“Metade da humanidade são mulheres; a outra metade são filhos delas” Parte II. Por Nilma Bentes[1]

Há algum tempo divulguei um artigo com título similar, sendo que desta feita está mais ´pretuguês´.[2]

Por acreditar ser um tema muito difícil, a tentativa era de ´puxar pela língua´ de alguém para continuar a conversa. Não deu certo. Gosto de brincar dizendo: ‘Penso, logo desisto´! Não foi o caso pois resolvi ´cascavilhar/cascaviar´ na internet e estou voltando ao tema da secular/milenar dominação masculina sobre as mulheres, no chamado mundo ocidental – não só nele, aliás. Então, primeiramente, vou copiar trechos de um texto pertinente: da Gazeta Digital[3], por exemplo:

“Homens e mulheres quando confrontados com uma situação de estresse agudo, produzem um fluxo poderoso de substâncias neuroquímicas e hormônios. Até recentemente julgava-se que ambos reagissem da mesma maneira.com uma resposta psicológica que ficou conhecida como “lutar ou fugir”, uma expressão cunhada em 1932 por W.B.Cannon. 

Herdada dos homens das cavernas, essa reação química, conforme foi teorizada, coloca a pessoa na rápida disposição biológica de decidir se irá fugir ou se há alguma chance de ficar e enfrentar o perigo. A glândula adrenal recebe o sinal de que algo está muito errado e dispara a produção imediata do hormônio cortisol, que por sua vez inibe o sistema imunológico enquanto aumenta excessivamente a produção de glicose e oxigênio nos músculos. 

Com a liberação de adrenalina o coração dispara, a respiração acelera e as pernas e os braços esquentam com o aumento do fluxo sanguíneo para nos ajudar a correr ou subir em árvores – na savana é claro. Até mesmo o sangue do cérebro frontal vai para a espinha dorsal, já que pensar é a última coisa que fazemos em tal situação. O importante, na pré-história, era ter a habilidade de “correr ou lutar” em tais situações e não ficar raciocinando sobre o que deveria ser feito. 

Mas, estudos da Universidade da Califórnia – UCLA ao observar que nem sempre a mulher, na pré-história, podia lidar com apenas essas duas opções, sugeriram que algo mais deveria se passar no cérebro feminino. 

Para começar as mulheres são menores e mais frágeis fisicamente, portanto nem sempre poderiam lutar. Se estivessem em uma gravidez avançada não teriam como correr, muito menos lutar. E carregando um filho pequeno nos braços essa coisa de “correr ou lutar” estaria definitivamente fora de questão. As pesquisas já demonstraram que as fêmeas de mamíferos quase nunca abandonam seus bebês em situação de perigo.

Cuidado e intimidade – Então, o cérebro feminino precisou desenvolver outras estratégias de sobrevivência e evolução, caso contrário nem estaríamos mais por aqui. Para a pesquisadora Shelley Taylor, os caminhos da agressão dos cérebros masculinos são muito mais diretos do que o das mulheres. No cérebro feminino o circuito para a agressão é mais estreitamente ligado a funções cognitivas, emocionais e verbais. Sim, exatamente o que você pensou. Em situação de estresse, na savana, a mulher provavelmente gritava – e muito – não só para assustar o agressor, mas também para atrair as outras mulheres que em bando poderiam ajudá-la. Esse comportamento de vínculos sociais é chamado de “cuidado e intimidade”, ou na expressão em inglês: tend and be-friend.

Ao seguir esse comportamento instintivo a mulher também produz um outro hormônio chamado de oxitocina, o hormônio do cuidar. Ao ser mais propensa a cuidar de seus filhos e a estar com outras mulheres – cuidando-se entre si – a oxitocina que é produzida ameniza a avassaladora invasão do cortisol no cérebro.

O homem também produz oxitocina, mas em quantidades pequenas e em situações muito especiais, já que a testosterona (o hormônio da energia e da agressividade) costuma preponderar, até mesmo inibindo os demais. (…)”;” (…) gritar para quem socorrer? As mulheres de hoje, quase sempre, precisam decidir sozinha por ficar e lutar. E o que é pior, com os filhos no colo!”. (rsrsrsrs, meus).

