MapBiomas mostra que estado perdeu aproximadamente 3,5 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2022; desmatamento aumentou no governo de Eduardo Leite.
A catástrofe climática no Rio Grande do Sul matou 149 pessoas até o fim da tarde de 4ª feira (15/5). Segundo o balanço da Defesa Civil, havia também 108 desaparecidos e 806 feridos. Mais de 2,1 milhões de moradores foram afetados pelas chuvas extremas e seus efeitos, com 538.126 desalojados e 76.580 em abrigos. Ao todo, 452 municípios do estado foram atingidos.
Tão superlativa quanto os números da tragédia é a devastação da vegetação nativa no estado, fato que pode ter potencializado seus efeitos, afirmam especialistas. Dados produzidos pela iniciativa MapBiomas e obtidos pela BBC mostram que o RS perdeu cerca de 3,5 milhões de hectares de cobertura verde original entre 1985 e 2022. A área equivale a 23 cidades de São Paulo desmatadas, e é maior que a dos estados de Sergipe ou de Alagoas.
A perda também é equivalente a 22% de toda cobertura vegetal original presente no estado há 40 anos, formada por florestas, campos, áreas pantanosas e outras formas de vegetação nativa. Não por coincidência, ao mesmo tempo houve um aumento vertiginoso de lavouras de soja, silvicultura e da área urbanizada.
O professor do Departamento de Ecologia da UFRGS e coordenador de uma rede de pesquisadores sobre os campos do Sul do país, Valério Pillar, confirmou que a redução na área de vegetação nativa e sua substituição podem ter contribuído para o agravamento dos impactos das inundações: “A mudança no uso da terra provavelmente aumentou o impacto negativo dessas chuvas”, destacou.
Parte dessa devastação foi feita com aval do governo gaúcho. Desde que assumiu o comando do estado, em 2019, Eduardo Leite implementou ou aprovou mudanças que diminuíram a proteção ambiental e podem tornar o estado ainda mais vulnerável a enchentes, informa o UOL.
Normas ambientais do RS foram enfraquecidas sob a gestão Leite. As mudanças mais danosas, segundo especialistas, são as que aumentaram brechas para uso de áreas de preservação, inclusive em margens de rios, e afrouxaram o controle do poder público sobre atividades com alto potencial de degradação.
O MapBiomas também verificou um aumento do desmatamento no estado na gestão Leite. O RS perdeu 1.145 hectares de vegetação em 2019, primeiro ano do governo de Eduardo Leite. Em 2022, ano com o dado mais recente do MapBiomas, o desmatamento foi de 5.197 hectares.
Em janeiro, mesmo após o estado ter sofrido com a destruição provocada por chuvas extremas em setembro e novembro do ano passado, Leite aprovou uma lei que ameaça áreas sensíveis próximas a rios. O texto permite obras para irrigação e geração de eletricidade em APPs, que foram previstas pelo Código Florestal para proteger locais como o topo de morros, restingas e margens de rios e lagos.
Com a queima de combustíveis fósseis agravando as mudanças climáticas e sem uma cobertura florestal capaz de amenizar os temporais causados por elas, a receita da tragédia estava dada. Além de pessoas mortas, desaparecidas, desabrigadas, desalojadas e afetadas, há os impactos econômicos, que também afetam o agronegócio, o principal responsável pelo desmatamento.
Mais de 95% dos estabelecimentos industriais gaúchos foram afetados pelas enchentes, segundo estimativa da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS-RS) noticiada pela CNN. Como dependem de peças produzidas no estado, montadoras de outras partes do país paralisaram suas atividades, informa o g1.
Embora a tragédia ainda não tenha data para acabar – as chuvas cederam desde 2ª feira, mas devem voltar no fim da semana –, as articulações para a elaboração de um plano de recuperação do estado já começaram. O secretário de Comunicação do governo federal, o gaúcho Paulo Pimenta, foi escolhido pelo presidente Lula para assumir o cargo de ministro extraordinário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, informa a CNN.
Em tempo: A grilagem fez o preço da terra duplicar mundo afora entre 2008 e 2022. No Brasil, o efeito foi ainda mais perverso, com saltos de 200%, sendo o pico de aumento identificado no Maranhão, em que os preços subiram 451% de 2008 a 2017, quando foram pesquisados os dados do país. A alta dos preços resulta numa pressão sem precedentes sobre os produtores rurais e na concentração fundiária, inviabilizando a produção de alimentos em pequena e média escalas, exacerbando as desigualdades, aumentando a pobreza rural e a segurança alimentar. É o que mostra um estudo destacado por Míriam Leitão n’O Globo do Painel Internacional de Especialistas em Sistemas Alimentares Sustentáveis (IPEs-Food), associação internacional sem fins lucrativos cujo objetivo é promover a transição para sistemas alimentares sustentáveis em todo o mundo.
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Divulgação/Defesa Civil