O final acidentado da Conferência do Clima de Sharm el-Sheikh (COP27) antecipou o que deve ser um ano bastante complicado para as negociações internacionais sobre mudanças climáticas.
A COP do Egito conseguiu escapar de um fracasso histórico ao aprovar a criação de um fundo para compensar os países vulneráveis pelas perdas e danos decorrentes de eventos climáticos extremos; no entanto, praticamente todos os detalhes desse fundo ficaram em aberto e deverão ser definidos ao longo do próximo ano.
“Quem serão os doadores, quais as fontes de recursos, quem terá acesso ao dinheiro, quais os critérios para definir quem é vulnerável, tudo tem que ser montado a partir de agora por um comitê que tem prazo até a COP28, nos Emirados Árabes, para apresentar uma proposta”, elencou Daniela Chiaretti n’O Globo e Valor. Emílio Sant’Anna também abordou a questão no Estadão.
O adiamento dessas definições sobre o fundo para perdas e danos foi essencial para que os negociadores superassem os impasses que arrastaram as conversas em Sharm el-Sheikh por duas semanas. Na mesma linha, o enfraquecimento da linguagem do texto final da COP27 sobre mitigação e combustíveis fósseis também foi visto como um “preço” a pagar para que fosse evitado um colapso das negociações, o que seria um fracasso histórico.
A Bloomberg descreveu a correria dos diplomatas no final da COP para evitar o pior. “Para muitos, conseguir o fundo foi uma vitória amarga. Os esforços da União Europeia, do Reino Unido e de pequenas nações insulares para garantir compromissos mais fortes quanto à redução das emissões de gases de efeito estufa falharam. E as tentativas de fazer com que as nações concordem em estabelecer o pico das emissões globais até 2025, ou uma redução gradual de todos os combustíveis fósseis, também fracassaram”.
Para os pequenos países insulares do Pacífico, a aprovação do fundo é motivo de celebração política. Depois de verem a meta de aquecimento de 1,5ºC – principal vitória diplomática desses Estados na definição do Acordo de Paris – ser questionada no Egito, a criação do fundo atende a uma demanda de mais de três décadas que vinha sendo negligenciada pela comunidade internacional até o começo desta COP. O Guardian destacou a reação dos líderes das pequenas nações insulares.