Na esperança de viabilizar uma virada neste 2º turno, Bolsonaro insiste na estratégia de “arrebentar a Petrobras” para manter o humor do eleitorado favorável ao atual governo. Como Ana Flor informou no g1, o Palácio do Planalto está pressionando a direção da empresa para segurar o reajuste dos preços dos combustíveis para depois do dia 30, após a votação, para não prejudicar o discurso do presidente-candidato de que ele “baixou o preço da gasolina”. Tudo indica que a conta chega depois do segundo turno – e não deve ser barata.
De fato, o preço da gasolina caiu nos últimos meses, mas a propaganda eleitoral não fala de que maneira isso aconteceu – e o quão artificial é a baixa.
Primeiro, o governo contou com a sorte, já que os preços internacionais do petróleo nos últimos meses sofreram uma leve redução. Além disso, dinamitou o pacto federativo interferindo na capacidade dos estados em definir a alíquota de ICMS sobre os combustíveis, forçando-os a diminuir o imposto. Por fim, com a aprovação da famosa “PEC Kamikaze”, o governo ampliou os benefícios, com a “bolsa caminhoneiro” de R$ 2 mil mensais para aliviar o bolso dos caminhoneiros.
Dois pontos devem fazer esta arquitetura política ruir após a votação. Primeiro, todos os benefícios e reduções tarifárias têm validade até o final deste ano, sem previsão de renovação no projeto de orçamento 2023 apresentado pelo próprio governo ao Congresso. Ou seja, independente de quem seja eleito, a partir de 1o de janeiro, os brasileiros podem esperar um “combo” de reajustes que, se for mal calibrado, pode criar ainda mais confusão.
E, segundo, a sorte internacional pode ter chegado ao fim. Isso porque a Arábia Saudita convenceu outros países exportadores de petróleo na OPEP a reduzir a produção nos próximos meses. O cartel anunciou ontem (5/10) a redução da produção diária em 2 milhões de barris. Um quase certo aumento do petróleo no exterior vai comprometer a capacidade da Petrobras de manter os preços domésticos mais baratos, como quer o governo.
Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (ABICOM), citada pela Agência Estado, a defasagem da gasolina e do diesel já preocupa o setor: o preço médio do diesel deveria estar 3% superior ao atual para alinhar o mercado doméstico ao internacional; já para a gasolina, a defasagem é ainda maior, de 8%.
A OPEP justifica afirmando que o corte seria necessário para “estabilizar” os preços internacionais depois da queda dos últimos meses. Mas a decisão também tem fatores geopolíticos: os EUA pressionam a OPEP a aumentar a produção para compensar o petróleo russo, que vem sendo boicotado pelo G7 e a União Europeia por causa da guerra com a Ucrânia. A Rússia é parceira da OPEP e deve se beneficiar diretamente do corte de produção.
Associated Press, Infomoney, Reuters, Valor e Washington Post, entre outros, destacaram a decisão da OPEP.