Irmã Delminda: Guerreira na luta pela vida dos povos

CIMI

Minda, Delminda, “mãe véia”. Assim ela era conhecida entre os povos indígenas e entre seus companheiros de caminhada. E foram muitas as caminhadas, as lutas, as esperanças partilhadas e as utopias que esta guerreira ajudou a semear nos espaços em que atuou, como missionária e como militante. Ela trabalhou incansavelmente, e durante muitos anos, na defesa dos direitos dos povos indígenas, e foi exemplo de conduta respeitosa, solidária e comprometida com a vida, com a saúde e com a dignidade da pessoa humana em todas as suas dimensões, nos muitos lugares por onde passou.

Ir. Delminda é lembrada por seus gestos simples, por suas palavras afetuosas, por sua preocupação com a valorização dos saberes tradicionais e com as práticas ligadas à saúde popular e à medicina alternativa.

Neste dia 8 de janeiro ficamos muito tristes com a notícia de sua morte, em decorrência de uma embolia pulmonar e, conseqüente, parada respiratória. Perdemos, neste dia, uma grande companheira de luta, firme em suas convicções e serena na maneira de defende-las, expressão da sabedoria adquirida em anos de atuação e em um amor infinito pelos mais necessitados.

Ir. Delminda fez o curso de formação básica do CIMI na década de 1970, atuando neste período na terra Indígena Xapecozinho/SC. Em seguida, dedicou sua ação missionária nos primeiros acampamentos dos trabalhadores rurais sem terra, em Abelardo Luz. A partir dos anos 1990 ela passou a atuar do modo exclusivo junto aos povos indígenas, consagrando a eles sua vida, especialmente através da Pastoral Indigenista, Pastoral da Criança e Pastoral da Saude.

Durante as celebrações e homenagens prestadas à ela, os indígenas de modo comovente lembraram o quanto a  ”mãe veia” foi importante para as comunidades onde ela dedicou-se sempre de forma comprometida e engajada na vida das pessoas. Ela foi, no entender das lideranças uma mulher guerreira, que mesmo quando esteve com a saúde debilitada não media esforços para que todos, mas especialmente as crianças, pudessem ter uma melhor qualidade de vida.

Ela foi homenageada por algumas lideranças indígenas nos seguintes termos:

“Perdemos uma grande mulher. Um ser humano maravilhoso, caráter invejável que amava incansavelmente a causa indígena. Os povos indígenas estão de luto”. (Luciana, da Terra Indígena Xapecozinho)

“Conhecemos a Ir. Delminda há muitos anos. Admirávamos a capacidade de trabalhar junto com as comunidades. E agora, recebemos a notícia que Deus a chamou. Com certeza preparou para ela um lugar muito especial, lá no céu”. ( Darci Alves, da Terra Indígena Toldo Pinhal).

“Seus mais de 30 anos dedicados à causa indígena não serão em vão!!! Voluntária na Pastoral da Criança, ela deixará legado!!! A atitude guerreira dedicada à melhoria da qualidade de vida; A longa busca pelo bom uso da natureza; A promoção dos direitos que identificam, nós, os indígenas, junto a uma sociedade cada vez mais discriminatória. Tudo isso era defendido por essa guerreira. Descanse em paz Irmã Delminda Lara Cardozo”. (Adroaldo Fidélis da Terra indígena Toldo Pinhal).

“Irmã Delminda foi uma pessoa que dedicou sua vida pela causa indígena, com seu dom de conseguiu plantar amor, dedicação e muita paz,  foi um escudo brilhante no meio do povo indígena, nunca mediu esforço para estar conosco,  sempre alegre,  feliz, fez com que muitas mulheres indígenas se tornassem independente e buscar seu potencial tanto familiar como profissionalmente. Uma dessas pessoas  sou eu,  com capacidade de enfrentar a vida.  Delminda foi,  e sempre será nossa protetora e nossa ‘mãe veia’  que merece nossa admiração pela pessoa maravilhosa que foi pra todos nós…uma guerreira que sempre defendeu os direitos dos Povos Indígenas. ETERNA IRMÃ DELMINDA.  (Cleusa Rodrigues, Terra Indígena Toldo Chimbangue)

“Enorme perda da irmã  Delminda… uma verdadeira guerreira  da cauda indígena  e das mulheres indígenas em especial. Sempre nos incentivando… devo muito a essa grande guerreira,  porque foi ela que me deu o apoio quando eu ingressei  na faculdade. … quando as dificuldades vinham ela estava sempre do meu lado, me apoiando, e me dando uma palavra de ânimo…… até breve minha heroína, minha mãe, minha amiga…  estou sem chão  no momento, mais sei que ela vai me dar forças  pra prosseguir em frente. Seus ensinamentos levarei sempre comigo….. descanse em paz minha mãe! Vc foi carregada por anjos e colocada no lugar mais Belo de todos, uma flor para enfeitar os jardins do céu”. (Ediane da Silva,  Pinhalzinho , Terra indígena Xapecozinho)

“Eu não sabia ler  e nem escrever. Você pediu para mim: você vai ser catequista e liderança da Pastoral da Criança e lutar com seu povo na sua comunidade. Fui , estou aqui na sua frente. As plantas que me destes, lembra naquele encontro de lideres? cresceram…estão dando frutos.. varias lideranças…..te amamos…e vamos te amar para sempre! (Eloir, baixo Samburá – terra Indígena Xapecozinho)

“Que pena….Guerreira incansável! Aprendi muito com ela. (João Maria Roque, Terra Indígena Paiol de Barro)

Delminda foi uma pessoa alegre, simples, companheira e sonhadora. Ao conceber a morte como passagem, temos a certeza de que seu exemplo ficará, assim como seus ensinamentos e sua luta para que as comunidades indígenas vivam com dignidade, tenham seus direitos garantidos, em especial o direito aos seus territórios.

O Conselho Indigenista Missionário, Regional Sul, solidariza-se com os  familiares  de Delminda e com a Congregação das Irmãs Franciscanas de Maria Auxiliadora. Temos a certeza que Ir. Delminda já esta com Topé e com todos aqueles que dedicaram suas vidas à justiça e ao bem viver.

Conselho Indigenista Missionário – Regional Sul
Chapecó, 09 de janeiro de 2017

Foto: Congregação das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria Auxiliadora

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