Liderança do Quilombo Rio dos Macacos, na Bahia, Dona Maria de Souza Oliveira morre aos 95 anos

Idosa era um símbolos de resistência da comunidade vizinha à Base Naval de Aratu e que por anos enfrentou disputa judicial contra a Marinha por reconhecimento.

g1 BA

A quilombola Maria de Souza Oliveira, de 95 anos, morreu, nesta sexta-feira (17). A idosa era considerada uma das principais lideranças Quilombo Rio dos Macacos, que fica em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador. A informação foi confirmada por lideranças da comunidade através das redes oficiais do quilombo.

A causa da morte não foi divulgada. Dona Maria, como era mais conhecida, foi enterrada ainda na tarde desta sexta-feira, no Cemitério de Simões Filho.

Nascida na antiga Fazenda Macaco, que, ao lado das fazendas Aratu e Meireles, deu origem ao Quilombo Rio dos Macacos, Dona Maria foi cozinheira durante a construção da Base Naval de Aratu, na década de 1940, quando vendia alimentos para operários que trabalharam na obra.

Na década de 1970, após a construção da Vila Naval de Aratu, trabalhou como lavadeira e faxineira para famílias militares da Marinha.

Referência na comunidade como parteira, rezadeira e promotora de festas, Dona Maria tinha quatro filhos, além de netos e bisnetos. Ela se tornou umas das principais lideranças do local durante o período de enfrentamento de batalhas judiciais pela permanência do quilombo no local onde foi fundado.

O Quilombo Rio dos Macacos disputou território com a Marinha, desde meados de 1970. O conflito começou depois que a Base Naval de Aratu foi construída e a União pediu a desocupação da área pelos quilombolas. Depois de mais de 40 anos de disputa territorial, a titulação das terras do Quilombo Rio dos Macacos ocorreu em 2020.

Por muitos anos, os quilombolas do Rio dos Macacos denunciaram ações violentas por parte de militares da Marinha, como invasões a residências e agressões, agressões. Em algumas delas, militares chegaram a ser afastados por causa de ações truculentas contra moradores.

O acesso dos quilombolas ao território era controlado pela Marinha, que muitas vezes impedia que visitas chegassem no local, como o Bando de Teatro Olodum, que já foi barrado na entrada. Muitos moradores também relataram agressões nesse acesso à área.

Em 2018, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) esteve no quilombo para observar a situação de garantia dos direitos humanos da população no local.

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Maria de Souza de Oliveira, a Dona Maria, com 84 anos em 2012, na frente da sua casa, no Quilombo Rio dos Macacos.

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