Decisão da Justiça compromete atuação de assessorias técnicas na bacia do Paraopeba junto a pessoas atingidas pela Vale

Na última semana, ofício comunicou decisão de corte de 40% nos trabalhos das organizações que acompanham o processo de reparação. Nesta quinta-feira, Aedas, Nacab e Instituto Guaicuy enviaram documento à Justiça  argumentando inevitáveis impactos na vida das pessoas atingidas pela mineradora. 

Instituto Guaicuy

A continuidade das assessorias técnicas independentes (ATIs) que acompanham o processo de reparação das pessoas atingidas pela Vale na Bacia do Paraopeba está ameaçada. No dia oito de março de 2023, foi encaminhado um documento em resposta a um ofício, por parte das Instituições de Justiça, (Ministério Público de Minas Gerais, Ministério Público Federal e Defensoria Pública Estadual) que determina a redução de mais de 40% no orçamento previsto nos planos de trabalhos do Acordo – firmado há pouco mais de dois anos entre  IJs, Vale e Governo – sendo válido para o primeiro semestre de 2023.  Essa realidade tornaria inviável a continuidade dos trabalhos da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas), do Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab)  e do Instituto Guaicuy,  organizações responsáveis por assessorar os 27 municípios afetados pela mineradora com o rompimento da barragem em Brumadinho. Nesta quinta-feira (16), as três entidades enviaram um ofício para a Justiça alertando sobre as  consequências dessa decisão para estas comunidades.

Conforme explica Júlia Nascimento, gerente do Guaicuy, as ATIs já tinham tido a aprovação dos planos de trabalho referentes aos próximos três anos, e estavam desenvolvendo as atividades com base no teto estipulado pelos documentos aprovados. O corte determinado pela Justiça é referente à verba destinada ao primeiro semestre de 2023, ou seja, tem o agravante de ser retroativo a janeiro.  “Hoje, as assessorias têm recurso apenas para demitir seus funcionários. O que nós previmos no plano de trabalho eram aproximadamente 600 profissionais, ao longo de toda a bacia do Paraopeba e da represa de Três Marias, atendendo e trabalhando com os atingidos para a garantia dos direitos e da reparação integral. Com a redução, as três assessorias não ficariam nem com dez funcionários”, explica.

O direito à Assessoria Técnica tem se consolidado até hoje como o principal meio de as pessoas atingidas acessarem informações e lutarem pela reparação justa e integral dos danos sofridos.  De acordo com Júlia, dentre as conquistas  do trabalho do Instituto Guaicuy como assessoria técnica,  desde junho de 2020, estão: o apoio na organização social e territorial das pessoas atingidas, a visibilidade para Povos e Comunidades Tradicionais e a identificação de problemas relacionados à execução do acordo firmado entre Instituições de Justiça, Vale e Governo do Estado, há pouco mais de dois anos. Também construíram, junto das comunidades afetadas, o levantamento e a identificação de danos individuais e coletivos, prestaram informações sobre o Plano de Reparação Ambiental, além de acompanhar e identificar problemas nos Estudos de Risco à Saúde.

Nesta quinta-feira (16), o Guaicuy se reuniu em atividade virtual com as pessoas atingidas das áreas onde o Instituto atua (Curvelo, Pompéu e comunidades da Represa de Três Marias e do Rio São Francisco) para informá-las sobre a decisão.  Para Marcus Vinícius Polignano, presidente do Guaicuy, a forma abrupta como os recursos foram redimensionados inviabiliza o trabalho das assessorias técnicas, atravessando o direito das pessoas atingidas.  “Em reuniões realizadas com mais de 280 pessoas atingidas e representantes de comissões e núcleos, na noite desta quinta-feira, eles falaram da importância da manutenção das assessorias e que sem elas eles se sentem inseguros quanto ao processo de reparação dos danos. Esse cenário é preocupante. E enquanto isso a Vale dispõe de escritórios de advocacia para intervir no processo e defender seus interesses e os atingidos ficam sem esse amparo e perspectiva de serem ouvidos e se fazerem ouvidos”. Também nesta quinta-feira,, um requerimento na Comissão de Direitos Humanos  foi aprovado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais para debater o corte abrupto de orçamento que vai, mais uma vez, atingir as comunidades.

Foto: Henrique Fornazin

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