Tragédia climática no RS afetou 95% dos empregos do estado

Após um mês de catástrofe, manifestantes aproveitam a trégua das chuvas e protestam contra os governos do RS e de Porto Alegre, acusando-os de descaso.

ClimaInfo

Depois de um mês ininterrupto de chuvas e inundações castigando quase todo o seu território, o Rio Grande do Sul teve, enfim, vários dias seguidos de sol. Por enquanto, os eventos climáticos extremos deram uma trégua. Com o fim dos temporais e o recuo das águas, mostra o Estadão, os gaúchos começam a retomar suas vidas. A Bloomberg lembra que 600.000 pessoas foram deslocadas, movimento que avalia como a mais recente migração climática em massa do mundo. Mas não sem protestar contra os responsáveis pela tragédia.

Ao mesmo tempo, mais cálculos sobre os prejuízos decorrentes da catástrofe vão sendo feitos. E como era de se esperar, os números só aumentam.

O Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) avaliou o impacto da tragédia climática no mercado de trabalho local. De acordo com a análise, 95% dos 3,2 milhões de empregos no estado foram atingidos, detalha o UOL. E o prazo para a recuperação é desanimador, avalia a entidade.

“O governo do estado terá de criar um plano de fomento e subsídios para ajudar que novamente os habitantes possam ter uma vida digna, próxima dos padrões que tinham antes desta supertragédia acontecer”, reforçou o presidente-executivo do IBPT, João Eloi Olenike.

Na agropecuária, uma das principais atividades econômicas gaúchas, as inundações causaram um prejuízo de cerca de R$ 3 bilhões em áreas totalmente inundadas, informa a Globo Rural. O cálculo, preliminar, é da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (FARSUL) a partir de um mapeamento com 550 produtores gaúchos de porte médio. Mas a própria entidade considera que tal cifra está muito aquém do prejuízo “real”.

Aumentam também os protestos e as manifestações para evitar que a tragédia se repita. Na 6ª feira (31/5), a Eco pelo Clima promoveu em Porto Alegre a “Marcha Global pelo Clima” pedindo a decretação de emergência climática no estado – o que já havia sido reivindicado em novembro do ano passado. Os manifestantes destacaram que as enchentes são fruto do descaso dos governantes, a quem chamaram de “negligentes e incompetentes”. Eles se referiam ao governador Eduardo Leite (PSDB) e ao prefeito da capital, Sebastião Melo (MDB), relatam Brasil de Fato e Agência Brasil.

Em outra frente, foi lançada a “Manifestação aos porto-alegrenses sobre o sistema de proteção contra inundações de Porto Alegre”. O documento, apoiado por diversos engenheiros, arquitetos e ex-integrantes do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) e do extinto Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) da capital, ressalta que é necessário estudar a ampliação e o aperfeiçoamento, em nível estadual, de alternativas para os sistemas de proteção contra inundações, explica o Jornal do Comércio do RS. Na semana passada, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN) já havia divulgado um documento detalhando as principais alterações promovidas por Leite na legislação ambiental do estado e seu peso na tragédia climática que atingiu os gaúchos. Segundo a AGAPAN, o governador mente ao dizer que as mudanças trazidas por ele não agravaram os efeitos das enchentes que assolam a região, destaca ((o))eco.

A destruição do meio ambiente não se limita ao Executivo local. O Brasil de Fato, em matéria reproduzida pela Carta Capital, destaca o papel do Congresso Nacional no que o Observatório do Clima chamou de “Pacote da Destruição”: um conjunto de leis e propostas de emenda à Constituição que flexibilizam a legislação ambiental. “A direita e a extrema direita têm no meio ambiente um inimigo declarado”, reforçou o secretário-executivo do OC, Marcio Astrini.

Em tempo 1: O Ministério das Mulheres enviou ao governo do RS um documento com diretrizes para serem aplicadas em emergências climáticas e crises humanitárias para proteção de mulheres e meninas afetadas nessas situações. O documento se baseia em experiências implementadas pela ONU Mulheres em casos semelhantes e incorpora contribuições da sociedade civil, como de representantes dos movimentos de mulheres e feministas do estado e de agentes governamentais, informa a Folha.

Em tempo 2: Pouco mais de dois meses após o rio Acre, em Rio Branco (AC), alcançar a segunda maior cota histórica e atingir mais de 70 mil pessoas com uma enchente devastadora, o manancial chegou a 2,52 metros em maio, a menor marca para o mês nos últimos cinco anos, relata o g1. A situação alerta para a possibilidade de um período de seca no Acre que, segundo especialistas, pode se antecipar e se tornar cada vez mais frequente em um menor espaço de tempo. Mais um efeito inegável das mudanças climáticas.

Agência Brasil

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