WikiFavelas: Oito vezes Marielle

Em série de depoimentos, uma homenagem do Dicionário Marielle Franco à defensora dos direitos humanos. Assassinada há 5 anos, ela brotou como símbolo de cidadania insurgente e reconstrução do país pelas mãos das mulheres negras

por Clara Polycarpo e Palloma Menezes, em Outras Palavras

“Eles combinaram de nos matar. E nós combinamos de não morrer.” Conceição Evaristo já nos ensina que, para romper com a política de morte, devemos forjar tecnologias insurgentes que partam da luta coletiva. E é também assim, reverenciando Conceição, que Anielle Franco, atual ministra da Igualdade Racial, inicia o seu depoimento “Ninguém solta a mão de ninguém”. Nesses cinco anos desde seu assassinato, Marielle Franco se faz presente como símbolo e como referência na luta pelos direitos de cidadania de todos, todas e todes, mulheres, negres, favelades, LGBQIAP+, quilombolas, indígenas e juventudes que acreditam, em especial, na luta pelo direito de se ter direitos. Como aguerrida defensora de direitos humanos, Marielle foi forjada na ancestralidade feminina que se mantém viva nas favelas e periferias do Brasil. Para os(as) moradores(as) de favela, a luta por direitos humanos é uma luta fundamental, porque se trata da luta pela própria sobrevivência. Por sua força e por sua garra, Marielle levou a voz de milhares de tantas outras do passado e do futuro para o palco da tribuna, exigindo ser ouvida. E assim ecoou.

Após a sua morte, a cidade já não é mais a mesma. A política já não é mais a mesma. Quem mandou matar Marielle Franco? Marielle inscreveu a favela como central na luta por cidadania e justiça. Quem mandou matar Marielle e tirou de nós a sua presença física, terá agora que lidar com a força coletiva que brota e traz para o centro da disputa a reconstrução de um país pela mão das mulheres negras. Como reforça Deley de Acari, poeta, animador cultural, militante de direitos humanos e afrocomunista, “A Marielle Presente será a Marielle Futura. Que depois que a justiça seja feita, há que cuidar que Marielle nunca se desvaneça e suma na fumaça, na névoa do esquecimento de cada um de nós e toda a gente. Há que cuidar que Marielle Futura terá sempre a Marielle Passada, Presente, perenemente. Há que cuidar que a Marielle Futura esteja sempre presente e que a Marielle nunca seja passada na vida da gente. Que Marielle sempre seja presente, para sempre.” A Marielle Presente é também a Marielle Futura. É também o nosso futuro possível, construído a muitas mãos.

Nesta última segunda-feira, dia 13 de março, véspera do aniversário de cinco anos do brutal assassinato que tirou sua vida e a de Anderson Gomes, o Dicionário de Favelas Marielle Franco organizou o evento “MARIELLE VIVE! Favelas na Reconstrução do País”, na Biblioteca de Manguinhos da Fiocruz. Com a presença de moradores(as) de favelas, artistas periféricos, acadêmicos(as) e políticos(as), o evento foi uma oportunidade para debater o legado político coletivo de Marielle Franco e o papel das favelas na atual conjuntura brasileira.

A mesa principal, intitulada “Da Favela ao Parlamento – Reconstruindo o Brasil”, contou com a participação de parlamentares que representam os legados políticos de Marielle Franco. Os convidados foram Renata Souza (deputada estadual – Psol/RJ), Mônica Francisco (ex-deputada estadual – Psol/RJ, Mônica Cunha (vereadora – Psol/RJ), Saulo Benício, assessor parlamentar de Dani Monteiro (deputada estadual – Psol/RJ) e Sonia Fleury (coordenadora do Dicionário de Favelas Marielle Franco).

“Marielle é um símbolo nacional, internacional, de uma cidadania insurgente, que tocou a emoção dos jovens, de que é possível fazer política de outra maneira”, ressaltou Sonia Fleury, coordenadora do Dicionário de Favelas Marielle Franco e mediadora da mesa de debate. Renata abriu o debate falando da importância de se classificar o assassinato de Marielle como um feminicídio político. Partindo também da ideia de que não é possível compreender o assassinato de Marielle sem levar em consideração debates sobre gênero e raça, Mônica Francisco apontou como as mulheres e, especialmente, as mulheres negras são vistas como uma ameaça quando ocupam cargos políticos. Em relato emocionante sobre os múltiplos legados de Marielle, ela enfatizou que a reconstrução do Brasil passa necessariamente “pelas mãos das mulheres negras”. Mulheres essas que estão construindo uma nova história para o Brasil, repleta de referências necessárias para as próximas gerações, mas que são inviabilizadas pelo poder público. Mônica Cunha sintetizou bem essa ideia ao dizer que “como hoje eu tenho Angela Davis como referência, amanhã um neto meu terá a mim”. Saulo Benício analisou as alternativas que se apresentam para o jovem negro favelado: a militarização ou carreira militar, a informalidade, o tráfico e a universidade pública. A universidade sendo a mais inatingível.

