Umbanda é declarada patrimônio imaterial do Rio de Janeiro

Isabela Vieira – Repórter da Agência Brasil

A tradição carioca de vestir branco no Ano-Novo, pular sete ondas e depositar flores no mar – as tradicionais palmas brancas vendidas nas esquinas de Copacabana na noite de 31 de dezembro – têm origem nas religiões de matriz africana. A umbanda, uma das percursoras desses rituais na mais famosa praia do Rio de Janeiro, foi declarada ontem (8) patrimônio imaterial, por sua contribuição à cidade.

Após estudos do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), o prefeito Eduardo Paes incluiu a religião na lista de patrimônios imateriais, por meio de decreto, ao lado de 54 bens, como a Bossa Nova, blocos de carnaval e a Procissão de São Sebastião – que é realizada todo início de ano. A ideia agora é cadastrar todos os terreiros de umbanda da cidade e promover políticas públicas de salvaguarda desses espaços.

O presidente do IRPH, Washington Fajardo, destaca a singularidade da umbanda, que se tornou um marco de sincretismo religioso e de organização comunitária nos bairros da cidade do Rio de Janeiro “Esse decreto vem institucionalizar o interesse cultural para que esse trabalho seja aprofundado”, disse. “Se não cabe o tombamento material, é um reconhecimento do valor deles como bem imaterial, que permite abrir uma linha de pesquisa nessa área. É um primeiro passo.”

O primeiro terreiro cadastrado pela prefeitura é a tenda Espírita Vovó Maria Conga de Aruanda, que funciona desde a década de 1960 em uma antiga casa no Estácio, na zona norte. As paredes cobertas de imagens de santos e orixás exibem fotografias das antigas festas dos praticantes de umbanda em Copacabana no último dia do ano. Com a transformação da réveillon carioca em um megaevento turístico, com shows e fogos de artifício, o ritual acabou inviabilizado e passou a ser feito há poucos anos no dia 2 de fevereiro.

“A prefeitura começou a criar muita dificuldade para gente passar com os barcos e presentes à Iemanjá em Copacabana e já tivemos até que entregar na Praia do Flamengo”, conta o presidente e zelador da casa, Roberto Brito de Souza. “Aí, decidimos fazer nossa caminhada em 2 de fevereiro mesmo, dia de Iemanjá, que já é comemorado em Salvador”, explicou.

Apoio e infraestrutura

A partir do registro da umbanda como patrimônio imaterial do Rio de Janeiro, o babalaó Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, espera apoio financeiro e de infraestrutura para as práticas religiosas do grupo, que fazem parte da vida cultural da cidade.

“Queremos que o novo prefeito [Marcelo Crivella, pastor licenciado da Igreja Universal] de fato apoie a preservação dessas manifestações”, disse. “O primeiro desafio é: vai ter apoio para festa de Iemanjá? Reconhecer a umbanda é reconhecer a importância que ela tem para ao Rio e para seus moradores.”

Outra expectativa dos praticantes de religiões afro no Rio é a reforma do local conhecido como Praça dos Pretos Velhos, em Inhoaíba, na zona oeste, que foi alvo de vandalismo.

Funcionando há meio século no Estácio, um dos bairros que reúnem dezenas de terreiros de umbanda, inclusive um na mesma rua, a Tenda Espírita Vovó Maria Conga procurou o IRPH para sair de um litígio. O dono do imóvel do terreiro cobra aluguel mais alto do que os religiosos podem pagar. A situação foi parar na Justiça, que pode obrigar a desocupação do terreiro.

Edição: Luana Lourenço

Foto: Tenda Espírita Vovó Maria Conga de Aruanda, no Estácio, foi a primeira instituição cadastrada no mapa de terreiros de umbanda da cidade do Rio de Janeiro – Tânia Rêgo/Agência Brasil

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