Cultivando vida e comida saudável

Comunidade assentada no distrito de Miraporanga (MG) é exemplo de produção agroecológica e economia solidária

Por Heloisa Sousa | CPT Nacional

Da luta pela terra e pela vida digna e do desejo de provar que uma economia baseada na cooperação e na solidariedade é possível, nasceu a Cooperativa de Economia Popular Solidária da Agricultura Familiar Reflorestamento e Agroecologia (Coopersafra). Localizado na zona rural do distrito de Miraporanga, em Uberlândia (MG), o Assentamento Celso Lucio Moreira da Silva abriga a experiência que é composta por 60 famílias. São cerca de 180 pessoas produzindo alimento saudável para a alimentação própria e também para a comercialização.

A iniciativa nasceu em 2012 quando famílias do assentamento, com o apoio do Centro de Incubação de Empreendimentos Populares Solidários (Cieps), iniciaram um processo de transição agroecológica. Hoje, a Coopersafra realiza a comercialização de seus produtos na Feirinha Solidária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), que se originou de um projeto de extensão entre a UFU e a cooperativa, em 2015. A partir deste núcleo de agroecologia, com sete famílias certificadas como produtoras orgânicas, começou um trabalho de aumento da produção em busca de novos mercados consumidores.

Em 2021, a cooperativa inicia a comercialização de produtos destinados à merenda de escolas públicas do município de Uberlândia. Atualmente, fazem parte da cesta de produtos entregues três itens orgânicos — repolho, couve e alface —, algo inédito nas escolas atendidas no município. A comunidade caminha para que essa lista de produtos orgânicos cresça cada vez mais.

“Como resultado deste processo, as famílias ligadas à cooperativa possuem hoje uma fonte segura de geração de renda, melhorando sua qualidade de vida e contribuindo para a sustentabilidade do planeta no processo de produção orgânica. Há ainda o processo de conscientização e tentativa de contagiar os agricultores convencionais a fazerem o mesmo”, explica José Rubens Laureano da Conceição, agricultor e morador do assentamento.

Da luta pela terra à produção agroecológica

A criação da Coopersafra se deu em 2014, se formalizando apenas no ano de 2018, enquanto a homologação das famílias na terra ocorreu em maio deste ano. Da necessidade de produção de alimentos para consumo próprio e melhoria da qualidade de vida no assentamento Celso Lucio Moreira da Silva, as famílias se organizaram para a criação cooperativa.

A comunidade se formou a partir da ocupação da fazenda Carinhosa, em 2009, por 72 famílias do Movimento de Libertação dos Sem-terra (MLST), em um processo que levou 13 anos de uma longa batalha jurídica até a criação do assentamento. “Quantas vezes um mandato de reintegração de posse colocou fim aos nossos sonhos? Porém, enfrentamos esse sistema e vencemos a batalha da conquista da terra. Famílias sem-teto e sem-terra se transformaram em agricultores familiares contribuintes da sociedade e da construção de um mundo melhor. Pessoas, antes sem renda, geram riquezas e fonte de trabalho e renda para outras pessoas”, conta José Rubens.

Durante esse período, as famílias se organizavam com apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Universidade Federal de Uberlândia, da Central de Movimentos Populares (CMP) e de outros movimentos de luta, realizando feiras e vendas diretas ou indiretas em Uberlândia.

Para o agricultor, foram anos de luta intensa, mas que valeram a pena. “Hoje somos assentados da reforma agrária, sinto orgulho de dizer que sou sem-terra, pois quem é, jamais deixará de ser. Hoje temos terra, temos teto, temos qualidade de vida e temos a Coopersafra, que gera comida de verdade, renda, trabalho. De sobra, doamos para sociedade a recuperação de matas e nascentes, a substituição dos pastos por comida e a degradação das matas ciliares por floresta”,  completa José Rubens.

Este relato faz parte da série de experiências da campanha ‘Fraternidade Sem Fome, pão na mesa e justiça social’

Com informações da CPT Minas Gerais

Foto: CPT Minas Gerais

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

one + seventeen =