Comunidades ribeirinhas do Rio Ituxi (AM) denunciam sofrimento com os danos causados pelos agrotóxicos

Por Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional) e Luis Antonio Fernández (CPT Lábrea), com apoio da comunidade local

*Utilizamos nomes fictícios para proteger a identidade das pessoas e comunidades

Moradora de uma comunidade extrativista às margens do Rio Ituxi, um dos afluentes do Rio Purus em Lábrea (AM), dona Maria* costuma banhar sua bebê de 1 ano nas águas do rio como sempre fez durante a vida, junto com a comunidade local. Mas na quinta-feira da semana passada, algo aconteceu diferente: “Dei banho na minha filha de tarde, e na mesma noite, ela já começou a ter febre, frio, um monte de carocinhos na pele, e fica na rede sem conseguir aguentar nem usar uma roupa no corpo.”

A preocupação deu lugar ao desespero de centenas de pessoas: há alguns dias, elas estão percebendo as águas do rio cheias de manchas, os peixes morrendo e diversas outras pessoas da comunidade também ficando doentes.

A morte dos peixes não é por causa da seca, porque as chuvas estão voltando e o nível do rio está aumentando. Moradoras e moradores denunciam que a raiz do problema é a contaminação pelo uso de agrotóxicos por parte de fazendeiros fora e em torno da unidade de conservação, começando principalmente na cabeceira do rio, através de desmatamento e uso de pulverização com aviões. Em outras propriedades com criação de gado, o esterco é jogado nos rios.

Todos estes danos prejudicam totalmente as comunidades que consomem a água para produzir alimentos, pescar, tomar banho e outras atividades essenciais para a vida, inclusive porque a maioria das famílias não tem poço. Já foram enviados ofícios para os órgãos públicos que tratam da água da cidade, além do Ministério Público Estadual e Federal (MPF) e ICMBio, já que se trata de uma reserva extrativista.

Apesar da movimentação, os ribeirinhos e ribeirinhas ainda esperam por resposta, socorro e soluções que promovam o Bem Viver e penalizem os criminosos. A região, que tem 123 famílias distribuídas em 14 comunidades e 07 localidades, já sofre com a expansão do desmatamento ilegal, por efeito da grilagem e de disputas por terra que afetam suas atividades de coleta de castanha, óleo de copaíba, açaí, manejo do pirarucu e outros produtos extrativistas. Os danos do veneno são agravantes que precisam ser combatidos, junto com os crimes ambientais e as violências já sofridas.

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