O evento contou ainda com atividades culturais que incluíram a Exposição “Outras Marés”, do Coletivo Fotografia Periferia e Memória, além de poesia, dança e música. Ratão Diniz, integrante do coletivo, tratou da importância da fotografia popular para criar, apresentar e eternizar outras memórias das favelas. Deley de Acari lembrou da força de Marielle, de sua alegria e potência. E, encerrando o evento, Rachel Barros apresentou a intervenção artístico-corporal “Eu sou porque nós somos” sobre memória, ancestralidade e luta, lembrando de Marielle como um farol que continua nos guiando.

Abaixo, seguem depoimentos fortes e emocionantes de alguns(as) daqueles(as) que caminharam juntos(as) à Marielle, construindo futuros e tensionando a política do Rio de Janeiro. Em destaque, estão os(as) conselheiros(as) do Dicionário de Favelas Marielle Franco compartilhando um pouco dessa trajetória em homenagem à sua memória e ao seu legado. No verbete “MARIELLE VIVE! Favelas na Reconstrução do País”, na plataforma wikiFAVELAS, estão outros tantos depoimentos de amigos(as) que fazem da saudade e do luto a luta por democracia e justiça para todos, todas e todes. Lá você pode também assistir à gravação do evento “MARIELLE VIVE!”, realizado em sua homenagem. [Introdução e seleção: Clara Polycarpo e Palloma Menezes]

Marielle Vive! Favelas na Reconstrução do País

[Verbete: depoimentos da equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco]

“Marielle Vive! Favelas na reconstrução do país” foi um evento organizado pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco e realizado na Biblioteca de Manguinhos, na Fiocruz, no dia 13 de março de 2023. O objetivo do evento foi repercutir e rememorar os 5 anos do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, não elucidados até hoje e, com isso, pensar a reconstrução do país sob a ótica das lutas das favelas e das populações e grupos discriminados.

Depoimentos do Conselho Editorial do Dicionário sobre Marielle

Sonia Fleury (Dicionário de Favelas Marielle Franco):

Marielle é a cara da cidadania Insurgente.

Marielle, a menina-moça da favela da Maré, se tornou um ícone nacional e internacional, mesmo antes de seu bárbaro assassinato. Ela representa os inúmeros coletivos de favelas e periferias, nos quais os jovens se reúnem em círculos culturais onde rolam batalhas de rimas e de danças, e assim, uma nova se resgata a consciência da ancestralidade e da memória da população que criou no território uma comunidade, uma cidade erguida com suas luta solidárias. Mas Marielle também representa a insatisfação dos jovens de classe média, que novamente se encantaram com a possibilidade de uma representação política com sua cara e suas bandeiras, contra o racismo, o sexismo, o preconceito de gênero.

Para além do ícone, é preciso ver também a pessoa, a Mari batalhadora e solidária, a Mari destemida e guerreira, mãe e intelectual. Fica aqui meu reconhecimento à Dona Marinete e ao Sr. Antônio que criaram mulheres como Marielle e Anielle, incapazes de assumir uma posição de subalternidade diante do poder. A altivez do olhar dessas duas, a liberdade do movimento de seus corpos no espaço denotam que na favela também se criam princesas.

Quando criamos o Dicionário de Favelas a Marielle foi entusiasta do projeto e nos brindou com um verbete sobre sua produção. Homenageamos a Marielle colocando seu nome no Dicionário porque aquela voz que tentaram calar, nós e muitos e muitas outras nos comprometemos a não deixar que isso ocorra. Na plataforma do Dicionário de Favelas Marielle Franco as lutas, as glórias e as memórias da população das favelas podem ser encontradas, memorizadas, circular e conscientizar, produzir coletivamente uma estória que a história não conta. Por isso, com toda a dor e luto pela perda brutal da Marielle podemos homenageá-la hoje dizendo que MARIELLE VIVE E JÁ ESTÁ AJUDANDO A RECONSTRUIR ESTE PAÍS.

