Povo Kreepyn-Katejê teme ficar sem acesso a água potável na Terra Indígena Geralda/Toco Preto, no Maranhão

CIMI

Pela terceira vez em cinco meses, os indígenas do povo Kreepyn-Katejê foram à cidade de Itaipava do Grajaú, no Maranhão, manifestarem-se pela melhoria das estradas que dão acesso à Terra Indígena (TI) Geralda/Toco Preto. Atualmente, os indígenas são abastecidos de água potável por caminhões-pipa e, caso as estradas não sejam recuperadas, os indígenas temem ficar sem acesso à água, justamente no período de chuvas da região. O povo Kreepym-Katejê – mais conhecido como povo Timbira – também manifestou-se contra a discriminação que os indígenas têm sofrido no sistema de saúde do município.

A TI Geralda/Toco Preto vivem cerca de 350 pessoas do povo Kreepym-Katejê em três aldeias distintas. Na aldeia Sibirino, localizada a 30 Km da cidade de Itaipava do Grajaú, existe um único poço artesiano, perfurado pela Secretaria Especial de Atenção à Saúde Indígena (Sesai) em 2004. O problema é que desde que o poço foi colocado em funcionamento, a água que sai dele é salgada e imprópria para o consumo. Por isso, o abastecimento por caminhões-pipa é tão importante e, no momento, a única solução para que os indígenas não fiquem sem acesso à água potável.

“Estamos aqui enfrentando chuva e discriminação e nos manifestando porque a situação é complicada de verdade. Se não arrumarem as estradas de acesso à aldeia, o caminhão-pipa que nos abastece de água não vai poder passar e vamos ficar sem água”, afirma Fábio Timbira, uma das lideranças da aldeia Sibirino.

Segundo ele, o povo Kreepym-Katejê sofre bastante discriminação quando vai à cidade e quando manifesta-se por seus direitos. Na última vez, em novembro, quando os indígenas ocuparam a sede da prefeitura de Itaipava do Grajaú, o prefeito pediu oito dias de prazo para arrumar as estradas. “Esses oito viraram dezoito, que viraram trinta, e até hoje nada foi feito e a estrada só piora. O rio Grajaú, que agora está cheio, é muito poluído, passa por quatro cidades antes de chegar aqui. A água dele não é potável. Então, no momento, dependemos das estradas para termos água para beber”.

Na manifestação de novembro, os indígenas também exigiram da Sesai a construção de dois postos de saúde nas aldeias da TI Geralda/Toco Preto, a construção de um novo poço artesiano na aldeia Sibirino, a disponibilização de uma equipe multidisciplinar de saúde indígena numa base mais próxima e de um carro para que a comunidade tenha autonomia para se deslocar quando precisar de atendimento urgente. De todas as reivindicações, apenas o carro foi disponibilizado, segundo Fábio Timbira.

Os indígenas também relatam a constante ocorrência de situações de preconceito e discriminação quando buscam atendimento de urgência ou emergência no hospital da cidade. Jainara Kreepym conta que, em dezembro, o fogo que consumiu parte da TI Geralda/Toco Preto queimou a única ponte de ligação entre a aldeia e a cidade. Na ocasião, uma mulher indígena entrou em trabalho de parto e teve que ser levada de moto até o hospital.

Depois da viagem precária, segundo o relato da indígena, foi descoberto que o bebê estava numa posição que é contraindicada para a realização de parto normal, mas que, mesmo assim, os médicos teriam se negado a realizar a cesariana, submetendo a mãe a riscos desnecessários. “Depois do parto, os parentes quiseram visitar a mãe e o bebê, mas foram impedidos porque ‘não estavam usando calças’. Por que um indígena é obrigado a usar calças, se não se sente confortável assim?”, questiona Jainara. “Isso é comum, e nos sentimos discrminados e lesados em nossos direitos”.

Segundo Fábio Timbira, essa questão já foi discutida com o prefeito no primeiro dia de ocupação e o administrador municipal garantiu que a situação mudaria. Em relação às estradas, porém, os indígenas afirmam que não aceitam mais promessas. “Só vamos sair daqui depois que ele mandar descer as máquinas lá na estrada, quando vermos que as obras já começaram”, afirma a liderança.

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