Romeiros reforçam pedido de reparação aos atingidos e atingidas pelo crime socioambiental de Mariana (MG) e de descontaminação das águas da bacia do Rio Doce
No último domingo (16), uma multidão de romeiros ocupou a cidade de Naque, em Minas Gerais, para acompanhar a 7ª edição da Romaria da Terra e das Águas da bacia do rio Doce. Neste ano, o evento contou com a participação de Dom Antônio Carlos Felix, bispo da diocese de Governador Valadares que presidiu a missa de encerramento, além de Dom Francisco Cota, da diocese de Sete Lagoas e presidente da Comissão Episcopal da Ecologia Integral e Mineração da CNBB.
Na ocasião, Dom Francisco denunciou o crime socioambiental cometido por mineradoras como a Vale, responsável pelo rompimento da barragem em Mariana (MG). Também criticou o modelo econômico vigente, que em favor do lucro, ceifa vidas humanas e da natureza.
Dom Francisco denunciou o crime socioambiental cometido por mineradoras como a Vale
O bispo de Sete Lagoas enfatizou ainda o compromisso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e dos cristãos na defesa da vida, da natureza e do planeta, nossa casa comum. Nesta edição, a romaria contou com a participação dos indígenas Pataxó da Aldeia Geru Tucunã-Açucena e de seu cacique Baiara.
Na celebração de encerramento da romaria, após fechamento da BR-381 para o encontro da imagem de Nossa Senhora das Águas Sujas, trazida por pescadores junto a imagem de Santo Antônio, foi lida a carta da romaria.
A romaria contou com a participação dos indígenas Pataxó da Aldeia Geru Tucunã-Açucena
O documento ressaltou reivindicações como a reparação dos atingidos pelo crime ocorrido em Mariana e a necessidade de se descontaminar as águas da bacia do rio Doce. Também denunciou os órgãos públicos pela negligência na fiscalização dos processos de reparação e licenciamento ambiental.
A romaria foi um momento de se reafirmar o compromisso com o cuidado do planeta e com a preservação das florestas e dos rios, bem como de denunciar interesses econômicos que destroem a vida do planeta.
No documento final, em apoio aos atingidos e atingidas da Bacia do Rio Doce, foram apresentadas as seguintes pautas:
- Rio Doce Sem Fome: trata-se de um programa de transferência de renda, em substituição ao AFE – Auxilio Financeiro Emergencial, onde se objetiva que sejam reservado recursos para promoção e reestruturação da renda, visando o combate à fome e à pobreza, a ser gerido de forma independente das mineradoras e com plena com plena participação dos atingidos, através de quatro eixos: pagamentos mensais em conta, produção e distribuição de alimentos saudáveis com reavaliação econômica local, formação e qualificação profissional e mulheres como um eixo transversal.
- Fundo Popular: destinado a projetos coletivos para as comunidades atingidas que têm como objetivo a reparação e compensação coletiva, visando promover a auto sustentabilidade e a superação das desigualdades econômicas e sociais, a geração de renda e o bem-estar e a retomada dos modos de vida promovendo a integração e a união. Os recursos deste fundo deverão se geridos pelos próprios atingidos e atingidas, devendo se orientar pelo incentivo às novas práticas produtivas e modelos sustentáveis de agroecologia, economia solidária e comercialização em redes, através do fortalecimento das cadeias produtivas, culturas, lazer, turismo, infraestrutura entre outros.
- Fundo Social: que no âmbito da indenização dos estados seja criado um fundo social para aplicação em políticas públicas nas áreas sociais de maior relevância, definidas com participação popular e com preferencial destinação dos recursos às regiões atingidas e as mais empobrecidas. A exemplo de um programa de apoio aos atingidos pelas fortes enchentes.
- Saúde: criação de um programa na área da saúde que garanta o diagnóstico, monitoramento, prevenção e atendimento da população atingida pelos diversos danos à saúde, física e psíquica.
- Indenização justa: que sejam anulados os termos de quitação impostos pelo programa NOVEL e criado um programa de indenização individual que garanta a reparação integral dos danos, através da construção de matriz de danos a ser feita pelas assessorias técnicas independentes. E ainda, que os grupos e comunidades que ainda não foram indenizados, em nenhum processo indenizatório, sejam reconhecidos e indenizados.
- Retirada dos rejeitos do Rio Doce: que sejam retirados os rejeitos do rio, favorecendo a sua recuperação, de forma limpa, com o Rio Doce vivo, em um curto espaço de tempo, sendo devolvido à população que depende de sua vitalidade para sobrevivência
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Romeiros caminham pela cidade de Naque (MG) para acompanhar a 7ª edição da Romaria da Terra e das Águas da bacia do rio Doce. Foto: Bruno Marcos / Cimi Regional Leste