Primeira mulher negra, quilombola e marisqueira eleita vereadora de Salvador, Eliete Paraguassu está sofrendo uma perseguição implacável como acontece com muitos parlamentares que fogem ao padrão branco e patriarcal da política brasileira.
Por Felipe Millanez e Fabio Nogueira*, Jacobina
Eliete Paraguassu fez história com uma trajetória marcada pela incansável defesa dos direitos das comunidades pesqueiras e quilombolas da Ilha de Maré e da baía de Todos-os-Santos, contra o racismo ambiental e a poluição das águas provocada por empresas do setor de petróleo e gás. Eleita com expressivos 8.470 votos pelo PSOL, Eliete carrega consigo a esperança de que a luta contra o racismo ambiental e as reivindicações históricas de marisqueiras, pescadores, ribeirinhos e quilombolas – historicamente invisibilizados e negligenciados em Salvador – finalmente ganhem voz na Câmara Municipal.
No entanto, desde o início de seu mandato, Eliete enfrenta uma forte resistência por parte de vereadores da base de apoio do prefeito Bruno Reis (União Brasil), que buscam obstruir sua atuação e impedir o avanço de suas proposições. Essa oposição reacionária revela a influência de grupos econômicos ligados ao setor energético e à infraestrutura, associados à grilagem de terras e contaminação, que possuem forte representação política no legislativo municipal.
Nesse contexto, a vereadora tornou-se alvo de uma campanha difamatória com ataques articulados por tais setores visando enfraquecer sua imagem pública e as causas políticas maiores que ela defende – estratégia semelhante à utilizada contra outros parlamentares comprometidos com causas populares, como o deputado estadual Renato Freitas (PT-PR) e a vereadora Brisa Bracchi (PT-RN).
Vereadores da base bolsonarista-carlista, que apoiam o prefeito Bruno Reis, vêm desferindo seguidas agressões à democracia, tentando cercear mandatos de perfil popular como o de Eliete. As investidas incluíram ataques verbais misóginos e racistas, que buscam diminuir a grandeza de sua trajetória de liderança popular como mulher negra, quilombola e marisqueira. Esses ataques a levaram a registrar Boletim de Ocorrência na Delegacia Especializada em Combate ao Racismo e à Intolerância.
Não satisfeitos, esses grupos reacionários valeram-se de artimanhas e articulações na Câmara, além de repercutir narrativas encomendadas em veículos de imprensa locais, para atingir sua reputação. Agora, Eliete foi oficialmente notificada pelo Conselho de Ética da Câmara de Salvador, acusada de calúnia – invertendo a situação e transformando o agressor em vítima, e a vítima em agressora. Parece uma tônica que tem se revelado comum em práticas da ultra direita.
Mas o que temem os que atacam Eliete Paraguassu? Temem que a voz que ecoa das águas poluídas da baía revele seus negócios obscuros. Temem que os interesses de poucos sejam questionados por muitas vozes. Temem que outras formas de pensar e construir democraticamente o desenvolvimento surjam a partir das bases sociais que verdadeiramente constroem Salvador.
Cada investida contra ela é o pânico de uma elite colonial e racista que vê seu poder ameaçado pela força organizada dos que sempre foram silenciados, mas que nunca desistiram de lutar por seus sonhos. Agora é o momento de transformar o medo em potência. A investida final contra a vereadora – a tentativa de criminalizar sua legítima defesa – é um chamado à ação. Defender Eliete é defender a própria democracia, é lutar por uma cidade viva, verde e justa. Que as margens da Baía de Todos os Santos ecoem em uníssono: nenhum passo atrás. Que as vozes das marisqueiras, dos pescadores, dos quilombolas, ressoem dentro e fora da Câmara. Eliete não está sozinha. Eliete é muitas. Sua luta é a luta de todos que acreditam numa Salvador justa e plural.
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