Empresas de agrotóxicos financiam ativistas contrários à ocupação, denuncia MST

Fazenda Coqueirinho atende aos requisitos para desapropriação e reforma agrária, afirmam acampados

Por Fernanda Couzemenco, Século Diário

Empresas de agrotóxicos financiam ativistas do Movimento Invasão Zero, contrário à ocupação da Fazenda Coqueirinho, em São Mateus, norte do Estado. A denúncia é do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que organiza as mais de 200 famílias integrantes da ocupação, iniciada na última quarta-feira (17), como parte da Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária.

“Gelo Cariri, Nutrimax e outras empresas do agronegócio que focam na venda de agrotóxicos na região” têm levado funcionários, a maioria jovens, para rondar o acampamento, afirma o MST, inclusive no episódio do dia 17 de abril, quando cercaram a entrada da ocupação, com xingamentos aos trabalhadores sem terra. As ameaças e agressões têm prosseguido, com “os mesmos carros passando bem devagar em volta do acampamento, fazendo fotos e filmagens”, informa o núcleo de Comunicação do MST/ES.

“Drones sobrevoando cotidianamente, arremessos de rojões e bombas de fabricação caseira, vídeos fazendo ameaças a integridade física das pessoas, xingamentos de diversas formas, têm sido alguns dos ataques comuns que as famílias estão lidando no acampamento”, relata. Das três bombas, ao menos um artefato foi localizado pelos trabalhadores e denunciado à Polícia por meio de Boletim de Ocorrência (BO). A partir da denúncia, o Esquadrão Antibombas foi enviado ao acampamento “para desarmar e fazer a retirada da bomba”, informa.

Além das empresas de agrotóxicos, o Invasão Zero também tem participação forte de políticos da extrema direita que são financiados pelo agronegócio, como Lucas Polese (PL) e Evair de Melo (PP), que inflamam discursos de ódio em suas redes sociais, em que criminalizam a luta pela reforma agrária, prática que “coloca em risco a integridade física de famílias inteiras, com adultos, crianças, adolescentes e idosos, que já estão em vulnerabilidade social e sofrem com a falta de direitos básicos como trabalho digno e moradia, dentre outras”, alerta.

Passivos sociais, trabalhistas e ambientais

Segundo investigações do MST e acompanhadas por mandatos que apoiam a luta pela justiça fundiária e os direitos humanos, como das deputadas estaduais Iriny Lopes (PT) e Camila Valadão (Psol), Coqueirinho se enquadra nos critérios federais para desapropriação e destinação à reforma agrária.

“Desde os anos 2000, a área está abandonada, ela já foi sede de uma fábrica de farinha de mandioca chamada Inquinor, que funcionou por poucos anos e foi desativada, sendo assim a área não se enquadra como produtiva, tem problemas com a Justiça do Trabalho por negar direitos trabalhistas e ter trabalho análogo a escravidão, além da contaminação ambiental, sendo passiva de reforma agrária conforme prevê a legislação”, elenca o MST.

A organização informa que o perfil dos acampados na Coqueirinho tem predomínio de pessoas do norte e noroeste do Estado, principalmente de São Mateus, Nova Venécia, Jaguaré, Ecoporanga e Barra de São Francisco. “Grande parte já tem vínculo com o trabalho agropecuário, sendo filhos de assentados e demais pequenos agricultores da região, outros, moradores urbanos que desejam viver e trabalhar com a terra e que buscam na reforma agrária a oportunidade de trabalho e vida digna para a família”, acrescenta.

Judicialização

As liminares de reintegração de posse e interdito proibitório, concedidas pela justiça de São Mateus à empresa Apal Agropecuária Aliança, são questionadas pelo MST, que aguarda julgamento do recurso judicial.

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