Marcia Leite (PPCIS-UERJ):

E continuamos a contar dias e meses desde o assassinato de Marielle, cobrando investigação e pressionando pelos devidos desdobramentos punitivos do Estado…

Talvez a foto símbolo de Marielle, ou pelo menos uma delas, seja a de Marielle saindo da Câmara dos Vereadores – mulher negra e favelada, altiva e poderosa, passando por um corredor de policiais e, possivelmente, alguns repórteres.

“Não serei interrompida”, disse com ênfase em um embate com um vereador machista de plantão, no plenário da Câmara, poderia ser sua legenda. Outras também.

Afinal, Marielle, que já havia tido uma atuação expressiva quando no gabinete de Freixo, uma vez vereadora mergulhou nas lutas dos territórios de favelas e periferias, por baixo e por dentro: conversando, construindo conexões entre as questões dos territórios, d@s negr@s, das mulheres, da violência estatal sob o manto da necropolítica.

“Quem era essa mulher…” – cantou Chico Buarque pranteando Zuzu Angel, assassinada pela ditadura de 64.

De forma um tanto similar, o assassinato de Marielle produziu uma comoção – em termos de tristeza, revolta, cobrança e de valorização e luta por seu legado, no Rio, no Brasil e no mundo, que talvez nem mesmo Marielle houvesse imaginado.

À notícia, tarde da noite de seu assassinato, milhares de mulheres e homens acorreram na manhã seguinte à Cinelândia, em uma espécie de velório público para chorar sua morte, cobrar do Estado que seu assassinato fosse investigado e reafirmar seu legado: Marielle é semente! Eu sou porque nós somos. E: ninguém solta a mão de ninguém!

Não soltamos. E, de mãos dadas, esperamos, exigimos, a elucidação e a punição dos assassinos de Marielle e Anderson.

Alan Brum (Raízes em Movimento):

Queria falar um pouco sobre Marielle nesses cinco anos de saudade. Acho que a Marielle… eu convivi com ela desde 2005, né. Então foram 13 anos de convivência com Marielle, nas lutas, nos debates, nas discussões, nas formulações de políticas públicas. Marielle eu conheci desde 2005 na campanha “Diga não ao caveirão! e, antes disso, ela já era uma defensora dos direitos humanos. Antes de ser assessora do Marcelo Freixo. Antes de ser presidenta de direitos humanos da Alerj. Antes de ser vereadora. Marielle foi uma pessoa de luta por essência: na sua história, na sua formação, nas suas vivências. Marielle nos trouxe expectativa e possibilidade de uma mudança da sociedade em todos os espaços que ela ocupou. A Marielle é uma pessoa que eu convivi construindo conjuntamente a audiência pública fora da ALERJ, a audiência pública dentro das favelas. Em que a gente tinha muitos debates, muitas discussões, discordâncias, né… mas isso que a constituía. É isso que trazia ela como a pessoa que construía junto, a partir dos embates e dos debates. Por isso, quero dizer que agora, depois de sua passagem, a Marielle tomou uma outra dimensão por tudo que ela representa. Mas eu tenho muita saudade é da Marielle com quem eu convivi. Com quem eu lutei. Com quem eu construí. Com quem fizemos coisas no chão da favela. Essa é a Marielle que sinto saudade. Mas também a Marielle que representa tudo que ela hoje representa, que está viva em cada um de nós, é a Marielle que traz todo esse gás, essa pertinência. Então, quero dizer que eu sinto muita falta… muita falta de Marielle nas nossas lutas, no nosso cotidiano e nas vidas que também foram salvas de diversas formas. Porque Marielle estava disponível o tempo todo. A gente não tem noção, nós, defensores dos direitos humanos, de quantas vidas a gente conseguiu salvar ou amenizar as opressões sofridas cotidianamente. Mas, com certeza, tem uma representação enorme do trabalho de Marielle na vida.

Claudia Santiago (Núcleo Piratininga de Comunicação):

Quando Marielle morreu nós estávamos em Salvador, na Bahia, participando do Fórum Social Mundial e para fazer o lançamento da Teia de Comunicação Popular do Brasil, um site na internet que reúne diversos movimentos sociais, diversos movimentos populares. Marielle morreu na véspera do lançamento da Teia, então a Teia ela foi lançada sob o impacto dessa notícia, nós não conseguíamos falar, nós chorávamos. Me lembro muito do professor Reginaldo Moraes, da Unicamp, que viveu o período da ditadura militar no Brasil e ele foi o primeiro orador do lançamento da Teia depois de mim, e o Régis chorava muito e comparava o assassinato de Marielle com os assassinatos de militantes políticos, de militantes sociais cometidos durante a ditadura no Brasil.

