia, novas tecedoras e novos tecedores, aliadas e aliados de caminhada.
A Teia nasceu em 2011, no contexto de ocupação do prédio do INCRA, em São Luís, quando quilombolas, indígenas e aliados e aliadas lutavam em prol de direitos de povos e comunidades tradicionais no Maranhão. As histórias partilhadas nos corredores do prédio, as pautas discutidas e reivindicadas no auditório, quase sempre ignoradas pelos poderes governamentais, as esperanças alimentadas na improvisada cozinha, as pinturas corporais, deram caldo, aqueceram, alimentaram e fortaleceram os desejos de construção de uma luta conjunta.
A articulação nasce diante da necessidade de enfrentar a opressão das expulsões da terra, das exigências de pagamento de foro, as humilhações de toda a ordem dos senhores e jagunços, a inércia proposital do Estado em garantir segurança territorial e de vida aos povos do campo. A possibilidade de uma atuação conjunta se fortaleceu com o sentimento da importância da construção de espaços autônomos e seguros de afirmação de modos de vida (alicerçados nos conhecimentos legados pelos povos ancestrais sobre a terra, os seres, a partilha) e da necessidade de potencializar ações políticas para este fim.
Nesse tempo de isolamento social, realizamos a composição do material a partir da leitura e seleção de trechos dos relatórios dos Encontrões, pela coleta e seleção de fotos e pela organização dos depoimentos gravados que recebemos pelo WhatsApp, que trazem reflexões acerca dos processos tecidos nesses anos de caminhada. São reflexões e memórias de quem tem os pés no chão e caminha de mãos dadas no tecimento da Teia e nos enfrentamentos nos territórios, fazendo a cada passo, outro mundo possível, assentado na perspectiva do Bem Viver dos povos.
O tecimento deste livro é também espaço da Teia, é resistência, é memória de luta, é denúncia de injustiças, é pintura da riqueza dos pés no chão, é palavra de força e esperança, é ato de insurgência. As tramas que o dão forma foram entrelaçadas neste tempo de pandemia, num momento de muita dor pela perda de pessoas queridas, de afastamento físico, de pensar as vidas de todos os seres, os caminhos trilhados pela humanidade, de fortalecer a presença espiritual. Tempo também de muita luta, em que o recolhimento necessário precisou ceder a momentos de elaboração de estratégias de resistência contra violações de direitos humanos e de direitos territoriais, que não cessam de acontecer. Tempo em que precisamos assumir o risco, sair e pegar o caminho para erguer os barracões junto com parentes, irmãs e irmãos, companheiras e companheiros, sobre as terras ameaçadas.
Costuramos relatos, depoimentos, músicas, fotos e desenhos seguindo a metodologia do último Encontrão, realizado antes da Pandemia, na vontade de traduzir em livro um pouco da potência de pensar, lutar e viver nessa terra que tentam nos tirar e que insistimos em cultivar e nutrir. O livro possui três partes – Água, Fogo, Semente – de modo a contar a história da Teia por meio do Encontrão realizado no ano de 2019, na comunidade de Água Riquinha, localizada em Paulino Neves (MA). Feito de retalhos do que se vive no canto, na troca, na roça, no banho de rio, no registro, o livro é composição de muitas mãos, vozes e toques, apresentados nas páginas que se seguem.
SERVIÇO:
O que: lançamento do livro “Nas Águas da Resistência, Recontamos Nossas Histórias”
Quem: Cimi e Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão
Quando: 20 de julho 2022
Onde: Universidade Federal do Maranhão, com transmitido ao vivo nas redes do Cimi e de parceiros
Sou maranhense, e tenho especial entusiasmo por esse trabalho. Trabalhei no meio interiorano rural maranhense nos primeiros anos sessenta, conheci bem o trabalho das quebradeiras de babaçu. E acompanhei o início da organização das ‘quebradeiras’ em função de uma luta por dignidade e justiça