Responsável pelo maior desastre ambiental urbano em curso no país, Braskem teve receita de R$ 95,6 bilhões, e Petrobras e Novonor são suas maiores acionistas.
A petroquímica Braskem é a 6ª maior fabricante de produtos químicos do planeta. Em 2022, a empresa, que tem a Petrobras e a Novonor (ex-Odebrecht) entre suas principais acionistas, registrou receita líquida de R$ 95,6 bilhões, informa a Folha. Além disso, a companhia é responsável por expulsar mais de 55 mil pessoas de suas casas e destruir bairros inteiros de Maceió, uma tragédia que começou em 2018, lembra o Observatório da Mineração, e se agravou nos últimos dias, diante do colapso iminente de uma das 35 minas de sal-gema que foram exploradas pela empresa na cidade.
Mas essa mesma Braskem rumou para a COP28 para cumprir uma “agenda verde”. Executivos da empresa iriam proferir duas palestras na conferência do clima, segundo a Folha, sobre “o papel da indústria na economia circular de carbono neutro” e os “impactos da mudança do clima e a necessidade de adaptação da indústria”. Diante da repercussão do afundamento de Maceió e do absurdo que seria a empresa responsável por isso palestrar numa conferência climática, a petroquímica cancelou suas participações, disse Lauro Jardim n’O Globo.
“Ver a Braskem e a Vale aqui, com uma agenda verde, me incomoda muito. Essas empresas não têm uma agenda sustentável”, disse o advogado Felipe Hotta. No sábado (2/12), quando era crescente a ameaça da mina 18 da Braskem abrir um buraco do tamanho do estádio do Maracanã na capital alagoana, ele procurava algum representante da petroquímica na COP.
Os bairros de Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e Farol são os mais atingidos. Com remoção das famílias e desocupação das casas, a região virou uma grande cidade fantasma, com casas em ruínas, rachaduras nos imóveis, fendas nas ruas, afundamentos de solo e crateras. O evento catastrófico impacta uma área equivalente a 20% de Maceió, e sem nenhuma solução definitiva para a maior parte dos moradores desalojados, destaca a Mídia Ninja.
“Eles falaram que a gente tinha que sair de qualquer jeito. E aí chegaram lá com dois ônibus; a situação foi essa que gerou lá uma confusão, porque muitos não aceitaram, porque a gente já vive indignada há muitos anos, muitos meses e anos, e aí eles chegaram do nada, para retirar todo mundo”, disse a marisqueira Marivânia dos Santos Venâncio ao g1.
Além da tragédia humana e do escárnio de ver a companhia que causou tanto estrago participando da COP28, políticos tentam fazer o que deviam ter feito há tempos agora que a porta foi ainda mais arrombada – e por disputa eleitoreira. É o que se vê na CPI da Braskem, proposta pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Segundo o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a CPI depende dos líderes da casa para sair do papel, relata a CNN. Mas o presidente do Senado em exercício, Rodrigo Cunha (Podemos-AL), disse que a comissão para investigar a Braskem “surgiu de maneira viciada”, porque, segundo ele, Calheiros teria ligação com a petroquímica, informa o Correio Braziliense. Cunha é aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), inimigo político de Renan.
O desastre ambiental provocado pela Braskem em Maceió foi repercutido também por Carta Capital, Valor, Folha, Veja, Poder 360, Correio Braziliense, Estadão, Jovem Pan e O Globo.
Em tempo: Cercado por dezenas de representantes de movimentos sociais na COP28, o secretário de transição energética do Ministério de Minas e Energia (MME), Thiago Barral, ouviu em silêncio uma série de críticas aos projetos da pasta, como a exploração de petróleo na foz do Amazonas e projetos de mineração, relata a Folha. A principal reclamação foi a falta de escuta às populações afetadas pelos empreendimentos. “É justo para quem? É inclusiva para quem? A que preço vai sair essa transição energética? Queremos, sim, participar do debate”, afirmou Luciane Souza, da rede Vozes Negras pelo Clima. Também da rede, Camila Aragão mencionou a seca e a contaminação pelo garimpo. “Sofremos isso na base. Quando nossos Povos Originários estão bebendo água com minério, quando não tem peixe mais na Amazônia e tem seca. Então nós não queremos mais demagogia ou hipocrisia; nós queremos participar das decisões na mesa”, afirmou.
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Foto: Zazo via Mídia Ninja