Aos 50 anos, os cravos terão de ser regados em Portugal. Por Jamil Chade

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O resultado eleitoral em Portugal confirmou o avanço da extrema direita, justamente num momento em que, ironicamente, o país e o mundo se preparam para comemorar os 50 anos da Revolução dos Cravos.

Uma revolução que colocou fim às décadas de ditadura de Salazar e abriu o caminho para que Portugal fosse reincorporado à família das democracias.

O grupo do partido Chega se esforça para se desvencilhar do passado. Mas os gestos, lemas e mesmo postagens revelam que a simpatia por Salazar existe.

Em 2019, por exemplo, um dos líderes do partido, Pedro Pessanha, celebrou o 25 de Abril colocando no perfil de suas redes sociais a foto de António de Oliveira Salazar. Em 2012, ele concluiu uma crítica ao então primeiro-ministro Pedro Passos Coelho com um solene: “Viva Salazar! Viva Portugal!”.

André Ventura, hoje líder do partido, foi em busca do lema do Estado Novo – “Deus, Pátria e Família” – para marcar suas campanhas nos últimos três anos. Incorporou apenas a palavra “Trabalho”.

A eleição deste fim de semana revela que a democracia precisa funcionar na vida cotidiana das pessoas, diariamente. Ela precisa significar a possibilidade de que um sonho tenha um destino. Caso contrário, como já vimos em vários cantos, a extrema-direita encontrará um espaço para agir e ganhar adeptos com falsas promessas. E sabemos, nós no Brasil, que essas promessas matam.

Não há “piloto automático” no processo democrático de um país. Os cravos precisam ser regados. Todos os dias.

Em Portugal e no Brasil.

Foto: Pedro Nunes/ Citizenside / MST

 

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