Marielle era querida, Marielle era amiga, Marielle era alegria, Marielle era força. Marielle a gente pode cantar pra ela a música do Milton Nascimento daquelas Marias que insistem em ter fé na vida. Marielle teve um papel importantíssimo no CEASM na Maré, no pré-vestibular. Marielle foi uma figura determinante no gabinete do então deputado estadual Marcelo Freixo, do Psol, uma atuação determinante na política do Rio de Janeiro; com seu brilho, com sua inteligência e com a sua afetuosidade, Marielle era um risco para aqueles que querem manter o Rio de Janeiro dominado por uma política de jagunços, por uma política de matadores, por uma política criminosa e não pela democracia. Marielle era uma grande democrata, uma grande democrata.

O seu assassinato deixou a todos nós que a conhecemos mais jovem e que acompanhamos a trajetória dela um pouco órfãos, órfãos e órfãs, porque nós sabíamos que aquela Marielle ia brilhar muito mais no Rio de Janeiro, ela ia fazer tudo que pudesse por um Rio de Janeiro justo, um Rio de Janeiro inclusivo, um Rio de Janeiro preocupado com as populações de periferias, com os moradores de rua, com os dependentes químicos que vivem nas ruas, Marielle se preocupava com todo mundo, era uma preocupação genuína, sabe aquela militante política que a gente sabe que age pelos interesses da classe, Marielle não tinha nenhum outro interesse que não fosse o interesse de construir uma cidade justa, um estado justo bom pra toda a sua população, Marielle não tinha outro interesse que não fossem os interesses da classe trabalhadora. Marielle, amo você pra sempre!

Cunca Bocayuva (NEPP-DH/UFRJ):

Subjetividade, corpo e território exigem voz, escrita e presença. Marielle Franco ousou atravessar todas as fronteiras e muros da cidade. Teceu fios, vidas, lutas e memórias. Virou a direção da história, rompeu com os malditos estereótipos impostos, acompanhou a revolução feminista, afirmou a presença negra, ousou desafiar os poderes na tribuna, no asfalto, na rua, nos bairros, na cidade. Favela rima com cidadania, liberdade rima com igualdade, conhecimento rima com cultura e arte. A cidade já não é mais a mesma. A política não é mais a mesma. Multiplicadora de coletivos, Marielle se tornou vítima do genofeminicídio político, mas seu mandato se multiplicou. Seu nome se mundializou. Seu exemplo toca cada vez mais fundo, ao lado de cada brado de esperança e luta por justiça.

Nesta escrita realizada por Marielle, nasce a força de uma nova linguagem, noções, conceitos e palavras. Discursos, programas, plataformas e imagens da centralidade social e espacial das favelas e periferias se desdobram com a sua presença, com o poder simbólico, real, dado por palavras vivas no cotidiano. A catarse desse agir político se manifestou no registro do mundo cibernético, no hipertexto, no novo patamar de registros de referências. Como a cartografia de saberes em redes, que se apresentam no Dicionário com seu nome. Num compromisso com a palavra, a imagem, o gesto… a performance poética, ética e estética da favela.

Marielle significa luta por justiça social, ambiental, racial, da diversidade e de igualdade. Onde o corpo se inscreve como potência que define os contornos do espaço poético de uma reforma intelectual e moral que se expande em rede, que aponta para um novo modo de habitar e afirmar o direito humano ao bem viver. Marielle desdobrou o devir negro brasileiro na força da inteligência pessoal e coletiva: afirmação aberta do direito a ter direitos. Se destacou na resistência no meio da banalização da crueldade e da militarização dos territórios. O crime contra ela é um crime contra a humanidade, contra a população. Pois é parte da lógica que tentou sufocar a revolução molecular em curso. Aquela que se inscreveu na favela: a favela como centro da luta por cidadania e democracia.

Orlando Santos (Observatório das Metrópoles):

Com uma trajetória forjada na luta em defesa pelos direitos humanos, Marielle Franco deixou sua marca na história. Marielle se transformou num símbolo da liberdade, da democracia e da justiça social. Como ativista e como parlamentar, Marielle nunca teve medo de ousar, de criar, de inventar. Sempre acreditando que nada é impossível. Por tudo isso, a gente pode dizer que a vida da Marielle foi, e segue sendo, fermento na luta pelo direito à cidade. Na luta pela criação de nova cidade, mais justa e mais democrática. Marielle Presente!

