Relatório da ONU reconhece os avanços catalisados pelo Acordo de Paris, mas mostra que é imperativo acelerar a descarbonização da economia de todos os países.
As Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) dos países para o Acordo de Paris ainda apontam para uma elevação da temperatura média global entre 2,5ºC e 2,9ºC sobre os níveis pré-industriais neste século – muito acima dos 1,5ºC acordados há oito anos para evitar estragos maiores pela mudança climática, que já ocorrem com cada vez mais frequência e intensidade.
A conclusão é da mais nova versão do relatório “Emission Gap Report” lançado na 2ª feira (20/11), às vésperas da COP28, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Numa infeliz sincronicidade, três dias antes a temperatura média global rompeu pela primeira vez o limite de 2ºC acima das temperaturas pré-industriais, chegando a 2,07ºC na 6ª feira (17/11).
Mesmo no cenário mais otimista analisado pelo relatório, no qual todos os compromissos de net zero são cumpridos, os países têm apenas 14% de chances de manter o aquecimento global abaixo dos 1,5ºC. Os atuais planos de redução de emissões colocam o mundo no caminho de aquecimento de até 2,9ºC – e isso pressupondo que as nações cumpram os seus compromissos incondicionais, destaca a Bloomberg.
Para manter a elevação da temperatura abaixo dos 2ºC, e idealmente 1,5ºC, as emissões terão de diminuir entre 28% e 42% até ao final desta década. Segundo o Guardian, isso equivale a cortar 22 bilhões de toneladas de CO2 do total projetado atualmente em 2030.
O relatório conclui que, embora tenha havido algum progresso tanto em políticas climáticas mais efetivas como na redução dos custos da energia de baixo carbono, o mundo continua no caminho para um aquecimento de cerca de 2,7ºC até 2100, relata o Carbon Brief.
“Não há nenhuma pessoa ou economia no planeta que não seja afetada pelas mudanças climáticas. Por isso precisamos parar de estabelecer recordes indesejados em termos de emissões, temperatura e condições meteorológicas extremas. Em vez disso, devemos sair do velho caminho da ação insuficiente e começar a estabelecer outros recordes: na redução de emissões e no financiamento climático”, disse Inger Andersen, diretora executiva do PNUMA.
Na semana passada, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) estimou que as concentrações médias de CO2 situaram-se pela primeira vez cerca de 50% acima dos níveis na era pré-industrial, ao mesmo tempo que a concentração de outros gases de efeito estufa, como metano e óxido nitroso, também aumentaram no último ano. A Terra não registra níveis semelhantes de CO2 desde entre 3 e 5 milhões de anos, quando a temperatura global era de 2ºC a 3ºC superior à atual e o nível do mar 10 a 20 metros mais alto do que hoje.
g1, Reuters, DW, Axios, Expresso, New York Times, Business Green, ABC e edie também repercutiram o novo relatório do PNUMA.
Em tempo: Já é praticamente certo que 2023 será o ano mais quente da história, mas, com emissões recordes e mudança climática na velocidade da luz, nada é tão ruim que não possa piorar. Pela primeira vez, a temperatura média global foi mais de 2ºC mais quente do que os níveis pré-industriais, segundo dados preliminares compartilhados no XTwitter por Samantha Burgess, vice-diretora do Serviço de Alterações Climáticas Copernicus, da União Europeia, informam CNN, Washington Post, Axios e Down to Earth. Embora não signifique que se trate de um estado permanente de aquecimento, é mais uma prova de que o planeta está ficando cada vez mais quente e avançando para uma situação de longo prazo na qual será difícil – em alguns casos impossível – reverter a crise climática.
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Unep.org