Faltando horas para o encerramento da 15ª Conferência da ONU sobre Biodiversidade (COP15), o cenário é bastante preocupante. Os negociadores não conseguiram avançar substancialmente na maior parte dos tópicos, deixando a bomba para estourar no colo dos ministros de Estado.
O principal impasse está na questão do financiamento. O walkout dos países em desenvolvimento repercutiu fortemente em Montreal, motivando uma articulação de última hora da presidência da COP, exercida pela China, para apagar o incêndio diplomático. No entanto, a situação segue a mesma: governos pobres querem financiamento e governos ricos querem que governos emergentes contribuam com isto.
Ana Carolina Amaral deu detalhes do walkout na Folha. O Brasil liderou a saída dos países em desenvolvimento das conversas sobre financiamento, puxando o coro da cobrança por mais financiamento dos países ricos. A posição brasileira acaba tendo bastante repercussão por conta da condição dupla do país nessas conversas. Por um lado, o Brasil possui uma das maiores diversidades biológicas do mundo; por outro, como economia emergente, o país é alvo da pressão dos países ricos para participar do financiamento internacional.
O presidente-eleito Lula também entrou nessa história. O Guardian destacou a carta divulgada pela equipe de transição na COP15, na qual o líder brasileiro apela às nações desenvolvidas que destravem o financiamento internacional para a natureza. “Como o mundo desenvolvido pode reconhecer a magnitude da tripla crise planetária e não responder aos apelos por mais ambição no financiamento da biodiversidade?”, questionou Lula.
“A atmosfera da COP15 se deteriorou”, avaliou David Ainsworth, porta-voz do secretariado da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica (CBD), ao Valor. O principal temor em Montreal é que a falta de vontade política e de liderança dos países, somada à desconfiança entre países ricos e pobres, resulte em um fracasso diplomático da mesma proporção que a hecatombe sofrida pelas negociações climáticas em 2009, na COP15 de Copenhague.
A Reuters também assinalou outro ponto problemático nas discussões de Montreal: a meta de proteção de 30% do território marinho e terrestre até 2030. Principal objetivo em debate na COP15, os países ainda não chegaram a um entendimento sobre a aplicação dessa meta – em particular, se ela será global ou medida em cada país.