A volta do Brasil ao tabuleiro da diplomacia climática na COP27, capitaneada pela passagem do presidente-eleito Lula no Egito, está sendo bastante celebrada por ativistas e movimentos sociais envolvidos com a questão do clima. No entanto, o próximo governo será pressionado a dar mais “qualidade” à sua atuação política nessa agenda, enveredando em temas e discussões que tiveram pouca atenção do poder público brasileiro, como o racismo ambiental.
“O Brasil tem que olhar para isso com carinho. Pensando nas favelas, falar sobre perdas e danos é falar sobre os eventos extremos a que a gente já até se acostumou, como as enchentes, os desabamentos”, observou Marcelo Rocha, fundador do Instituto Ayíka, à Folha. “A gente chegou em um ponto que não dá para adaptar e mitigar apenas. A gente tem que pensar no agora”.
Na mesma linha, a ativista Amanda Costa, do Instituto Perifa Sustentável e conselheira jovem do secretário-geral da ONU sobre clima, celebrou a atenção inédita que a questão do racismo ambiental teve nesta COP27. “Ver uma causa que me atravessa, que dita se eu vou continuar viva ou não, sendo cada vez mais reproduzida e democratizada entre as lideranças do nosso país foi uma surpresa positiva”.
A discussão em torno da compensação por perdas e danos decorrentes da mudança do clima, que tomou conta da COP27, aborda em sua essência o legado de séculos de racismo ambiental nos países mais pobres e vulneráveis – que se refletiu mais forte nas últimas décadas, com a indisposição dos países desenvolvidos em discutir o problema.
“É racismo na sua essência que problemas de nações em desenvolvimento nunca tenham sido priorizados e que países ricos sempre pressionem por mitigação [das emissões]: porque sabem que emissões de carbono em qualquer lugar também vão afetá-los”, disse Harjeet Singh, da Climate Action Network (CAN), à Folha.