Fred Souza Garcete, de 15 anos, foi encontrado morto hoje (18) na rodovia MS-384, entre a aldeia Campestre e a área urbana do município de Antônio João (MS); indígenas cobram investigação
Fred Souza Garcete, Guarani Kaiowá de 15 anos da Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu, foi encontrado morto nesta manhã (23) na rodovia MS-384, entre a aldeia Campestre, fica localizada na TI, e a área urbana do município de Antônio João (MS).
Segundo relatos dos indígenas, o jovem estava na aldeia Bananal e de madrugada retornaria de moto para sua casa, na aldeia Campestre, também localizada na TI Nhanderu Marangatu.
Fred foi encontrado na manhã desta segunda-feira, já sem vida
Foi neste trajeto que Fred foi encontrado na manhã desta segunda-feira, já sem vida. Segundo os indígenas que encontraram o corpo do jovem, ele apresentava ferimentos na cabeça e uma “perfuração” abaixo do ouvido.
Em um áudio que circulou entre indígenas da comunidade, testemunhas afirmaram terem visto uma caminhonete Hilux na cor branca parar no local onde o corpo depois foi encontrado. Este local fica próximo à retomada Piquiri, uma das dez que integram a TI Nhanderu Marangatu.
Os indígenas contestam a versão policial, dada a ausência da moto no local e de indícios que denotem uma colisão com outro veículo
Segundo informações da comitiva do governo federal que esteve presente no local, a Polícia Civil realizou perícia ainda nesta segunda-feira (23) e atribuiu a causa da morte do jovem a um traumatismo craniano decorrente de um acidente de trânsito. Os indígenas, no entanto, contestam a versão policial, dada a ausência da moto no local e de indícios que denotem uma colisão com outro veículo.
“Diante do contexto que estamos enfrentando, a gente suspeita que ele foi assassinado a mando de fazendeiros da região”, considerou um membro da comunidade que por medidas de segurança, não será identificado nesta matéria.
“A gente pede justiça, porque a vida dele vale para gente aqui”
A comunidade reivindica que seja feita uma investigação completa e que a Polícia Federal assuma a condução do caso. “A gente pede justiça, porque a vida dele vale para gente aqui. A gente quer que o culpado seja encontrado para que seja feita a justiça”, exige o integrante da comunidade.
Contexto de morte
A morte de Fred se dá dois dias após o enterro de Neri Ramos da Silva, assassinado na última semana (18) com um tiro de arma de fogo durante operação da Polícia Militar (PM). O crime também ocorreu na Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu, em Antônio João (MS), em meio a uma investida policial contra a comunidade Guarani Kaiowá que havia retomado a fazenda Barra, sobreposta à área indígena.
Quase uma semana antes da morte de Neri, a comunidade já havia sido alvo de um ataque da Polícia Militar, que deixou três pessoas feridas. Uma decisão da Justiça Federal de Ponta Porã agravou ainda mais a situação ao autorizar a atuação da PM na proteção à propriedade privada, legitimando a violência contra a comunidade Guarani Kaiowá.
O corpo de Neri retornou à TI Nhanderu Marangatu após passar por necropsia em Dourados (MS)
No último sábado (21), o corpo de Neri retornou à TI Nhanderu Marangatu após passar por necropsia em Dourados (MS). O exame foi realizado por uma equipe da Polícia Federal enviada de Brasília e acompanhada por um antropólogo do Ministério Público Federal (MPF).
No mesmo dia, foi realizado um ato no local onde Neri foi morto. Estiveram presentes, membros do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), representantes do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
–
Indígena Guarani Kaiowá da Terra Indígena Nhanderu Marangatu é encontrado morto em rodovia MS-384. Foto: Povo Guarani Kaiowá