Calor intenso prejudica aulas em mais da metade das cidades brasileiras

Segundo levantamento, em 1/3 das capitais, pelo menos metade das escolas está em locais com temperatura de superfície pelo menos 3,5oC superior à média urbana

ClimaInfo

A frequência e intensidade cada vez maior do calor está se refletindo negativamente sobre a educação dos jovens brasileiros. A maior parte das escolas do país não está preparada para lidar com as altas temperaturas, o que impacta a qualidade das aulas e do aprendizado. Isso é ainda mais grave nas periferias, onde a disponibilidade de equipamentos de ar-condicionado é mais escassa.

Valor trouxe detalhes de uma pesquisa conduzida pelo Instituto Alana e pela organização Fiquem Sabendo, com consultoria do MapBiomas, sobre a resiliência climática nas escolas das capitais do Brasil. O cenário apresentado é preocupante: 64% das escolas nas principais cidades do país estão em territórios com pelo menos 1oC acima da média de temperatura do perímetro urbano das respectivas capitais.

O quadro se agrava nas escolas que estão localizadas em regiões onde a formação de “ilhas de calor” é mais frequente. Em 1/3 das capitais, pelo menos metade das escolas estão nessas localidades, com registros de temperatura que superam 3,5oC em relação à média urbana. Não acidentalmente, isso é mais frequente nas periferias das grandes cidades brasileiras.

“Notamos que 16% das escolas com alunos predominantemente brancos estão em ilhas de calor, enquanto em instituições com estudantes predominantemente negros o número vai a 36%”, observou Maria Isabel Barros, do Instituto Alana. “São números que comprovam a existência do racismo ambiental”.

Repórter Brasil mostrou o caso de Abigail Costa, de 18 anos, estudante do ensino médio em Manaus (AM), a capital brasileira com a maior proporção de escolas localizadas em ilhas de calor, segundo o estudo. Ela, que sofre de asma, tem dificuldades respiratórias particularmente mais graves em dias mais quentes e não consegue ficar sem usar a “bombinha” de ar. Nem mesmo ar-condicionado, presentes em metade das salas de aula de Manaus, dão conta da potência do calor no verão amazônico.

O Globo destacou dados de um estudo do pesquisador Jisung Park, da Universidade da Pensilvânia (EUA), que mostrou que a realização de provas em dias com mais de 32oC resulta em uma redução de 14% no desempenho do estudante. Outra análise revelou que a recorrência de aulas no calor impacta a aprendizagem no longo prazo.

“Uma maior exposição ao calor durante o ano letivo pode levar os estudantes no Brasil a aprenderem 6% menos do que seus colegas sul-coreanos por ano, o que, ao longo do tempo, pode explicar cerca de 1/3 da diferença no seu desempenho no PISA [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes]”, afirmou a pesquisa de Park.

O calor intenso não prejudica apenas os estudantes. De acordo com pesquisa do Instituto Locomotiva, em parceria com a consultoria PwC, nove em cada dez brasileiros já percebem no dia-a-dia os efeitos das mudanças climáticas, especialmente as altas temperaturas. Das 1.500 pessoas consultadas em todo o país, 94% afirmaram que sentem o calor mais forte do que o habitual em suas cidades. A frequência maior de tempestades, inundações e secas também está sendo sentida pelos brasileiros. O Valor deu mais detalhes.

  • Em tempo: Por falar em calor, as altas temperaturas que estão sendo registradas em várias áreas do Brasil devem persistir durante o mês de março. O alerta é do climatologista José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN). Segundo ele, além do calor mais forte, o clima também seguirá mais seco do que o normal, com chuvas esperadas abaixo da média histórica. “Estamos com risco de fogo no que deveria ser a estação chuvosa. As chuvas, quando ocorrem, são violentas e rápidas. Destroem e não resolvem. Em alguns lugares, nem chove”, disse Marengo ao jornal O Globo. O calor só deve dissipar com a chegada do outono.

Foto: Marcelo Camargo

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