Gás fóssil vira alvo de disputa entre Petrobras e MME

ClimaInfo

As relações entre o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, parecem nunca ter sido das mais amigáveis, apesar de ambos concordarem com a ideia de explorar petróleo na foz do Amazonas. Desta vez é o gás fóssil que coloca os dois em rota de colisão. Silveira quer mais gás fóssil no mercado, mas Prates diz que não tem o que ofertar. Hora de pegar a pipoca, sentar no sofá e… torcer pela briga?

Elevando o tom, Silveira colocou em dúvida “do ponto de vista ético e moral” a atuação da Petrobras no assunto gás fóssil. O ministro reagiu às declarações de Prates, de que não haveria gás sobrando, informam epbrValor e Poder 360.

“O presidente da Petrobras dizer que nada pode ser feito é, no mínimo, para quem tomou posse há cinco meses, negligência”, disse em entrevista ao Valor na 6ª feira (16/6), ao defender o programa Gás para Empregar – que pretende usar o gás fóssil para “reindustrializar” o país, embora não se saiba como e nem se isso é necessário e viável.

O ministro disse que houve “descuido” e “desdém” com a política para o gás, que  segundo ele, tem sido tratado como “subproduto” da indústria do petróleo, enquanto fábricas que usam o insumo como matéria-prima no processo de produção industrial estão fechando. Silveira citou especificamente a paralisação das atividades de duas unidades de fertilizantes nitrogenados da Unigel, em Sergipe e na Bahia, detalha a CNN.

“Entre agradar Jean Paul [Prates] e cumprir o compromisso do governo com a sociedade brasileira de gerar emprego, oportunidade e [reduzir] desigualdade, eu prefiro que ele [Jean Paul Prates, presidente da Petrobras] feche a cara e que nós possamos lograr êxito”, disse Silveira, relata O Globo, reiterando o questionável discurso de que os combustíveis fósseis são o caminho do desenvolvimento econômico e social do país.

Na 4a feira (14/6), Jean Paul Prates negou que havia sobra de gás fóssil no país e disse que será preciso um “grande esforço” para gerar competitividade e conseguir usar o insumo para a produção de fertilizantes, por exemplo. Ainda defendeu que o combustível fóssil está sendo reinjetado em campos de petróleo porque “é preciso”.

“Não é divergência [com o ministro Alexandre Silveira], é a realidade. O Brasil é um país petrolífero. Infelizmente, o gás é associado ao petróleo. Precisamos do gás para produzir o petróleo. Se alguém quiser produzir mais gás que petróleo, todos nós vamos perder dinheiro, não só a Petrobras, como o país.”

No mesmo dia em que Silveira acusou a Petrobras, executivos do setor de petróleo e gás minimizaram publicamente o potencial gasífero do país, relata o Investing.com. O diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Mauricio Tolmasquim, e o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa, descartaram a possibilidade de o Brasil basear largamente sua matriz energética no insumo, devido ao baixo volume relativo de reservas e o alto custo de sua produção.

Especialistas ouvidos pelo O Globo dizem que a reinjeção do gás fóssil é feita também porque não há infraestrutura de escoamento – o que não fica pronto do dia para a noite. Logo, a ideia de Silveira de “jogar no mercado” o gás reinjetado para aumentar a oferta e reduzir os preços não se sustenta no curto prazo, simplesmente porque não há como trazer o combustível fóssil dos campos do pré-sal até o continente.

Enquanto isso, os grandes consumidores de energia, ávidos por energéticos mais baratos, não importando se vão aumentar as emissões, tentam jogar panos quentes na disputa. A Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (ABRACE) defende que o embate entre MME e Petrobras deva ser mediado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP). Segundo o Valor, a entidade defende que a ANP fiscalize o que a Petrobras está fazendo e tome decisões.

FolhaMetrópolesInfoMoneyPoder 360epbrValorCarta CapitalEstadãoO Globo e epbr noticiaram vários detalhes da disputa pelo gás fóssil.

Pedro Ladeira /Folhapress – Alessando Dantas

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