Famílias acampadas há mais de 20 anos promovem doações de alimentos da agricultura familiar em Mato Grosso

Caminhada Solidária foi realizada nesta quarta-feira, no município de Jaciara (MT)

Por Júlia Barbosa | CPT Nacional e Luana Bianchin | CPT Mato Grosso*

Na manhã desta quarta-feira, 6/12, famílias acampadas da Gleba Mestre I, em Jaciara (MT), realizaram uma Caminhada Solidária pelo município. O objetivo da ação foi a doação de alimentos produzidos no acampamento produtivo, onde as famílias vivem há mais de 20 anos à espera de serem assentadas pela Reforma Agrária.

A área reivindicada pelas famílias acampadas pertence à União, na qual o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) criou um Projeto de Assentamento em 2004. Até hoje, no entanto, as famílias não foram assentadas, devido a área estar grilada pela Usina Porto Seguro e Pantanal/Grupo Naoum.

Ainda este ano, entre os dias 4 e 11 de dezembro, está marcado o julgamento do Mandado de Segurança (nº. 1012830-44.2022.4.01.000), interposto pelos ocupantes ilegais da área, que está concluído há quase quatro anos com a Desembargadora Maria do Carmo, sem nenhuma decisão.

De acordo com Mário Demko, presidente da Associação de Pequenos Produtores Rurais de Renascer – Gleba Mestre I, o trabalho da agricultura familiar é dificultado pela demora injustificada na conclusão do processo. “Estamos nos mobilizando para fazer essa Caminhada Solidária com o objetivo de demonstrar a nossa capacidade de produzir. Porém, somos impedidos de exercer nossa profissão de agricultores somente por morosidade da justiça brasileira”, afirmou.

Apesar dos desafios destes 20 anos acampados, com diversas violações de direitos humanos cometidas pelos ocupantes ilegais contra as famílias e pelo próprio Estado, as famílias seguem mobilizadas. As ações realizadas, como a Caminhada Solidária, buscam visibilizar a luta por uma vida digna no campo, com a produção de alimentos saudáveis para a subsistência familiar e para a comercialização como forma de geração de renda.

A nossa intenção é conseguir provar à sociedade local o quanto é melhor ter uma comunidade de produtores da agricultura familiar, ao invés de uma usina açucareira e, agora, da produção de commodities. Não vemos soja nas mesas das famílias da cidade” – Mário Demko, presidente da Associação de Pequenos Produtores Rurais de Renascer – Gleba Mestre I.

Semanalmente, cerca de cinco toneladas de alimentos produzidos por essas famílias são entregues nos municípios de Jaciara, Rondonópolis e Cuiabá, totalizando em torno de 20 toneladas de alimentos mensalmente. Toda essa produção ocorre em apenas 478 hectares, atualmente ocupados pelas famílias acampadas, que aguardam o assentamento no restante da área.

Os alimentos doados são diversificados, como abobrinha, mandioca, milho verde, feijão catador, berinjela, quiabo, jiló, maxixe, pimenta, maracujá, melancia, banana, entre outros. São alimentos produzidos de forma saudável e que estão nas mesas de brasileiros e brasileiras todos os dias, frutos da agricultura familiar.

De acordo com a Comissão Pastoral da Terra Regional Mato Grosso, que acompanha as famílias da Gleba Mestre I, a Caminhada Solidária tem o intuito de mostrar à população de Jaciara e região que as famílias acampadas são de trabalhadores e trabalhadoras, que sonham com seu pedaço de terra e com a garantia de um futuro melhor para seus filhos e netos.

“A doação de alimentos saudáveis por parte das famílias acampadas leva uma mensagem para que a agricultura familiar seja valorizada, pois ela é responsável por fornecer a maior parte dos alimentos de base alimentar da população brasileira” – Luana Bianchin, agente da CPT MT.

A realização da Caminhada Solidária contou com o apoio da CPT Regional Mato Grosso e da Associação Ecológica e Meio Ambientalista – AEMA. As ruas de Jaciara foram percorridas por camponeses e camponesas que reivindicam a Reforma Agrária pela garantia não apenas de terra e trabalho, mas de alimentação digna e saudável, no campo e na cidade.

*Foto: Luana Bianchin | CPT Mato Grosso

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

12 + treze =