Amazonas dá licença para explorar potássio em terra do Povo Mura

Governador Wilson Lima entrega licença para instalação da Potássio do Brasil em Autazes, mas lideranças Mura dizem que não vão aceitar projeto sem seu consentimento.

ClimaInfo

A tensão aumentou no Povo Mura em Autazes, a cerca de 100 km de Manaus. Na 2ª feira (8/4), o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), entregou a 1ª licença de instalação para o projeto de exploração de potássio que a empresa Potássio do Brasil quer instalar em uma região reivindicada pelos Mura. E líderes indígenas temem que a decisão aumente os conflitos.

Os Mura afirmam que não vão aceitar a atividade sem seu consentimento e querem que a mineração de potássio volte a ser analisada pela Justiça, explica a Amazônia Real. A licença do governo amazonense foi emitida pouco depois de o Tribunal Regional Federal da 1ª Região derrubar, em 30 de março, uma decisão da juíza Jaíza Fraxe que impedia o licenciamento ambiental pela da Potássio do Brasil – controlada pelo grupo canadense Forbes & Manhattan.

Outra expectativa dos Mura é o início dos trabalhos do Grupo Técnico de Delimitação e Demarcação da FUNAI, que deve começar em maio. Esperamos que depois da notícia de hoje (08), a FUNAI não mude novamente a data para iniciar os estudos”, afirmou Felipe Gabriel Mura, que recentemente assumiu o cargo de tuxaua da comunidade Lago do Soares.

Mesmo antes da licença a Potássio do Brasil já atuava na área, confirma Felipe. Indígenas já haviam relatado abertura de picadas, desmatamento e marcação de áreas georreferenciadas. E avistam periodicamente drones sobrevoando a comunidade.

O tuxaua disse que a empresa continua pressionando os indígenas a aceitarem a exploração minerária. “Eles têm trabalhado aqui, e agora a empresa está alugando terras para poder passar com seus equipamentos. São terrenos de criação (de gado) dos indígenas”, detalhou.

O canteiro de obras da Potássio do Brasil está tão próximo das casas que os moradores avistam facilmente os trabalhadores da empresa. “Estão a dois minutos, de lancha, da escola da comunidade”, disse o Felipe, que alerta para o impacto social que começa a perturbar os moradores.

O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), que emitiu a licença, disse que a LI refere-se à escavação e montagem da estrutura iniciada, sem autorização de funcionamento. O nome técnico é “lavra subterrânea sem beneficiamento”. “As LIs serão liberadas por atividade dentro de um cronograma que deve ter um prazo mínimo de análise de 30 dias para cada atividade a ser licenciada e ainda não dá direito de operação/exploração”, disse o IPAAM, em nota.

Já o Ministério Público Federal (MPF) considera irregular a licença concedida pelo governo amazonense e que irá adotar as medidas cabíveis. Para o MPF, a licença viola direitos constitucionais, normas internacionais e também Direitos dos Povos Indígenas.

Desde 2016, o órgão mantém um processo judicial que questiona a liberação da exploração de potássio na região ocupada pelos Mura. O assunto está judicializado e passou por diferentes julgamentos.

g1Globo RuralJornal do Comercio do AmazonasJornal de Brasília e A Crítica  noticiaram a concessão da licença para a Potássio do Brasil.

Bruno Kelly/Amazônia Real/2022

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