Itamaraty vai abrir acervo digitalizado sobre apreensões de navios negreiros em 2026

Um acervo de 25.877 páginas, agora digitalizado pelo Itamaraty, traz detalhes de apreensões de navios negreiros feitas principalmente por militares ingleses entre 1815 e 1850. Os processos, julgados pelos tribunais da Comissão Mista Brasil–Grã-Bretanha, mostram a dinâmica brutal do tráfico de africanos para o Brasil. O material, que só poderá ser consultado fisicamente em 2026 (após restauração), ilumina episódios fundamentais da história da população negra no Brasil, dando nome, contexto e humanidade às vítimas do maior crime da nossa formação.

O acervo digital estará disponível em: atom.itamaraty.gov.br.

Como funcionava o sistema

Mesmo antes da Lei Eusébio de Queiroz (1850), tratava-se o tráfico como pirataria, com navios interceptados a partir de indícios como estoques excessivos de comida e água. Parte dos julgamentos ocorria em Serra Leoa, já que o tribunal no Rio era acusado de corrupção.

Histórias reveladas nos documentos

  • Duquesa de Bragança (1834): levava 277 africanos, 46 doentes, com registros de fome e falta de água.
  • Panquete de Bangela (1840): trazia 219 cativos, muitos com tatuagens com iniciais dos futuros compradores — marca de desumanização e controle.
  • Sociedade Feliz (1839): tentou rota alternativa pela costa da Libéria para fugir de patrulhas, mas foi apreendido e levado a julgamento.
  • Africano Oriental (1830): saiu de Lisboa rumo a Moçambique e ao Cais do Valongo com 376 pessoas; 116 morreram durante a travessia.

Portos além do Valongo

Os documentos indicam que o porto de Macaé também recebeu cativos destinados às lavouras de café, revelando outras rotas menos conhecidas da escravidão no país.

Fonte: Agência de Bibliotecas e Coleções Digitais – ABCD USP

Enviada para Combate por José Costa.

Gravura de Rugendas de 1835 mostra escravos a bordo de um navio negreiro. Arquivo Nacional.

 

 

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