E quando Malafaia será chamado a depor por incitar ódio e intolerância?, por Leonardo Sakamoto

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Quando Marcelo Crivella ganhou as eleições no Rio de Janeiro, neste ano, o pastor Silas Malafaia avacalhou, no Twitter, com o Globo, a Veja, o PT, o PSOL, o candidato derrotado Marcelo Freixo, a esquerda e bradou um ”Chora Capeta” – assim mesmo, sem vírgula separando o vocativo.

Mas não foi a primeira, nem a última vez que ele surtou. Em outra ocasião, disse que iria “funicar” (sic), “arrombar” e “arrebentar” o então presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, Tony Reis. Ficou insatisfeito por conta de um de seus discursos ter sido usado em um vídeo que discute a violência contra homossexuais.

Também prometeu ”arrebentar” Fernando Haddad, então candidato à Prefeitura de São Paulo, em 2012, por conta do material didático anti-homofobia que seria distribuído às escolas pelo Ministério da Educação (e bloqueado pelo governo Dilma Rousseff após críticas da bancada de religiosos no Congresso Nacional).

Silas Malafaia já propôs campanha de boicote a uma rede de perfumes por usar casais homossexuais em uma campanha para o Dia dos Namorados (”Quero conclamar as pessoas de bem a boicotar os produtos dessas empresas, como O Boticário. Vai vender perfume para gay!”). Isso sem contar as vezes que foi para cima de jornalistas – até que encontrou um Ricardo Boechat pela frente, que lhe deu uma forte e inesperada resposta.

O líder da Igreja Vitória em Cristo é conhecido por essas e tantas outras declarações polêmicas. Seus discursos, não raras vezes, ultrapassam o limite da responsabilidade, confundindo liberdade religiosa e de expressão com uma guerra intolerante de ódio à diferença.

Lembrei de vários casos envolvendo-o ao ver que, na manhã desta sexta (16), a Polícia Federal expediu um mandado de condução coercitiva, no âmbito da Operação Timóteo (sim, o personagem bíblico) para que ele prestasse depoimento. A investigação apura envolvimento de uma igreja sob sua influência na ocultação de valores de origem ilícita.

Seria leviano dizer que ele é culpado nesse esquema, pois a investigação está em curso. Até que se prove o contrário, ele é inocente neste caso. Condenar antecipadamente alguém da qual discordamos ideologicamente é bizarro. Mas, para muita gente, não importam os fatos, mas sim sua crença e seu desejo.

Portanto, este texto não é sobre a operação da PF. Mas sobre crença e desejo. Em uma postagem que ele fez ao comentar a operação da PF para os seus mais de 1,31 milhão de seguidores no Twitter, afirmou que essa é uma ”tentativa de desmoralizá-lo na opinião pública”.

Disso, discordo frontalmente. Não apenas pelo fato de ”opinião pública” não existir – o que existe são opiniões de diversos públicos que compõem a sociedade, de seus fiéis aos seus opositores. Mas porque é ele mesmo quem mais se empenha em se desmoralizar diante de uma boa parcela da sociedade por sua verborragia violenta do dia a dia.

Malafaia sempre reclama de intolerância religiosa, mas, na verdade, quer o direito de poder continuar atacando aqueles ou aquelas cuja vida e ideias não batem com sua interpretação distorcida das palavras de um livro sagrado, na qual um barbudo legal (Jesus, não Marx) pregava paz e tolerância.

Como já disse aqui, líderes religiosos dizem que não incitam a violência. Mas não são suas mãos que seguram a faca, o revólver ou a lâmpada fluorescente, mas é a sobreposicão de seus argumentos e a escolha que faz das palavras ao longo do tempo que distorce a visão de mundo dos fiéis e torna o ato de esfaquear, atirar e atacar banais. Ou, melhor dizendo, “necessários”, quase um pedido do céu. Suas ações alimentam lentamente a intolerância, que depois será consumida pelos malucos que fazem o serviço sujo.

Afirmando que sua igreja não recebeu dinheiro ilegal e reclamando da condução coercitiva para depor, ele questionou: ”Será que a Justiça não tem bom senso?” Nisso, concordamos.

Afinal, apesar das tantas vezes em que ele agrediu a dignidade humana, Silas segue incitando pessoas contra pessoas. Será que a Justiça não tem bom senso?

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