Argentina vai às ruas pela universidade pública

Milei anuncia que vai vetar novo orçamento para o ensino superior. Trabalhadores não terão aumento salarial, mesmo com inflação de 18%. Movimentos, unificados, preparam semanas de mobilização contra o anarcocapitalista

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Estudantes, professores e trabalhadores das universidades na Argentina estão se preparando para várias semanas de mobilizações e paralisações. Eles protestam contra o anunciado veto do presidente Javier Milei à Lei de Financiamento Universitário, que destina os tão necessários fundos às universidades. A comunidade universitária convocou uma greve para os dias 26 e 27 de setembro e uma mobilização nacional em massa no dia 2 de outubro nas cidades de todo o país; em Buenos Aires, as pessoas marcharão até o Congresso Nacional.

Sindicatos e movimentos sociais de diversos setores também se juntarão a estudantes, professores e trabalhadores universitários para defender a educação pública, gratuita e de qualidade na Argentina e, mais uma vez, protestar contra o plano de austeridade neoliberal de Milei, que tem impactado todos os trabalhadores na Argentina.

Na quinta-feira, 12 de setembro, o Senado argentino aprovou uma lei que atualiza o montante de dinheiro que as universidades devem receber para manter o funcionamento ideal. Isso inclui uma leve melhoria na alocação do orçamento para cobrir as despesas correntes de ensino, pesquisa e funcionamento administrativo. De acordo com a lei, o aumento orçamentário seria de apenas 0,14% do PIB.

Apesar disso, o governo neoliberal de Javier Milei, que já fez tudo o que pôde para reduzir os gastos fiscais, mesmo às custas da educação, anunciou que vetará a lei. Na verdade, segundo algumas fontes oficiais, o governo planeja oferecer apenas 3,8 bilhões de pesos [menos de 22 bilhões de reais] às universidades nacionais, quando, na verdade, de acordo com o Conselho Nacional Interuniversitário (CIN), pelo menos 7,8 bilhões de pesos [quase 45 bilhões de reais] são necessários para que as universidades do país funcionem adequadamente.

De acordo com Víctor Moriñigo, presidente do CIN e reitor da Universidade de San Luis, “não há intenção certa de ajustar os salários de docentes e não docentes para, ao menos, igualar a situação de perda [de poder aquisitivo] diante da inflação. A única certeza que emerge deste orçamento [proposto por Milei] é que os professores e não docentes em 2025 terão os mesmos salários de hoje, sem sequer considerar a inflação, estimada em 18%”.

Os sindicatos e associações estudantis da Argentina alcançaram um acordo histórico e unidade para realizar a mobilização planejada para o início de outubro. Carlos De Feo, secretário-geral da Federação Nacional de Professores Universitários (CONADU), disse ao Página 12 que tal acordo existe justamente porque o plano neoliberal de Milei não só pretende afetar universidades específicas, mas busca transformar o modelo educacional público do país em um sem financiamento e de menor qualidade.

A Federação Nacional de Professores Universitários (CONADU), a Frente Sindical das Universidades Nacionais e a Federação Universitária Argentina, compostas por dezenas de associações e movimentos estudantis, vêm se mobilizando nos últimos meses para que a Lei de Financiamento Universitário seja aprovada pelo legislativo. Elas haviam convocado uma greve nacional da comunidade universitária em 23 de abril deste ano, em defesa da educação superior pública. Agora, estão convocando mobilizações para se posicionar contra o veto de Milei. Elas realizarão uma coletiva de imprensa no dia 24 de setembro para informar sobre suas próximas ações.

Em uma manifestação organizada por essas mesmas plataformas no dia 12 de setembro, para exigir que o Senado aprovasse o projeto de lei, Francisca Staiti, secretária-geral da CONADU Histórica, declarou: “Esse anarcocapitalista [Milei] é um benfeitor… das grandes fortunas, ele é o benfeitor das grandes empresas, e é esse modelo que devemos combater daqui, da universidade, estendendo nossos braços em unidade, com massividade, com organização… Abraçando todos os professores universitários e pré-universitários de todo o país, que também estão se manifestando hoje, estendendo esse abraço a todos; estamos indo com maior organização e maior unidade porque, se este presidente, diante da aprovação da lei, vetá-la, estaremos nas ruas”.

Créditos: Leandro Teysseire

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