Países em desenvolvimento rejeitam proposta europeia de US$ 200 bilhões para financiamento climático

O montante proposto pela União Europeia, que seria baseado em recursos públicos, é muito aquém das demandas trilionárias das nações mais pobres para ação climática.

ClimaInfo

A apenas dois dias de sua conclusão prevista, as negociações da COP29 de Baku seguem travadas em seu item mais importante da agenda: o futuro do financiamento climático internacional. Enquanto várias cifras circulam nos corredores de Baku, uma sugestão da União Europeia chamou a atenção – e a ira – dos países em desenvolvimento.

De acordo com a  proposta, antecipada pelo site POLITICO, o novo objetivo coletivo quantificado (NCQG) teria entre US$ 200-300 bilhões em recursos governamentais, valores muito abaixo do US$ 1 trilhão demandados pelas nações mais pobres e vulneráveis.

Esse montante seria complementado por outras fontes de financiamento, como bancos multilaterais de desenvolvimento, setor privado e a ampliação da base de financiadores governamentais para além dos países desenvolvidos.

Para os países em desenvolvimento, a proposta europeia reforça a indisposição dos governos ricos em efetivamente ampliar suas doações financeiras para ação climática, bem como a pressão para que as economias emergentes, como a China, assumam responsabilidades financeiras hoje inexistentes.

“Não conseguimos compreender esses US$ 200 bilhões para aumentar a ambição em países em desenvolvimento. Isso é incompreensível”, lamentou Diego Pacheco, negociador da Bolívia, citado pelo Climate Home. “Isto é uma piada?”.

Mesmo com a pressão dos países ricos, especialmente sobre as pequenas nações insulares, para quebrar a unidade do G77 e China, o grupo que representa a maior parte dos países em desenvolvimento segue rejeitando a proposta de ampliar a base de doadores a partir da incorporação das economias emergentes.

Segundo a Reuters, a ministra egípcia Yasmine Fouad, uma das co-chairs do grupo que negocia o NQCG em Baku, informou que ainda há bastante resistência entre os países para tratar as economias emergentes da mesma forma que as nações desenvolvidas. Para Ana Toni, secretária de mudanças climáticas do Brasil, isso seria uma “linha vermelha” para o país nas discussões na COP29.

“A COP29 está entrando em seus últimos dias e há uma alarmante falta de progresso em um acordo de financiamento climático robusto. As nações precisam parar de negociar por meio do noticiário e se concentrar em oferecer esforços de boa-fé para chegar a um consenso ambicioso antes que o tempo acabe”, avaliou Rachel Cleetus, da Union of Concerned Scientists (UCS).

BloombergEuronewsIndependent e POLITICO também abordaram os impasses que persistem nas negociações sobre financiamento climático na COP29.

Em tempo: A COP29 também enfrenta problemas em outros itens de sua agenda de negociação. A Folha destacou as dificuldades nas discussões sobre igualdade de gênero em Baku, impostas por uma coalizão informal de autocracias e países conservadores que vêm atuando para travar as conversas. Os pontos mais críticos têm sido a linguagem sobre Direitos Humanos e o financiamento para reduzir as disparidades de gênero nas questões climáticas. Ativistas acusam os negociadores de Arábia Saudita, Vaticano, Rússia, Iraque e Egito de estarem por trás dessa movimentação.

UNFCCC Flickr

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