Carta de Maxalalagá

A elaboração da Carta de Maxalalagá foi uma iniciativa dos participantes da Semana Florestal, promovida pelo Instituto Estadual de Florestas – IEF, em 04 de outubro de 2016, realizado no auditório do IFMG, município de Itabirito, que em plenária, aprovaram – às vésperas do “Dia da Ave” – a presente Carta, destinada às autoridades municipais e solicitando a atenção da Promotora de Justiça, como forma de alerta e preocupação à existência de um grande número de projetos de lei tramitando na Câmara Municipal para mudar o Plano Diretor e a Lei de Uso e de Ocupação do Solo e que representam uma ameaça à preservação das áreas de campo nativo

Carta Maxalalagá

A maxalalagá (Micropygia schomburgkii) é uma diminuta ave pertencente à família Rallidae, da qual fazem parte as saracuras e os frangos-d’água. Contudo, apesar do seu estreito parentesco com estas aves paludícolas, que geralmente habitam brejos e alagados, a maxalalagá prefere áreas secas e com capim nativo, principalmente os campos típicos do bioma Cerrado. Devido ao seu pequeno tamanho – mede apenas 15 cm – e hábitos crípticos, é uma ave raramente vista, passando facilmente despercebida na paisagem, uma vez que a maneira mais fácil de realizar sua identificação é através do seu canto característico. Talvez por isso tenham se passado tantos anos sem que ninguém notasse sua presença na região de Itabirito. Em Minas Gerais, esta ave era conhecida somente das regiões do Triângulo Mineiro e da Serra da Canastra, e apenas recentemente (2012) foi descoberta no Quadrilátero Ferrífero.

Ultimamente, tem crescido o número de registros da maxalalagá nesta região, um fato animador, tendo em vista que a espécie é considerada “em perigo” de extinção no estado de Minas Gerais. Estes novos registros podem ter relação com o aumento do conhecimento da biologia e vocalização da espécie por parte dos biólogos, como também pode refletir um aumento da atenção dada aos campos nativos de Cerrado, originalmente negligenciados – a maior parte da população vê tais áreas como meros pastos – e que tem se tornado cada vez mais raros e ameaçados no Quadrilátero Ferrífero, a despeito do seu comprovado valor ecológico. Não somente a maxalalagá habita tais campos, como inúmeras outras aves ameaçadas de extinção e extremamente raras na região, como o tico-tico-de-máscara-negra (Coryphaspiza melanotis), o caminheiro-grande (Anthus nattereri), o papa-moscas-do-campo (Culicivora caudacuta), a corruíra-do-campo (Cistothorus platensis), além de mamíferos como o logo-guará (Chrysocyon brachyurus) e a raposinha (Lycalopex vetulus).

Dentre as áreas que ainda possuem remanescentes relevantes de campos nativos (i.e. campos limpos, campos sujos e cerrado ralo) no município de Itabirito, destacam-se a Estação Ecológica Estadual de Arêdes (EEE Arêdes) e o Monumento Natural Estadual da Serra da Moeda (MNE Serra da Moeda). Embora estas unidades de conservação ainda possuam algumas áreas importantes para a conservação das espécies supracitadas, as pressões antrópicas do entorno tem crescido em tons alarmantes. A expansão urbana desordenada e a forte presença de mineradoras na região são uma grande ameaça para a sobrevivência das aves e demais animais associados a este tipo de vegetação que está desaparecendo rapidamente. Não fosse o bastante, em tempos recentes tem surgido uma nova ameaçada para os campos de Cerrado no entorno da EEE Arêdes e MNE Serra da Moeda: a Silvicultura. Diversos plantios de eucaliptos (Eucalyptus sp.) tem surgido na área de forma desordenada e a uma velocidade impressionante, sem qualquer tipo de planejamento e licenciamento. A substituição dos campos nativos por eucaliptais diminui o habitat disponível para as espécies e impede o deslocamento das mesmas entre os fragmentos remanescentes, podendo gerar a extinção local de diversas populações. Estas atividades devem ser vistas com extrema cautela e alvo de melhor planejamento no futuro, visando à conservação dos animais e habitats tão ameaçados que ocorrem no entorno da EE Arêdes e do MNE Serra da Moeda. Assim, as gerações futuras poderão lembrar da maxalalagá como um símbolo de preservação da região, e não como mais uma espécie que entrou para a lista das extintas.

Imagem: Avanço desordenado dos plantios de eucalipto (Eucalyptus sp.), indicados pelas setas amarelas, no entorno da Estação Ecológica Estadual de Arêdes, Itabirito, MG. Fonte: Google EarthTM.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Alenice Baeta.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

17 − seis =