Enquanto desmatamento caiu na parte contínua da Mata Atlântica, trechos do bioma nas fronteiras com Cerrado e Caatinga experimentaram alta da supressão vegetal em 2023.
Uma notícia boa e outra ruim para a Mata Atlântica. Novas análises mostraram que o ritmo de desmatamento no bioma mais devastado do Brasil caiu entre 2022 e 2023 em sua parte contínua, mas o mesmo não pode ser dito sobre trechos isolados e em áreas de transição para outros biomas. Nestes, a taxa de desmate experimentou um aumento significativo e preocupante.
Os dados foram divulgados nesta 3ª feira (21/5) pela Fundação SOS Mata Atlântica, elaborados a partir de dois mecanismos de monitoramento do bioma – o Atlas da Mata Atlântica, que acompanha áreas superiores a três hectares em florestas maduras, e o SAD Mata Atlântica, parceria com o MapBiomas que analisa desmatamentos a partir de 0,3 ha.
Nas partes contínuas, o desmatamento caiu de 20.075 ha em 2022 para 14.697 ha em 2023, uma redução de 27%. Já nos trechos isolados e nos limites com outros biomas, como Cerrado e Caatinga, o desmatamento saltou de 74.556 ha para 81.356 ha em um ano. Essa taxa equivale a mais de 200 campos de futebol desmatados por dia.
De acordo com o Atlas, a maior parte dos 17 estados com áreas de Mata Atlântica registrou uma diminuição do desmatamento na vegetação contínua, com exceção de Piauí, Mato Grosso do Sul e Pernambuco. Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, que costumam figurar no topo do ranking do desmatamento, tiveram quedas substanciais no último ano – 57%, 78% e 86%, respectivamente.
Já o SAD Mata Atlântica mostrou um aumento considerável do desmatamento nas áreas de transição e nos encraves no Cerrado e na Caatinga, principalmente na Bahia, Piauí e Mato Grosso do Sul. Essas perdas ocorreram majoritariamente em áreas onde há expansão da fronteira agrícola.
“A redução no desmatamento na área contínua em parte da Mata Atlântica é um sinal encorajador de que as políticas de conservação e o monitoramento intensivo estão produzindo resultados positivos, assim como temos visto na Amazônia”, observou Luís Fernando Guedes Pinto, diretor-executivo da Fundação SOS Mata Atlântica. “[Ao mesmo tempo,] está evidente que os desafios na Caatinga e, especialmente, no Cerrado são maiores do que nunca, assim como a aplicação da Lei da Mata Atlântica nas regiões de transição”.
Agência Brasil, Estadão, Folha, g1 e Poder360, entre outros, repercutiram esses dados.
Em tempo: Vale a pena ler o artigo de Daniela Chiaretti no Valor, no qual contextualiza as informações sobre o desmatamento na Mata Atlântica e conecta a necessidade de avançarmos na proteção desse bioma tão devastado com os efeitos das chuvas históricas no Rio Grande do Sul. “É ali [Mata Atlântica] que o país vai alcançar o desmatamento zero primeiro – porque é o bioma que os brasileiros mais destruíram, onde os serviços ecossistêmicos mais fazem falta, onde as tragédias ambientais estão acontecendo com maior intensidade e onde a restauração só trará ganhos”.
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Thomas Bauer/SOS Mata Atlântica