A manipulação jornalística e o “racismo” de Lula

Por Lenilson de Mello, em seu perfil

O único veículo jornalístico que fez jornalismo sobre o assunto do dia foi Metropoles. Primeiramente que a jovem mulher negra no evento disse ao Metropoles que “ficou emocionada e disse não ter se sentido ofendida pela declaração do presidente”. Para início de conversa. Depois, vamos ao trecho inteiro do discurso sem cortes maliciosos:

“Essa menina bonita que está aqui, eu estava perguntando: o que faz essa moça sentada, que eu não ouvi ninguém falar o nome dela? Falei: ‘É cantora? Vai cantar?’. Não, não vai ter música. ‘Então, vai batucar alguma coisa? Porque uma afrodescendente assim gosta do batuque de um tambor.’ Também não é. ‘Nossa, então é namorada de alguém?’. Também não é. O que que é essa moça?

Essa moça foi premiada o ano que vem como a mais importante aprendiz dessa empresa [Volkswagen] e ganhou um prêmio na Alemanha. É isso que nós queremos fazer para as pessoas neste país. Eu vou lhe contar uma coisa. Nós, anunciamos essa semana, uma política para o Ensino Médio. Nós criamos uma poupança para os alunos do Ensino Médio.”

Em seguida Lula explica como funcionará este programa; depois ele continua falando sobre o jovem de baixa renda que consegue se formar no Ensino Médio:

“Aí ele [o aluno formado] vai começar a sonhar em construir uma carreira e continuar estudando. Aí tem muita gente que falou para mim ‘Mas, Lula, você está gastando dinheiro, está gastando dinheiro…’ Não, gastando não. Estou investindo. Eu vou gastar dinheiro quando esse jovem que não está estudando for para o crime organizado ou ir para o CAC ou ir para a cocaína ou ir para o crime organizado e virar bandido… Aí eu vou gastar fazendo cadeia. Vou gastar prendendo ele. Então é preciso gastar com educação para que, neste país, não nasçam pessoas com a possibilidade de virar bandido. Porque eu quero que milhares de jovens tenham a mesma possibilidade que essa jovem teve e que muitos de vocês [dirigindo-se à plateia] tiveram.”

Perfis de oposição nas redes sociais cortarem um pedaço do discurso para atacar o @LulaOficial e descontextualizar a sequência de encadeamento do discurso, é parte. É jogo baixo, mas é parte do jogo. Agora, é dever do jornalismo profissional ouvir a fala toda, anotar tudo, perguntar como ela se sentiu e fazer um balanço geral da fala, mesmo que seja para criticar, mas que se critique com todo o contexto.

O raciocínio do Lula é fácil de se entender nas aspas acima: atualmente, mulheres negras são minoria em diversos espaços. Muitas vezes, lembra-se de mulheres jovens negras em destaque na música ou no batuque (e nem uma coisa nem outra desabona ninguém), mas a partir de agora, na perspectiva do Lula, haverá mais mulheres jovens com oportunidades de chegar longe e de ter destaque na indústria, como essa jovem mulher negra teve naquele momento, a partir da ampliação de oportunidades via estudo e Educação.

E @LulaOficial seguiu na fala (que cortada pela metade parece que ele está dando em cima da jovem e no contexto todo deixa claro que o objetivo da fala era sobre independência feminina e sobre o fato de que uma mulher independente não precisa de homem nenhum “a troco de um prato de comida”). A gente pode fingir também que não existe este problema. Que nenhuma mulher pobre no Brasil tem dificuldade de sair de um relacionamento abusivo pela dependência financeira…

“Eu, se eu pudesse, eu perguntava: quer namorar comigo? Não, ela não quer. Ela não quer porque tem coisa melhor no mercado e eu também não quero, porque eu tenho a Janja. [Todos riem, inclusive a jovem] E a Janja vai ficar brava com você. Vocês [todos – para a plateia] não nascem para trabalhar só para poder comer. Vocês têm de ter um futuro na vida de vocês, e o futuro é na educação. Aprender uma profissão para que a mulher seja mais independente. A mulher não pode viver com um homem a troco de um prato de comida. A mulher tem que viver com um homem porque ela ama esse homem e ele respeita ela. É assim que a gente quer a vida.”

Preciso desenhar que o discurso era sobre independência feminina da dependência em relação a qualquer homem?

Mais uma vez, só o Metrópoles, nesse tema, fez jornalismo: “Na sequência, Lula defendeu a independência feminina e disse que o futuro só pode ser construído por meio da educação”.

Imagem: reprodução internet

 

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