Sigamos de pé: a memória de Dom Tomás Balduíno segue viva na luta por dignidade e direitos humanos

Pastorais e organizações de direitos humanos rememoram os 10 anos de páscoa de Dom Tomás Balduíno, membro-fundador do Cimi e da CPT

Cimi

Hoje [ontem], dia 2 de maio, rememoramos os 10 anos da páscoa de D. Tomás Balduíno, sagrado bispo de Goiás. Seu espírito solidário estendeu sua ação pastoral para muito além das fronteiras de sua diocese.

Em estreita comunhão com D. Pedro Casaldáliga, que o chamava de padrinho, perceberam que era necessário abrir novos caminhos e criar novas pastorais, adequadas à dura realidade vivida no início dos anos de 1970, em plena ditadura militar, uma forma de responder ao novo momento eclesial posterior ao Concílio Vaticano II e à Conferência do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), realizado em Medellin, na Colômbia.  “É preciso organizar a esperança”, dizia Pedro. Assim, nasceu o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e, logo depois, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), organismos dedicados aos povos indígenas e aos lavradores, secularmente espoliados em seus direitos.

Dom Tomás dedicou sua vida, de forma profética e destemida, à defesa da vida dos povos indígenas e dos camponeses, assumindo com isso as consequências diante do Estado e das forças econômicas.

Em 1974, junto a Dom Pedro e um grupo de bispos e padres, publicou o documento “Y Juca-Pirama. O índio, aquele que deve morrer”, um texto profético que denunciava os decretos de extermínio da época e anunciava novos caminhos de esperança. Naquele mesmo ano, Dom Tomás pousou seu avião na aldeia Orokotãwa, do povo Apyãwa Tapirapé, e levou o cacique Xako’iapari Marcos Tapirapé e Luiz Gouvêa de Paula para Diamantino, Mato Grosso, para participarem da primeira Assembleia de Chefes Indígenas, que reuniu representantes de nove povos indígenas.

As Assembleias de lideranças indígenas se constituíram em momentos fundamentais de organização dos povos indígenas em defesa de seus direitos, o que despertou a desconfiança e a perseguição dos agentes estatais. Um ano depois da Assembleia de Diamantino, em 1975, Dom Tomás levou o cacique Xywaeri Tapirapé para a assembleia que se realizaria na Missão Cururu, no Alto Rio Tapajós, região do povo Munduruku, com presença de representantes de 13 povos indígenas.

A Assembleia sofreu interferência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) durante sua realização. Da mesma forma aconteceu na Assembleia de Tuxauas em Surumu, na Terra Indígena (TI) Raposa Serra do Sol, em Roraima, em janeiro de 1977, quando a Polícia Federal e a Funai obrigaram a parar o encontro das lideranças, na presença de Dom Aldo Mongiano, bispo de Roraima, de Dom Tomás e Egydio Schwade, então presidente e secretário executivo do Cimi, respectivamente.

Dom Tomás não media esforços no apoio aos povos indígenas e camponeses, na defesa de suas vidas e de suas terras. Em seu avião teco-teco, transportou muitos doentes graves das aldeias para atendimento no hospital Pio X, no município de Ceres, em Goiás. Já nos anos 80, juntamente com Indígenas Apyãwa Tapirapé, ajudou, em sobrevoo, a estabelecer as coordenadas da área indígena Tapirapé-Karaja, no município de Santa Terezinha, no estado do Mato Grosso.

Dez anos depois de sua páscoa, o legado de Dom Tomás permanece vivo e nos instiga a continuar denunciando os novos decretos de extermínio e a permanecermos na luta e na esperança, assumindo as consequências que se colocam sobre quem busca a paz e a justiça social. Hoje, as mesmas oligarquias do poder econômico e político enfrentadas, anos atrás, por Dom Tomás continuam a se impor sobre os direitos dos povos indígenas e camponeses. Elas buscam instituir o marco temporal como critério para a demarcação dos territórios indígenas, negociar seus direitos fundamentais, protelar a necessária reforma agrária e criminalizar a legítima luta pela terra de camponeses e povos e comunidades tradicionais.

Nessa trajetória de luta e resistência junto aos povos indígenas e camponeses, reafirmamos o caminho que Dom Tomás apontou: “Direitos Humanos não se pede de joelhos; exige-se de pé!”

Dom Tomás Balduíno, presente!

Brasília, 2 de Maio de 2024

 

Conselho Indigenista Missionário

Comissão Pastoral da Terra

Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil

Centro de Direitos Humanos de Formoso do Araguaia

Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduino

Dom Tomás Balduíno, um dos fundadores do Cimi, no primeiro Acampamento Terra Livre (ATL), em 2004. Foto: Egon Heck/Cimi

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