Invasão em Brasília é um alerta. Extremistas estão prontos para espalhar terror e desfrutam de apoio no aparato de segurança. Influencers e mídia bolsonaristas são cúmplices, diz Philipp Lichterbeck
em DW
Os danos materiais devem chegar aos milhões, que agora terão de ser pagos pelos contribuintes brasileiros graças aos fanáticos bolsonaristas. Atearam fogo, quebraram janelas e móveis, destruíram obras de arte extremamente valiosas, urinaram em móveis e jogaram aparelhos eletrônicos como impressoras, computadores, micro-ondas, monitores e televisores no chão. O Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto estão em ruínas.
Mas maior é o dano à democracia brasileira e à psique coletiva do país. Uma minoria fanática e violenta cometeu crimes em série na frente das câmeras ao longo do dia na capital. Enquanto grande parte da mídia liberal passou a dar nome aos bois – golpistas, criminosos, terroristas – outros ainda cativam a simpatia do bolsonarismo. Trata-se aqui de índices de audiência, cliques, curtidas e claro: dinheiro!
A maior porta-voz do bolsonarismo, a emissora Jovem Pan, deu incríveis piruetas retóricas para de alguma forma justificar os criminosos como cidadãos preocupados. Falou-se de “o povo” mostrando sua vontade. Como se o povo não tivesse manifestado sua vontade ao eleger Lula como presidente.
Precursor e cúmplice de Bolsonaro, Sergio Moro minimizou falando de “invasores” que “precisam se retirar”. E o blogueiro foragido Allan dos Santos, contra quem há um mandado de prisão, pediu que os escalões inferiores das forças militares e policiais desobedecessem às ordens e, assim, convocou abertamente um golpe de Estado.
Allan é um bom exemplo de como ganhar muito dinheiro com conteúdo fanático. Ele pertence a uma legião de influencers, políticos, empresários e pastores evangélicos extremistas que lucram espalhando o veneno bolsonarista de mentiras e meias-verdades, delírios pseudorreligiosos, intolerância, ignorância, arrogância, violência e pura estupidez na mente e no coração de milhões de brasileiros. O veneno contaminou, sobretudo, as forças de segurança, como ficou mais uma vez evidente em Brasília. É um desenvolvimento ameaçador.
Falam abertamente em “necessária guerra civil”
Com o bolsonarismo, surgiu no Brasil um movimento de base extremista de direita, cujos integrantes se consideram os salvadores da pátria – sem, claro, nunca terem perguntado aos outros brasileiros. Defendem a civilidade, a verdade e a liberdade contra os comunistas – sem realmente saber o que significa comunismo. Parece quase impossível trazer essas pessoas de volta à realidade
Há pelo menos quatro anos, são alimentados e incitados com desinformação. Hoje acreditam que estão legitimamente resistindo a um governo ilegítimo. Em muitos casos, falam abertamente de uma “necessária guerra civil”. A esquizofrenia do movimento, que quer salvar a pátria mergulhando-a primeiro no abismo, é evidente no fato de que muitos bolsonaristas estão agora orgulhosos da destruição em Brasília; enquanto outros afirmam que a destruição foi perpetrada por esquerdistas infiltrados. Decidam-se!
A invasão do centro do poder brasileiro é, portanto, um sinal de alerta. Existem hoje no Brasil grupos extremamente radicalizados que são financiados e apoiados logisticamente por empresários. Eles estão prontos para espalhar o terror e desfrutam de certa compreensão e apoio no aparato de segurança.
Por ser difícil ensiná-los novamente algo como práticas civis e democráticas, eles e os articuladores destes atos devem primeiro ser retirados de circulação e punidos. Para o bem e segurança dos reais cidadãos do bem.
–
Foto: Eraldo Peres/AP Photo/picture alliance