Questão de tempo. Por Julio Pompeu

No Terapia Política

O tempo passa. Passa. Passa…
Rápido quando o instante é bom.
Devagar, no sofrimento.
Descompassado, na angústia.
Na espera do que não se quer que venha.
O castigo vem. Vem. Vem…
Está vindo, olha!
Certo como o tamanho dos segundos.
Inexorável como só poderia ser.
Ainda que não se queira que seja.
O espírito se aflige quando não quer o fim por vir.
Fantasia o tempo.
Pensa em outro fim para fugir do fim.
Devaneia um final diferente do infortúnio que se anuncia.
Que vai ser.
Que já é.
Que não pode ser.
Que será?
Mas e se?…
Espírito angustiado é cheio de “mas e se?”.
Foge da ideia para fugir do sentimento.
Foge do lugar para fugir do fim.
Mas o tempo vai junto.
Do lugar, da ideia e do sentimento.
E muda tudo.
Põe fim a tudo.
Para começar de novo.
De outro jeito.
Para outro fim.
Só o tempo não muda.
Ele só passa. Passa. Passa…
E o castigo vem.
Já veio, no anúncio do tempo de pagar pelo que se fez noutros tempos.
Tempos idos.
Tempo que já foi.
Está vindo.
Não! Não é possível!
Não pode ser!
É.
Vai ser.
Mas e se?…
Está passando rápido.
Acelerado.
Acelerando.
Mas alguém vai parar isso!
Tem que parar!
Por que não para?
Por que o tempo tem que vir?
Por que ninguém faz nada?
Por que só fazem o fim chegar?
Por que o fim tem que vir?
Maldito tempo!
Que não passa!
Que não vem!
Que amaldiçoa o espírito antes do tempo!
Que não dá mais tempo!
Não dá mais tempo…
Não há mais tempo para “mas e se”…
E se?…
O tempo de cada um acaba.
Em todo lugar.
Para qualquer um.
Até para você, Jair.
Já vem.
Já vai.
Já foi.

Ilustração: Mihai Cauli

 

 

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