Povo Xakriabá acusa PM de matar indígena em MG: ‘Ele levou um tiro no peito e morreu na hora’

Assassinato ocorreu durante um evento de arrecadação de dinheiro para a cirurgia de um dos indígenas da comunidade

Caroline Oliveira, Brasil de Fato

O povo indígena Xakriabá acusou a Polícia Militar de Minas Gerais de atirar contra Alisson Lacerda Abreu, de 25 anos, durante um evento beneficente na aldeia Tenda, da Terra Indígena Xakriabá, em São João das Missões, no norte mineiro, no último sábado (9).

Karine Xakriabá, uma das moradoras da aldeia, afirmou em publicação no Instagram que um dos policiais atirou contra Alisson depois que a população questionou uma abordagem truculenta que a PM teria feito contra alguns meninos da aldeia.

Após utilizarem spray de pimenta contra as pessoas que estavam no evento, a discussão teria escalado e resultado no disparo de um tiro contra Alisson, que chegou no hospital mais próximo já sem vida.

“No sábado, a gente fez um evento de arrecadação para a cirurgia de um morador da aldeia. E aí, a gente oficializou a polícia para fazer a segurança do evento. Teve uma hora que eles fizeram uma abordagem ilegal com os menores que estavam. E as minhas meninas foram questionar. Aí começaram a discutir. Ele jogou spray de pimenta para todo mundo. Tinha muita gente, tinha crianças. O pessoal começou a passar mal e a se revoltar com os policiais”, afirma Karine Xakriabá.

“Foi aí fora que o menino caiu no chão, depois de um tiro. Aí todo mundo ficou muito choque e se revoltaram. Aí o pessoal começou a quebrar a viatura com raiva, e dois policiais correram. Aí levamos ele pro hospital, mas já chegou lá morto. Ele praticamente morreu na hora porque levou um tiro no peito.”

As violências, no entanto, teriam continuado nas próximas horas. De acordo com a comunidade, na madrugada do domingo (10), por volta das 3h, os policiais chegaram na aldeia com oito viaturas da PMMG, invadiram as casas de testemunhas da morte de Alisson e torturaram sete jovens Xakriabá, que foram detidos e levados para 30º Batalhão da PM de Januária.

“Eles bateram e jogaram água nos meninos. Um deles até desmaiou. Os meninos foram liberados quase já no domingo à noite. Eles estavam sem comida e com uma garrafa de água dividir entre eles”, conta Karine Xakriabá.

Em seu perfil no X, antigo Twitter, a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG), tratou o assunto como “grave episódio de violência policial”.

“Estamos em diálogo com a organização interna e membros da comunidade. Já estamos tomando as providências necessárias, oficiando os órgãos junto ao Estado, pela comissão de Direitos Humanos e Encaminhando ao Ministério Público Federal (MPF) estaremos autuando também em âmbito Federal, pela Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais. Repudiamos toda a violência policial, parem de nos matar!”, publicou.

Outro lado

O Brasil de Fato enviou um e-mail para a Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais com uma solicitação de posicionamento sobre o ocorrido. A reportagem questionou se uma investigação foi aberta e se os policiais denunciados já foram identificados. Até o momento, no entanto, não houve uma resposta.

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) também foi questionada sobre o ocorrido. A comunidade informou ao Brasil de Fato que acionou o órgão. Também não houve um retorno até a publicação da reportagem.

Edição: Thalita Pires

Imagem: Comunidade também afirma que policiais voltaram no dia seguinte e torturaram jovens – Reprodução

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