Além de protestarem contra a exploração de petróleo na Amazônia, Povos Indígenas adotam tom de cobrança e advertência no evento e cobram decisões políticas efetivas.
Encerrado nesse domingo (6/8), o “Diálogos Amazônicos” foi marcado por sentimentos opostos, relata o Brasil de Fato. De um lado, autoridades mostraram entusiasmo com a perspectiva de construir políticas públicas participativas, que levem em conta as vozes da Amazônia. De outro, lideranças indígenas adotaram tom menos triunfal e, dividindo palco com políticos do alto escalão em alguns painéis, cobraram ações efetivas.
No último dia do evento, manifestantes fizeram um ato contra a exploração de petróleo na região amazônica. A manifestação se dirigiu principalmente contra o pedido da Petrobras de perfurar um poço exploratório no bloco FZA–M–059, na bacia da Foz do Amazonas, informam CNN, Poder 360 e Correio Braziliense.
O cacique do Povo Karipuna, Edmilson Oliveira, representante do Conselho dos Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque – região que será diretamente afetada pela exploração de petróleo da Petrobras –, afirmou que a insatisfação refere-se também à falta de diálogo com os Povos Tradicionais.
“Estamos preocupados com esse projeto. A nossa costa tem três rios, com águas do oceano. Não estamos informados adequadamente de como se dá esse processo. Nós temos o nosso protocolo de consulta, nós exigimos a consulta! Quando eles falam que as Terras Indígenas estão fora de qualquer perigo, é motivo de preocupação porque isso não é verdade.”
A exploração de petróleo é parte do modelo de desenvolvimento que prevalece na região amazônica e que foi duramente criticado na cerimônia de abertura dos Diálogos Amazônicos, na 6ª feira (4/8), segundo a Agência Brasil. “O crescimento do país e da Humanidade não pode estar acima da vida”, defendeu a presidente da Federação dos Povos Indígenas do Pará, Concita Sompre.
“Os Povos Indígenas têm sofrido a violência do agronegócio, a violência das grandes mineradoras, a invasão dos territórios para criação do gado. Não aceitamos mais que o minério da nossa terra enriqueça os países de fora do Brasil, deixando a fome e a miséria nos nossos territórios. Parem de nos matar!”, denunciou Sompre.
Além da proteção dos territórios das comunidades, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) quer o fortalecimento de projetos de gestão territorial afetados pelo narcotráfico. Segundo o coordenador executivo da entidade, Kleber Karipuna, as propostas a serem entregues aos chefes de Estado que participarão da Cúpula da Amazônia já representam “novos tempos” para os Povos Indígenas, destaca a Agência Brasil.
“Temos grandes expectativas e estamos articulando estratégias com as lideranças e organizações indígenas e parceiras para levar protagonismo e as pautas indígenas para esses espaços”, acrescentou.
As soluções que estão sendo debatidas durante o evento “têm potencial para salvar o mundo”, frisa à Agência Brasil Hilário Moraes, coordenador Executivo de Articulação da organização das comunidades quilombolas Malungu. Mas, ele engrossa o coro de que para isso acontecer é fundamental a colaboração efetiva de todos os países participantes da Cúpula.
“Podemos salvar o planeta, mas a gente precisa ter essa cooperação dos países que estão na Amazônia Legal. Que eles realmente escutem e leiam o que ficará visível na carta-síntese que vai ser construída, falando de toda problemática e de toda emblemática que existe dentro da Amazônia”, acrescentou Moraes.
No sábado (5/8), foi lançado o movimento “Seres e Saberes da Amazônia”, formado por ativistas e militantes com atuação nas áreas social, sindical, política e acadêmica. A iniciativa surgiu para dar centralidade à região na política de desenvolvimento do Brasil e pretende aproximar pessoas e organizações com histórico de defesa da população do bioma que atuavam de forma isolada, explica o Brasil de Fato.
Um dos resultados do “Diálogos Amazônicos” foi a produção de cinco relatórios, a partir das discussões de cada uma das plenárias-síntese, que serão entregues aos líderes na Cúpula da Amazônia.Diversos veículos cobriram o “Diálogos Amazônicos”, como Projeto Colabora, Agência Brasil, Brasil de Fato, CNN, Correio Braziliense, O Globo e ((o))eco.
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Marco Santos / Agência Pará