Dia Mundial da Água: 2,2 bilhões de pessoas não têm acesso a água potável

Crescente escassez de água alimenta mais conflitos e contribui para a instabilidade, adverte UNESCO, afirmando que acesso à água limpa é fundamental para a paz.

ClimaInfo

“A medida que o estresse hídrico aumenta, também aumentam os riscos de conflitos locais ou regionais. A mensagem da UNESCO é clara: se queremos preservar a paz, devemos agir rapidamente não apenas para proteger os recursos hídricos, mas também para promover a cooperação regional e global nesta área.”

A fala é de Audrey Azoulay, diretora-geral da UNESCO, o braço da ONU para educação, ciência e cultura. Na 6ª feira (22/3), Dia Mundial da Água, a entidade lançou a edição 2024 do Relatório de Desenvolvimento Mundial da Água. E o documento destaca como o desenvolvimento e a manutenção da segurança hídrica e o acesso equitativo aos serviços de água são essenciais para garantir a paz e a prosperidade para todos.

De acordo com o relatório, 2,2 bilhões de pessoas em todo o planeta não têm acesso a água potável, e 3,5 bilhões de pessoas não dispõem de sistemas de saneamento seguros, relatam Al JazeeraCorreio Braziliense e IstoÉ. Portanto, a meta da ONU de garantir esse acesso para todos até 2030 está longe de ser alcançada, e há motivos para temer que essas desigualdades continuem a aumentar.

Das retiradas de água doce no mundo, 72% são destinadas à agricultura. E nos países em desenvolvimento, até 80% dos empregos – concentrados na agricultura e nas indústrias com uso intensivo de água – estão vinculados a esse recurso, ameaçado pelas mudanças climáticas.

A crise climática vem perturbando o ciclo da água no planeta, destaca o documento. Embora algumas regiões do mundo sofram inundações devastadoras, como as que atingiram o Paquistão em agosto de 2022, outras têm secas prolongadas ou enfrentam a salinização de suas reservas de água doce, devido à subida do nível do mar, como em Bangladesh, explica o UOL.

A procura por água aumenta 1% por ano no mundo, mostra o relatório. Essa alta se deve à industrialização dos países, ao estabelecimento de cada vez mais populações nas cidades e aos hábitos alimentares. Já o crescimento populacional tem pouco impacto na procura por água. As populações que crescem mais rapidamente, como as africanas, são as com o menor consumo de água per capita. E das 2,2 bilhões de pessoas no mundo que não têm acesso à água potável, 80% vivem em áreas rurais, detalha a UNESCO.

Entre 2002 e 2021, secas afetaram mais de 1,4 bilhão de pessoas em todo o mundo. A partir de 2022, cerca de metade da população mundial enfrentou grave escassez de água durante pelo menos parte do ano, enquanto um quarto enfrentou níveis ‘extremamente altos’ de estresse hídrico, utilizando mais de 80% de seu suprimento anual renovável de água doce.

E, como ocorre em várias outras dificuldades derivadas das mudanças climáticas, a escassez e o acesso desigual à água afetam mais mulheres e meninas, informa o Guardian. Em muitas áreas rurais, elas são as principais coletoras de água, passando várias horas por dia nessa tarefa. O acesso reduzido ao abastecimento de água agrava esse fardo, comprometendo a educação, a participação econômica e a segurança das mulheres. Isso também pode contribuir para a taxa de evasão escolar secundária mais alta entre as meninas, em comparação com os meninos, reforça o relatório.

No Brasil, cerca de 33 milhões de pessoas [15% da população] vivem sem acesso à água potável, segundo dados do Instituto Trata Brasil divulgados por Agência Brasil e Correio Braziliense. O dado chama a atenção pelo fato do país abrigar dois dos maiores aquíferos do mundo – o Guarani, localizado no Centro-Sul do país, e o Alter do Chão, na Região Norte.

Deveria ser óbvio, mas é preciso reforçar: a água é [ou deveria ser] um Direito Humano, intrínseco à vida, e um fator essencial de prosperidade, como destacou Richard Connor, editor-chefe do relatório.

“Sem acesso à água potável as pessoas ficam expostas a todo tipo de doenças. Estas doenças as impedem de ir à escola, de trabalhar, de serem produtivas. Sem água não temos eletricidade. Sem água não há produção agrícola, portanto, não há segurança alimentar. Sem água não há indústria. Portanto, a água e a prosperidade estão intimamente ligadas”, resumiu.

ABCDow to Earth e CBS também repercutiram o relatório da UNESCO.

mrjn/Unsplash

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