Estes senhorzinhos extraordinários!

Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil convocaram atos contra a PEC da Blindagem e o Projeto da Anistia

Por Eliane Silveira, Brasil de Fato

Recentemente li uma crônica de um colega jornalista com uma bela reflexão sobre a relação entre o uso dos diminutivos “senhorzinho” e “senhorinha” e o etarismo. No seu entendimento, o diminutivo pode ser uma prática preconceituosa disfarçada de afeto. Inspirada pelo enterro da PEC da Bandidagem pela Comissão de Justiça no Senado, vou usar os tais diminutivos como símbolo de afeto, respeito e admiração aos senhorzinhos extraordinários que colocaram o bloco da democracia na rua no dia 21 de setembro.

Caetano Veloso (83), Chico Buarque (81), Gilberto Gil (83), Djavan (76), Lenine (66) convocaram atos contra a PEC da Blindagem e o Projeto da Anistia e o resultado foi o povo na rua em várias capitais brasileiras. Estes senhorzinhos incríveis nos deram mais uma lição de amor à Pátria, de compromisso com a democracia, de altivez. E as senhorinhas não ficaram para trás neste quesito. Débora Bloch (62), Irene Ravache (81), Christiane Torloni (68) assumiram a convocatória nas redes. E a cantora Daniela Mercury (60) comandou o ato em Salvador.

Para puxar a brasa para o assado gaúcho, é preciso mencionar a participação, no ato de Porto Alegre, de figuras como os ex-prefeitos Olívio Dutra (84), Raul Pont (81), José Fortunati (69) e da senhorinha referência na educação Esther Grossi (89). Artistas ou não, tanto os que estavam em Copacabana quanto os que marchavam em Porto Alegre tinham a opção de ficar em casa e dizer que já fizeram a sua parte.

Este texto está muito longe de ser uma negação do etarismo, cada vez mais presente na nossa sociedade. Segundo pesquisas, 86% da população acima de 60 anos reconhece que já sofreu algum tipo de discriminação pela idade no seu ambiente de trabalho. E não por acaso, estes mesmos estudos revelam que 70% das empresas raramente contratam profissionais com mais de 50 anos. Em uma das diversas entrevistas sobre sua personagem Odete Roitman, a atriz Débora Bloch afirmou que é preciso entender que os 60 não são os novos 40 anos, mas sim os novos 60 anos.

A ciência, a pesquisa e a saúde avançaram muito, o que nos leva a um cenário de longevidade com qualidade de vida. Só que neste mesmo compasso, a legislação reflui, a partir do golpe de 2016, com uma reforma da previdência que empurra a população idosa a trabalhar praticamente até morrer. Mas trabalhar onde e para quem, se o mercado descarta a experiência destes profissionais?

Talvez o Congresso tenha ainda muito mais a aprender com as vozes que ecoaram nas ruas no penúltimo domingo. Depois de enterrar a PEC da Blindagem, enfim colocar em pauta a votação da isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5mil, esteja mais do que na hora de rever a reforma trabalhista e previdenciária. Porque tenham a certeza que novos domingos virão.

Viva os senhorzinhos e senhorinhas que resolveram fazer a diferença. Eles e elas esbanjaram energia, coragem e dignidade. Em reconhecimento a esta faixa etária de luta com tanta bravura, reivindico que os termos senhorzinhos e senhorinhas, doravante, passem a ser sinônimos de respeito, admiração e afeto, não só pelos famosos, mas pelos desconhecidos que todos os dias semeiam, com suas atitudes, um mundo melhor de se viver. Pessoas que lutaram na sua juventude contra a ditadura, que seguiram lutando na vida adulta para melhorar o mundo para seus filhos. E que voltaram às ruas no domingo, para garantir um país com democracia para seus netos e bisnetos.

*Eliane Silveira é jornalista e licenciada em Ciências Sociais.

Imagem: ato em Copacabana contra a PEC da Blindagem e Projeto da Anistia – João Victor Rezende

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