Amanhã. Por Julio Pompeu

No Terapia Política

O amanhã é expectativa, desejo, esperança, nada mais. E isso é ser mais que um hoje de tristeza, espanto e medo.

Amanhã o sol nascerá como sempre. E como sempre a noite sucederá ao dia. Mas diferente de outros amanhãs, o fim do dia de amanhã será diferente dos outros dias. Terá gosto forte de vitória, derrota ou de mais esperança.

Amanhã será o estranho dia em que o medo sentirá medo ao ver gente confiante e esperançosa de um amanhã sem medo.

Amanhã, a raiva estará raivosa como nunca e como sempre sairá à cata de quem pense diferente. E procurará confusão como nunca por medo de que de amanhã em diante sua raiva nunca mais seja aplaudida.

Amanhã, haverá Padre a rezar, Pastor a orar, Orixá a dar axé e Preto Velho a benzer. Todos com fé num amanhã onde amor se fará amando e não armando-se até os dentes para matar aqueles que não são amados.

Amanhã, a barriga vai se remexer de ansiedade para saber como o dia depois de amanhã será. E mesmo depois de amanhã continuará o remexo, porque do amanhã nunca se sabe ao certo o que virá. Sabe-se só o que esperar dele. E há muito que esperar do amanhã quando o hoje é triste.

Amanhã será a hora do “vamos ver” em que vamos ver se na hora “h” o país tem ou terá militares ou milícia, juízes ou militantes, respeito ou truculência, democracia ou ditadura.

Amanhã, saberemos de que pensamentos e sentimentos somos feitos. Veremos a cara de nós mesmos como uma multidão ressentida ou esperançosa.

Amanhã, como em quase todos os dias, o esfomeado não saberá se comerá. Mas nós todos saberemos se somos um povo que se importa ou não com isso.

Amanhã, entre a angústia e o júbilo, cada um decidirá consigo mesmo o futuro que quer ter com os outros. Ou sem os outros. Ou só com alguns. Ou decidirá não decidir, vencido pela angústia.

Amanhã é o amanhã que definirá o amanhã. Igual a todos os outros instantes da vida em que o que fazemos ecoa pelo futuro sem nos darmos conta disso. Mas amanhã o instante da decisão será diferente dos outros instantes porque agiremos conscientes de seus ecos.

Amanhã será só um dia de amanhã, como os vários ontens que vivemos. Mas nós lembraremos dele pelos próximos amanhãs. E nos felicitaremos ou nos frustraremos quando este amanhã tornar-se ontem.

Amanhã vai ter festa. Também choro, pancada e preguiça de sair de casa e se meter em festa ou pancada. Também terá quem nem ligue para aquilo que os outros ligam tanto.

Amanhã, o infame se sentirá importante porque vai decidir a vida dos outros. Também se sentirá impotente vendo que a sua vida será decidida pelos outros. E, talvez, perceba que amanhã não se trata de mim ou do outro, mas de nós.

Amanhã, ah amanhã! Sei lá eu se há ou haverá amanhã! Sei lá…

Protesto no Parque da Redenção, Porto Alegre. Foto: Sul21

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