Enquanto um deputado federal sugere mortes “de um lado ou do outro”, o prefeito de São Félix do Xingu dificulta operações para retirada de invasores.
A irresponsabilidade de algumas lideranças políticas críticas à operação do governo federal para retirada de invasores da Terra Indígena Apyterewa, no sul do Pará, beira o limite da criminalidade. Desde o começo do mês, agentes da Polícia Federal, do IBAMA e da Força Nacional de Segurança Pública trabalham na saída voluntária de não indígenas que ocupavam ilegalmente a reserva, que se tornou o território indígena mais devastado dos últimos anos no Brasil.
O De Olho nos Ruralistas destacou uma fala recente do deputado federal Delegado Caveira (PL-PA) – um nome/apelido que não poderia ser mais sugestivo – na qual incitou violência contra indígenas. “Ou vai morrer gente de um lado, ou vai morrer gente do outro. Eles [agentes federais] vão ter que matar muita gente para desobstruir essa área pretensa indígena Apyterewa”, disse Caveira em discurso na tribuna da Câmara dos Deputados.
O ataque do parlamentar pode parecer gratuito, mas uma olhada na relação de financiadores de campanha ajuda a explicar o tom agressivo. Entre seus principais doadores da campanha passada, estão os sócios da Frigol, o 4º maior frigorífico do Brasil, empresa acusada repetidas vezes na última década por comprar gado de – vejam vocês! – invasores da Terra Apyterewa. Alguns fornecedores da empresa figuram entre aqueles que tiveram gado apreendido pelo IBAMA nos últimos meses no território.
Outro político contrário à ação federal em Apyterewa é o prefeito de São Félix do Xingu, Cléber de Souza Torres. O Pará Terra Boa informou que o Ministério Público Federal (MPF) pediu à Justiça Federal o afastamento de Torres por interferir na retirada de invasores do território indígena.
Segundo o MPF, o prefeito está espalhando informações falsas para desinformar os invasores sobre a operação e incitar a violência contra os agentes federais. O pedido cita a morte de um invasor no último dia 16, que foi alvejado depois de atacar um agente da Força Nacional.
A ofensiva de políticos locais contra a desintrusão motivou a Associação Indígena Tato’a Povo Parakanã a encaminhar uma carta ao ministro Flávio Dino (Justiça) pedindo uma audiência urgente sobre a operação. Eles criticam o lobby político pesado dos invasores e pedem ao governo que cumpra com as inúmeras decisões da Justiça Federal que ordenaram a retirada dos invasores. “Realizar a desintrusão em definitivo da TI Apyterewa é um dever constitucional do Estado brasileiro”, diz a carta, citada por O Globo.
“O caso Apyterewa é um daqueles exemplos em que a história parece se repetir em forma concentrada: 500 anos em poucas décadas. Há de tudo: extração de ouro e madeira, trabalho análogo à escravidão, igrejas e missionários nas aldeias, invasores de Terras Indígenas virando políticos, políticos virando fazendeiros, gado e desmatamento, megaprojetos de desenvolvimento, assentamentos malfeitos – e pobreza, é claro, muita pobreza”, pontuou Carlos Fausto no Sumaúma sobre a situação do território.
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Prefeitura de São Félix do Xingu