Agronegócio ‘não tem nada de pop e de legítimo. É golpista’, rebate o MST, após setor ter se associado ao terrorismo

Investigações sobre a tentativa de golpe de bolsonaristas, em Brasília, vêm mostrando que pessoas ligadas ao agronegócio financiaram o ataque a instituições símbolos da democracia, quando o setor sempre acusou o MST de “baderna” por reivindicações trabalhistas

Por Redação RBA

Integrante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Alexandre Conceição destacou, nesta segunda-feira (16), em entrevista ao Jornal Brasil Atual, o agronegócio como “um dos principais inimigos do povo brasileiro”. De acordo com o ativista, após os atos de terrorismo realizados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no último dia 8, em Brasília, o setor “predador” que “não produz alimentos, mas muito venenos que causam inclusive câncer e destrói o meio ambiente”, também é “golpista”.

A crítica leva em conta as investigações sobre a tentativa de golpe bolsonarista que vêm mostrando a participação de pessoas ligadas ao agronegócio no financiamento desses atos antidemocráticos. Ainda no dia do ataque às sedes dos Três Poderes, os primeiros presos relataram, em depoimentos, que se locomoveram de estados amazônicos, como Pará, Rondônia e Mato Grosso, até a capital federal, com tudo pago por financiadores, que não eram dos mesmos estados de onde partiram os ônibus.

Nos três estados amazônicos, como mostrou reportagem do portal Amazônia Real, está localizado o arco do desmatamento. Uma região que concentra o desmatamento da Amazônia e a expansão do agronegócio. E onde também ocorrem as principais frentes de destruição do bioma, como grilagem, mineração ilegal e invasão de terras indígenas. Além disso, no dia seguinte aos atos de terror, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, também destacou que setores do agronegócio haviam participado de forma “inequívoca” do financiamento do vandalismo.

‘Nada de pop’

Na quinta, a pedido da Advocacia-Geral da União (AGU), a Justiça Federal de Brasília determinou o bloqueio de R$ 6,5 milhões em bens de 52 pessoas e sete empresas que financiaram o transporte dos terroristas. Parte delas também associadas às atividades ruralistas. “Então, o agro não tem nada de pop e de legítimo. O agro é golpista”, destacou Conceição à jornalista Marilu Cabañas.

O líder do MST também rebateu as acusações em relação ao movimento, sempre acusado de “baderneiro” pelo setor por lutar por reforma agrária e terra produtiva para os trabalhadores produzirem alimentos saudáveis.

“Primeiro a gente precisa separar o que é reivindicação histórica da classe trabalhadora. O que é direito da classe trabalhadora, conquistado com muita luta e processo de mobilização, do que foi a baderna construída pelos fascistas em Brasília, que foi uma tentativa de golpe à democracia. E golpear a democracia significa também atacar os direitos dos trabalhadores, o direito do voto, trabalhista e ambiental. O que eles estavam querendo não era uma revisão, mas um golpe”, frisou.

Mobilização permanente

Apesar dos ataques, Conceição disse estar confiante no combate ao latifúndio improdutivo no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O MST divulgou que avalia indicar quadros técnicos e experientes para compor o novo governo. A prioridade, de acordo com os sem-terra, será a retomada do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Assim como do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

“O MDA tem que ser um ministério fortalecido com recursos para fazer a política de desenvolvimento. Essa política é o Incra fortalecido para desapropriar terra. O crédito chegando no trabalhador e na trabalhadora para investir na produção de um alimento saudável. E, ao mesmo tempo, uma Conab que possa comercializar esse produto, distribuir nas camadas mais pobres e possa levar para as feiras, os ceasas de todo o país, o produto do trabalhador e da trabalhadora rural. Vamos colaborar muito com o governo para colaborar com a pauta principal, que é acabar com a fome no Brasil”, garantiu Alexandre Conceição.

Os movimentos sociais também seguirão, de acordo com ele, em “estado de alerta permanente” contra a ameaça fascista. Nesse domingo (15), manifestantes em prol da democracia, mostraram seu apoio em ato no chamado Eixão Sul, na capital federal. “Os imperialistas e golpistas que estão tentando dar um golpe, que saíram do governo e foram derrotados nas urnas, vão continuar, mas nós também”, advertiu o líder sem-terra.

Confira a entrevista:

Foto: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

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