Cleonice Dias (Dicionário de Favelas Marielle Franco):

Marielle e Anderson Presente! Marielle Vive!

Eu sou Cleonice Dias, participo do Conselho Editor de Favelas Marielle Franco, que está participando das comemorações e celebração dos 5 anos da morte de Marielle.

Quem mandou matar, quem executou e quem evitou elucidar esse crime das mortes de Marielle e Anderson, jamais poderia imaginar que a repercussão e a força que essas mortes dariam à luta de quem esses executores escolheram como inimigos e tentaram, de todas as formas, combater, enfrentar, matar, silenciar através do desgoverno, do genocídio, dos desmando e de potencializar a violência.

Para as favelas e periferias, o sentido da morte de Marielle é duplo. Primeiro é síntese da história da luta das favelas, da resistência, resiliência, da insurgência, da potência da luta de todes nós. Segundo é amplitude, luz, foco, responsabilidade e comprometimento na transformação desse país pelos trabalhadores, pelos pobres, pelos favelados, periferias, pelas mandatas das mulheres negras faveladas e de periferias, com os mandatos dos homens comprometidos com essa luta, pela garra, a força e a nova determinação dos jovens com uma nova leitura e um novo jeito de se comunicar, pela força das mulheres e das avós cuidadoras das famílias, e de todos aqueles que estão na luta, LGBTQIA+, os índios, ribeirinhos, quilombolas, de todes.

Você já imaginou onde estaria Marielle daqui uns anos? Ela estaria governando esse país, seria uma presidenta, que levaria para a centralidade do poder o que ela fez aqui no Rio de Janeiro, na Câmara dos Vereadores, levando a potencia da favela, a voz da favela, para um espaço marcado pelo patriarcado e machismo. Ela seria essa força, essa potência.

Nós somos MARIELLE! Nós temos que transformar nosso país. Temos que estar organizados para irmos para as ruas todas as vezes que nossos desejos, nossos direitos forem ameaçados, mesmo num governo democrático, no governo Lula. Porque o governo não é a totalidade do poder. Na defesa da Democracia sempre!

Itamar Silva (Grupo ECO):

Marielle vive!

O traço da resistência na Favela é feminino: mães, esposas, amantes, irmãs… Historicamente, são elas que tem colocado seus corpos na tentativa de proteger seus entes queridos, denunciar o genocídio e lutar por justiça. A cena se repete e se perpetua. Marielle foi forjada nesta luta. Como poucas, driblou o sistema e superou as expectativas. Ocupou a tribuna oficial, falou alto, fez o chamado e foi ouvida: ninguém larga a mão de ninguém.

Uma militante que emerge do seio da Favela. Coordenou, por anos, Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj: foi atuante, acolhedora e aguerrida na denúncia e defesa dos direitos humanos dos favelados. Entre as várias ocasiões que compartilhamos na luta, sublinho o momento que estivemos juntos, em 2015, na audiência pública no Complexo do Alemão. A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Alerj ouvia as denúncias e demandas dos moradores. A onda de mortes no Alemão, sobretudo a do menino Eduardo, de 10 anos, atingido na porta de sua casa por um tiro disparado pela polícia, mobilizava a todos. A quadra do Colégio Theófilo de Souza Pinto estava lotada. Senti orgulho de ver aquela jovem mulher negra, decidida, atenta, circulando entre homens de poder, e ocupando lugar de destaque na articulação política. Na sua singularidade, representava muitas e muitos de nós: competente e imponente, não passava desapercebida. E, ali, se consolidava sua importância na cena política o Rio.

A militância lhe reservou um lugar de destaque e a conduziu à Câmara dos Vereadores e, mais do que nunca, das vereadoras. A quinta candidata mais votada naquele pleito chegou chegando. No entanto, com toda sua bagagem e história de luta, não se limitou a um papel de representação, levou, também, para dentro daquele espaço um conjunto de mulheres guerreiras, envolvidas e comprometidas com a mesma luta. O mandato era coletivo. E, elas, não só ajudaram a construir o seu mandato como se apropriaram da dinâmica legislativa para ir além nas suas lutas.

A semente espalhada criou raízes e frutificou. Hoje, são muitas as Marielles e o mesmo compromisso e disposição na luta por direitos e na defesa dos direitos humanos nas favelas.

Cinco anos se passaram e as nossas vozes não se calam. A pergunta fundamental clama por justiça: quem mandou matar Marielle Franco? Seguimos na luta. Obrigado, Marielle!

Imagem: Bárbara Dias / Fotoguerrilha

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