Indígenas reivindicam que Funai e MPF mediem a situação e coordenem a retirada dos bens dos fazendeiros no tekoha Laranjeira Nhanderu, em Rio Brilhante (MS)
Na manhã de ontem (8), os Kaiowá e Guarani do tekoha Laranjeira Nhanderu ocuparam a sede da fazenda Inho, em Rio Brilhante (MS), onde sofreram um ataque ilegal da Polícia Militar na última sexta. Os indígenas clamam que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Ministério Público Federal (MPF) assumam a interlocução com o Estado antes de novo ataque policial.
Como vem sendo noticiado, no dia 3 de março, famílias Kaiowa e Guarani – em grande parte jovens e crianças – do tekoha Laranjeira Nhanderu retomaram parte de seu território tradicional, onde fica localizada a fazenda Inho.
A retomada ocorreu após décadas de violações sofrida pelos indígenas dentro de seu próprio território. Muitas destas violências foram protagonizadas por pessoas ligadas à fazenda Inho, como despejos aéreos de agrotóxicos, destruição de plantações das famílias Kaiowá, ameaças e cerceamento de liberdade de ir e vir, entre outras.
Esta situação, ao longo do tempo, gerou momentos dramáticos para a comunidade, com períodos de intensa fome e extrema vulnerabilidade.
Após a retomada, sem ordem judicial, a Polícia Militar, seguindo determinações políticas do governo estadual de Mato Grosso do Sul, atacou ilegalmente a comunidade. A ação também resultou na prisão arbitrária de três indígenas, que foram liberados pela Justiça Estadual no sábado (5).
É a sexta ação desta natureza no estado nos últimos anos, sem nenhum respaldo legal, protagonizado por forças de segurança publica a favor de particulares – e o segundo executado contra as famílias de Laranjeira Nhanderu.
No exemplo mais dramático, ficou a cicatriz do Massacre de Guapoy, onde a Polícia Militar levou a cabo um ataque contra famílias Kaiowá, sobretudo contra idosos e crianças, assassinando um indígena e deixando dezenas feridos.
Depois do ataque sofrido na sexta, os Kaiowá e Guarani reconstruíram seus barracos no entorno da sede da fazenda, sobreposta a seu território.
Anteontem (7), após remontarem sua retomada, os Kaiowá passaram a ser assediados pelos arrendatários da fazenda. Mesmo com a presença dos indígenas no local, os arrendatários insistiam em colher e plantar monocultura de soja e passaram a provocar as famílias acampadas, jogando os maquinários sobre seus barracos, enviando drones sobre a comunidade e fazendo movimentos que buscavam incitar os indígenas a tomar posturas agressivas – provavelmente objetivando uma segunda ação da polícia.
Essa situação, primeiro de violência policial e depois de assédio, levou os indígenas à decisão de retomar, para além do descampado onde estavam, também a sede da fazenda.
Os Kaiowá, respeitando a integridade do “barracão” existente no local, fotografaram a propriedade e as benfeitorias e enviaram à Funai, afim de evitar uma ação policial baseada na suposta violação dos imóveis. A ação ilegal da sexta-feira foi endossada pela própria Secretaria de Segurança do estado com base em alegações falsas bastante parecidas.
Os Kaiowá e Guarani solicitam que a Funai e o MPF passem a realizar uma interlocução com o Estado. As famílias estão cientes de seu pleno direito de acesso a seu terriório tradicional e solicitam aos órgãos que coordenem a retirada dos bens da casa e dos maquinários.
A comunidade também reivindica que, com acompanhamento da Policia Federal e da Funai, sejam estabelecidos critérios para o fim da colheita da soja no local. Os indígenas ressaltam que novos plantios não serão permitidos.
Com medo de ataques, que é, via de regra, como os povos originários são tratados no estado, as famílias Kaiowá pedem celeridade dos órgãos para a garantia de seus direitos e de sua integridade física.
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Sede da fazenda Inho, retomada pelos Guarani e Kaiowá após ação ilegal da Polícia Militar. Indígenas pedem mediação do MPF e da Funai. Foto: comunidade de Laranjeira Nhanderu