Países em desenvolvimento prometem insistir em demanda por financiamento climático na COP28

ClimaInfo

O 58º encontro dos órgãos subsidiários (SB58) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) terminou nesta 5ª feira (15/6) em Bonn, na Alemanha. O último dia foi esvaziado, com os negociadores fechando os últimos detalhes nos textos finais, em meio ao alívio por terem evitado uma catástrofe diplomática com a aprovação da agenda do encontro.

Mas o alívio não apaga o óbvio: as negociações climáticas da ONU sofrem uma crise de confiança que pode ameaçar o esforço global contra as mudanças climáticas. O tecido diplomático foi esgarçado até o limite em Bonn, com grupos de países inflexíveis em suas posições e dificultando ao máximo qualquer entendimento.

Entre os maiores desapontados pelos resultados tímidos de Bonn, estão os pequenos estados insulares. Na disputa entre países ricos e pobres em torno do chamado Programa de Trabalho em Mitigação (MWP), essas nações se posicionaram em defesa da proposta, sob o argumento de que o mundo precisa aumentar sua ambição imediata para evitar um aquecimento superior a 1,5oC neste século.

Para esses países, mitigação é uma questão existencial, já que muitos deles poderão literalmente desaparecer pela elevação dos oceanos. Ou seja, qualquer redução adicional de emissões de carbono possível é importante para mantê-los vivos. O Climate Home destacou o incômodo das pequenas nações insulares e o temor de que as discussões sobre mitigação comecem muitas casas atrás no tabuleiro diplomático da COP28, em novembro.

“Foi profundamente decepcionante, porque queríamos que as negociações climáticas de Bonn dessem o tom para a Conferência de Dubai [COP28], e realmente não podemos nos permitir mais adiamentos”, reclamou Harjeet Singh, da coalizão Climate Action Network (CAN), à Deutsche Welle. Ele lamentou também a indisposição dos países desenvolvidos (mais uma vez, vale ressaltar) em discutir como podem viabilizar novos recursos para o financiamento climático no mundo em desenvolvimento.

Quem também saiu frustrado de Bonn foram os países do Leste Europeu. Como o site POLITICO informou, eles não chegaram a um acordo sobre a definição da sede da próxima COP29, programada para o final de 2029. A Bulgária era a candidata da União Europeia, mas a Rússia bloqueou qualquer indicação de países do bloco em retaliação às sanções contra Moscou por causa da guerra na Ucrânia. Outros dois candidatos, Armênia e Azerbaijão, literalmente saíram de um conflito armado há pouco mais de um ano e dificilmente aceitarão a indicação do rival para a sede da COP29. A UNFCCC tem até a COP28 para definir o local da conferência do ano que vem, quando também deverá confirmar a COP30 de 2025 em Belém do Pará.

E, para fechar, pelo menos uma notícia boa: o secretariado da UNFCCC confirmou que, a partir da COP28, todos os participantes dos encontros oficiais que não sejam funcionários governamentais, mas que estejam na delegação de um país, deverão ser identificados pela organização a qual está formalmente associado. A medida é vista como uma resposta à presença cada vez maior de lobistas da indústria fóssil, muitos deles portando crachás governamentais que escondem sua verdadeira “lealdade”. A notícia é do Guardian.

Em tempo: O secretário-geral da ONU, António Guterres, segue em sua pregação contra a indústria dos combustíveis fósseis e pela necessidade de acabar com sua queima o quanto antes. Em um comentário que parece sob medida para rebater o discurso do futuro presidente da COP28, Sultan Al-Jaber, Guterres destacou que os países precisam “eliminar progressivamente [os combustíveis fósseis], passando a deixar petróleo, gás e carvão no solo ao qual pertencem”. O líder português também criticou a aposta em “ilusões” – como as tecnologias de captura e armazenamento de carbono – de muitos países, principalmente daqueles que produzem petróleo, como é o caso dos Emirados Árabes Unidos. Associated Press e Climate Home repercutiram a fala de Guterres.

Foto: GeoBangla

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