Pois é; acredito que o texto explica muito melhor – e elegantemente-  o que tentei dizer na questão da ´força física´ dos homens até porque sinaliza para quantidade de testosterona e ´administração´ de adrenalina; também ´divisão sexual´ e outros tópicos abordados. Aqui quero destacar o ponto que tratei como ´Monoteísmo´[4].

“d) Monoteísmo – Difícil que uma pessoa ´ informada´ discorde de que o monoteísmo chancela o machismo. Veja, por exemplo, as macro-religiões. No Cristianismo, existe a figura do Pai, do Filho e do Espírito Santo; tudo no masculino, sendo que somente a expressão ´ Santíssima Trindade ´ está no feminino. Quando pensamos no Judaísmo, Confucionismo, Islamismo, Budismo e outras, a hegemonia de Deus ou Profetas   homem/masculino continua. É provável que somente algumas religiões de matrizes africana-negras e indígenas/nativas de vários lugares, incluam a presenças de Entidades e Sacerdotisas/Yabás, mas mesmo assim, lá estão um Tupã e um Oxalá-Olorum.”.

Creio que me enganei ao falar que o monoteísmo chancela o machismo, pois, a rigor, foram/são as religiões de forma geral, responsáveis pelo vigor do machismo/sexismo, praticamente, desde o feudalismo até aqui. Sabe-se que a religião católica, por exemplo, tinha um poder fortíssimo e era somente acessando igrejas que se ampliavam conhecimentos transmitidos por meio da escrita. E quem tinha acesso a isso? Só homens. Até hoje o sacerdócio na igreja católica[5] é absolutamente masculino. Ou seja, a questão teológica[6] implicou no acesso dos homens ao ´conhecimento científico ´ e pôde, por isso, fazer com que eles fossem/sejam absolutamente hegemônicos nessa área (não só nela), que tem pouquíssimas mulheres reconhecidas como cientistas. Evidente que há encobrimentos, invisibilidades, mas como são hegemônicos fazem com que se sintam NATURALMENTE superiores e ´pregam´ que as mulheres são NATURALMENTE inferiores. Concluindo: As religiões são fortemente responsáveis pelo alicerce e manutenção do machismo/sexismo, sempre conjugada ao sistema econômico.

Belém-Pará-Amazônia-Brasil   –   18.05.2023

[1] Engenheira Agrônoma, ativista do movimento negro, sendo uma das fundadoras do CEDENPA-Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará; também da Rede Fulanas NAB-Negras da Amazônia Brasileira. Idealizadora da Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver-2015, quando estava compondo a coordenação da AMNB-Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras

[2] O título parafraseia Efu Nyaki, e ´pretuguês´ trata-se de um termo usado por Lélia Gonzalez, citando um africano lusófono – por informações que obtive.

[3] https://www.gazetadigital.com.br/editorias/economia/saiba-por-que-homens-e-mulheres-reagem-de-modos-diferentes/277071 – copiei quase todo o texto, para evitar mutilá-lo.

[4] Lembre que nem sempre vigorou o monoteísmo – havia crença em vários deuses e deusas

[5] Catolicismo e também as demais: Judaísmo, Hinduísmo, Islamismo, sendo que no Protestantismo há formação de ´pastoras´) : Luteranas, Presbiteriana;  Calvinista , Adventista do Sétimo Dia,  Metodista,  Batista e da Anglicana,  Episcopal; Petencostais : Congregação Cristã do Brasil, Assembléia de Deus, Evangelho Quadrangular, Brasil Para Cristo, Deus é Amor, Casa da Benção etc.; Neopentecostais (incliu ´Teologia da Prosperidade´, participação política-partidária, etc.) :Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus, Renascer em Cristo, Sara Nossa Terra etc.) (ver inclusive –  file:///C:/Users/Dell/Downloads/jeanluiz,+14-O+crescimento+das+ igrejas+ neopentecostais +no+Brasil+um+olhar+sobre+a+pol%C3%ADtica+da+Igrej-1.pdf)

[6] Lembrar que Isaac Newton era teólogo

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